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SBOC REVIEW

Efeito da duração da quimioterapia adjuvante para pacientes com câncer de cólon EC III (Colaboração IDEA): resultados finais da análise combinada de seis estudos de fase 3 randomizados e prospectivos

Resumo do artigo:

O benefício das fluoropirimidinas no tratamento adjuvante do câncer colorretal (CCR) foi estabelecido há décadas. A combinação de fluoropirimidinas com a oxaliplatina foi incorporado à prática clínica após publicação de estudos comparando FOLFOX / CAPOX a fluoropirimidinas em monoterapia com benefício consistente porém proporcionalmente inferior se comparado da fluoropirimidinas somente. O efeito colateral mais relevante da oxaliplatina é a neuropatia periférica. A neuropatia periférica relacionada a oxaliplatina é caracterizada por hiperestesia transitória relacionada a frio após infusão desta medicação e também por uma neuropatia crônica tardia relacionada à dose acumulada recebida. Esta neuropatia tardia pode persistir por tempo prolongado em alguns pacientes e estar relacionada a alteração sensitiva.

Baseado na possibilidade de neuropatia persistente relacionada ao uso de Oxaliplatina, foi estabelecida uma colaboração global para investigação quanto ao tempo de tratamento adjuvante em pacientes com CCR estadio clínico III. Esta colaboração incluiu seis estudos clínicos independentes (SCOT, TOSCA, IDEA, CALBG/SWOG 80702, ACHIEVE e HORG) conduzidos em 12 países, com um total de 12834 pacientes analisados de forma individual. O objetivo era avaliar a não inferioridade de 3 meses versus 6 meses de FOLFOX / CAPOX.

Quando apresentado na ASCO 2017, a análise inicial deste estudo não demonstrou a não inferioridade para o desfecho primário de sobrevida livre de doença (SLD) em 3 anos de 3 versus 6 meses de FOLFOX / CAPOX adjuvante. No entanto, uma avaliação pré planejada de acordo com o regime de tratamento utilizado revelou uma diferença entre eles. Para os que receberam CAPOX (39,5% dos pacientes incluídos), o tratamento mais longo não adicionou benefício, com a não inferioridade demonstrada, ao passo que 6 meses de FOLFOX (60,5% dos pacientes incluídos) ofereceu pequeno incremento em SLP comparado a 3 meses, e a não inferioridade não foi demonstrada. Não era possível, baseado no desenho do estudo, a comparação entre um regime e outro (FOLFOX vs CAPOX).

Nesta publicação do Lancet Oncology de dezembro de 2020, os dados atualizados de sobrevida global e sobrevida livre de doença foram apresentados com mediana de seguimento além de 5 anos. Os resultados de SLD de 3 versus 6 meses de tratamento foram semelhantes ao previamente apresentado, com a não inferioridade não comprovada. A sobrevida em 5 anos foi 82,4% (95% IC 81,4–83,3) para quem recebeu 3 meses de tratamento e 82,8% (81,8–83,8) para 6 meses (HR 1,02 [95% IC 0,95–1,11]. Analisando por esquema recebido, a sobrevida em 5 anos foi 82,1% e 81,2% para 3 e 6 meses de CAPOX respectivamente, e 82,6% e 83,8% para FOLFOX.

 

Effect of duration of adjuvant chemotherapy for patients with stage III colon cancer (IDEA collaboration): final results from a prospective, pooled analysis of six randomised, phase 3 trials. Thierry André et al, Lancet Oncol. 2020 Dec;21(12):1620-1629 DOI: https://doi.org/10.1016/S1470-2045(20)30527-1.
Efeito da duração da quimioterapia adjuvante para pacientes com câncer de cólon EC III (Colaboração IDEA): resultados finais da análise combinada de seis estudos de fase 3 randomizados e prospectivos.

 

Comentário da avaliadora científica:

Desde a sua apresentação em 2017, este estudo levou a múltiplos debates quanto a melhor forma de tratar os pacientes com CCR EC III. Apesar da não inferioridade para o tratamento mais curto não ter sido demonstrada, as diferenças em SLP e SG foram mínimas entre os subgrupos, com diferença absoluta de 0,4% na sobrevida global em 5 anos, sendo esta diferença clinicamente não relevante, especialmente frente ao potencial efeito adverso do tratamento.

Como possíveis explicações para diferenças encontradas entre os regimes, se considerou a maior exposição inicial a oxaliplatina oferecida pelo esquema CAPOX. No entanto, há que se considerar que esta combinação tende a ser mais toxica e não é tolerada por todos os pacientes, além do potencial dificuldade em se fazer oxaliplatina na veia periférica, que seria o maior benefício do uso de capecitabina.

Frente aos dados descritos acima, considero aceitável oferecer 3 meses de tratamento com CAPOX tanto para pacientes no grupo de baixo (T1-3 e N1) e alto risco (T4 e/ou N2). Por outro lado, com o uso de FOLFOX a diferença entre 3 e 6 meses foi de 0,3% para baixo risco, mas 2,8% para o grupo de alto risco, favorecendo o uso mais prolongado do tratamento no último subgrupo caso CAPOX não seja uma opção.

Por fim, provavelmente não teremos a condução de um segundo trabalho com esta mesma magnitude e os autores merecem grande reconhecimento por isso e pelo estabelecimento de uma colaboração global.

 

Avaliadora científica
Dra. Maria Ignez Braghiroli, MD
Oncologista clinica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – FMUSP – e Rede D’Or São Paulo;
Advanced Fellowship tumores gastrointestinais pelo Memorial Sloan Kettering – NY;
Membro do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais - GTG;
Secretária-geral da atual diretoria da SBOC.