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SBOC REVIEW

Efeito de carboplatina e paclitaxel adjuvante na sobrevida de mulheres com câncer de mama triplo negativo. Ensaio clínico randomizado fase 3

Resumo do artigo:

O estudo se propõe a verificar se a adição de carboplatina a um esquema adjuvante para câncer de mama triplo negativo pode trazer melhores desfechos clínicos, como verificado previamente no cenário metastático e neoadjuvante.

As 647 pacientes com mediana de 51 anos já operadas foram randomizadas 1:1 exclusivamente em centros chineses para receber ou carboplatina AUC 2 + paclitaxel 80mg/m2 D1, D8, D15 a cada 4 semanas por 6 ciclos (PCb) ou fluorouracil 500mg/ m2 + epirrubicina 100mg/ m2 + ciclofosfamida 500mg/ m2 por 3 ciclos a cada 3 semanas seguido de docetaxel 100m/ m2 por 3 ciclos a cada 3 semanas (ECF-T).

Cerca de 55% das pacientes apresentavam estadiamento pT1, 75% pN0, 10% eram BRCA1/2 mutadas (BRCAm) e 18% apresentavam mutações em genes de reparo por recombinação homóloga (HRD).

Após 62 meses de seguimento mediano o desfecho primário de sobrevida livre de doença foi atingido, 86,5% vs 80,3%, HR 0,65, p 0,03. Em relação a sobrevida global em 5 anos, desfecho secundário, a diferença de 93,4% para 89,8% não foi significativa (HR 0,71, p 0,22). O hazard-ratio comparando o efeito entre as BRCAm ou HRD contra a população controle foi de maior magnitude (0,44 e 0,39, respectivamente), mas sem significância estatística.

Os eventos adversos não fugiram do esperado com estes protocolos já amplamente estudados.

 

Effect of Adjuvant Paclitaxel and Carboplatin on Survival in Women With Triple-Negative Breast Cancer. A Phase 3 Randomized Clinical Trial. Yu KD, et al. JAMA Oncol. 2020;e202965.

Efeito de Carboplatina e Paclitaxel Adjuvante na Sobrevida de Mulheres com Câncer de Mama Triplo Negativo. Ensaio Clínico Randomizado Fase 3

 

Comentário do avaliador científico:

Este ensaio clínico (PATTERN trial) é o primeiro que avalia o efeito de carboplatina no cenário adjuvante para tumores de mama triplo negativo. Os estudos anteriores avaliaram sua eficácia principalmente em pacientes metastáticas ou no cenário neoadjuvante, mostrando que quando utilizada em primeira linha, as platinas costumam desempenhar de maneira semelhante ou até melhor em relação aos esquemas padrão, e na neoadjuvância tendem a apresentar maiores taxas de resposta patológica e desfechos clínicos mais favoráveis, especialmente naquelas com BRCA1/2 mutado. 

O esquema adjuvante do grupo controle é um protocolo já menos utilizado, pois novas evidências surgiram desde o início do recrutamento deste ensaio clínico (2011), como a utilização das antraciclinas (e até taxanos) em dose densa e também o paclitaxel semanal. Capecitabina também não era permitido de acordo com o protocolo.

Como esperado de um estudo adjuvante de câncer de mama, a população é composta de tumores com estadiamento mais inicial, uma vez que é rotina realizar o tratamento neoadjuvante naquelas de maior risco, e isso se traduziu em uma população composta principalmente por mulheres com tumores menores de 2cm e com axila negativa.

Quanto mais inicial o estadiamento da doença, menor o benefício da quimioterapia em termos absolutos e menos óbitos acontecerão no seguimento. Apesar do HR de 0,71 (95% IC, 0,42-1,22) para sobrevida global, o baixo número de eventos (23 vs 31 mortes) não permite tirar conclusões significativas. No entanto, para sobrevida livre de doença os resultados foram mais animadores, com benefício absoluto de 6,4% e com p<0,05.

A análise genética para mutações nos genes BRCA1/2 e outros genes de reparo por recombinação homóloga foi realizada apenas em material germinativo e aproximadamente 20% das pacientes ficaram com o status desconhecido por dificuldades na realização do exame. Os genes mais comumente mutados (frequência >1%) nas pacientes com HRD foram RAD51D, PALB2, RAD51C e BRIP1 em ordem descrescente. As mutações foram pesquisadas por um painel via whole-exome sequencing e validadas por métodos de Sanger.

De fato, o efeito da platina nas pacientes com mutações germinativas nestes genes pareceu trazer um benefício maior conforme mostrado pelos HRs acima no resumo do artigo, mas a população de BRCA1/2 mutadas e HRD não-BRCA foi de cerca de 30 mulheres por grupo. A população inexpressiva combinada com a baixa taxa de eventos permite mais formular hipóteses do que tirar conclusões.

Não há como negar que as platinas aparecem cada vez mais nas prescrições dos oncologistas tanto no cenário neo como adjuvante, e, apesar das ressalvas acima, este é mais um estudo mostrando a eficácia da platina na população com câncer de mama triplo negativo, especialmente naquelas com algum tipo de mutação em genes de reparo, assim como é mais um estudo mostrando a segurança da omissão das antraciclinas nos tumores mais iniciais. O conjunto de dados que o PATTERN trial oferece traz mais crédito a esta nova conduta e gera mais confiança que esta linha de estudos gerará progressivamente mais benefício conforme os biomarcadores forem evoluindo.

 

Avaliador científico:

Dr. Rafael Balsini Barreto 

Residência em oncologia clínica pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP/USP)

Oncologista da clínica SOMA e do CEPON (Florianópolis/SC)