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SBOC REVIEW

Efeito de programa de atividade física domiciliar e de perda de peso em linfedema relacionado a câncer de mama em pacientes sobreviventes de câncer de mama e com sobrepeso. Estudo clínico randomizado WISER

Resumo do artigo:
O linfedema relacionado ao tratamento curativo do câncer de mama é uma sequela comum, com incidência cumulativa de 50% em estudos envolvendo esvaziamento axilar. O desenvolvimento e aprimoramento de técnicas cirúrgicas, como a pesquisa de linfonodo sentinela, permitiu reduzir o risco dessas pacientes desenvolverem linfedema, mas até o momento, não eliminou essa complicação. Características clínicas como o sobrepeso estão associadas a maior incidência de desenvolvimento de linfedema pós-tratamento, e estudos que tentaram avaliar o efeito da perda de peso trouxeram resultados conflitantes.

O estudo WISER, de autoria de Schmitz e colaboradores, avaliou o efeito de perda de peso e de atividades físicas domiciliares em melhora do linfedema. Trata-se de um estudo fatorial 2 x 2, randomizado, que incluiu 351 pacientes com diagnóstico de linfedema relacionado ao câncer de mama, livres de neoplasia, com intervalo de seis meses ou mais do tratamento oncológico e com IMC entre 25 e 50. Os pacientes foram divididos em quatro grupos: controle (faziam uso de luvas de compressão e acompanhamento com terapeuta especialista em linfedema), grupo de atividade física domiciliar, grupo de perda de peso e grupo das duas intervenções combinadas. O desfecho primário foi a diferença porcentual do volume do braço acometido um ano após o início do seguimento, e outros desfechos avaliados foram características clínicas do linfedema, sintomas relatados pelo paciente e perda de peso. Os pacientes alocados nos grupos de perda de peso (-7,37%) e intervenções combinadas (-8,06%) apresentaram maior perda de peso em relação aos outros dois grupos (-0,55% no grupo controle e -0,44% no grupo de atividade física domiciliar). Os pacientes alocados nos grupos com atividade física domiciliar tiveram 72% de aderência ao programa. Como resultado, esse estudo não encontrou diferença entre nenhum grupo de pacientes, em qualquer comparação entre eles, em relação a nenhum dos desfechos avaliados. Também não foram diferentes em relação à piora do linfedema ou surgimento de celulite.

 

Effect of home-based exercise and weight loss programs on breast cancer-related lymphedema outcomes among overweight breast cancer survivors. The WISER Survivor Randomized Clinical Trial. Schmitz KH et al. JAMA Oncology 2019 Aug 15
Efeito de programa de atividade física domiciliar e de perda de peso em linfedema relacionado a câncer de mama em pacientes sobreviventes de câncer de mama e com sobrepeso. Estudo clínico randomizado WISER.

 

Comentários do editor:
- O resultado desse estudo vai em desencontro com achados observacionais prévios de que perda de peso poderia reduzir linfedema. Também é discordante do achado no estudo PAL, que mostrou redução da ocorrência de linfedema com a implementação de atividade física.

- Certamente, um dos pontos mais fracos desse estudo é que os pesquisadores modificaram o desfecho primário durante sua realização. Inicialmente, haviam planejado avaliar eventos clínicos relacionados ao linfedema (celulite e exacerbação do linfedema), mas modificaram para a diferença porcentual do membro, pois precisaram reduzir a amostragem por questões de financiamento.

- A aferição da medida usada no estudo não tem validação e confiabilidade, e o tempo de seguimento de 12 meses pode ser curto para tal avaliação.

- Apesar de haver recomendações de organizações de combate ao linfedema para controle de peso e realização de atividade física, esse estudo não foi capaz de corroborar tais indicações. Mesmo assim, a recomendação de atividade física e perda de peso tem outras implicações em saúde em geral, e aparentemente não prejudica quadros de linfedema relacionados ao tratamento de câncer de mama.


 

Editor:
Dr. Fabiano de Almeida Costa
Membro da SBOC; Especialista em Oncologia Clínica pela Santa Casa de Belo Horizonte; Oncologista do Grupo de Câncer de Mama do Instituro do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP); Coordenador do Núcleo de Tumores Torácicos do COE/INCON.

 

Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.