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SBOC REVIEW

Efeito do rastreamento mamográfico a partir dos 40 anos na mortalidade pelo câncer de mama: resultados finais de ensaio clínico, randomizado e controlado

Resumo do artigo:

O artigo descreve a atualização do ensaio clínico previamente publicado o qual analisou o efeito do rastreio com mamografia a partir dos 40 anos de idade na mortalidade por câncer de mama. O estudo iniciou o recrutamento a partir de abril de 1992 até setembro de 1997 e randomizou 2 grupos com intervenção (mamografia a partir dos 40 anos de idade) e controle com rastreamento a partir dos 50 anos de idade na proporção de 1:2 respectivamente. De forma multicêntrica, avaliou os dados de 23 centros na Grã-Bretanha com um total de 160.921 pacientes incluídas no estudo e análise. No grupo de intervenção um total de 53.883 mulheres (33,5%) e no grupo controle um total de 106.953 (66,5%). Dessas pacientes, 150.909 (93,8%) completaram 20 anos de acompanhamento, 38.988(24,2%) 24 anos de acompanhamento e 9.605 (5,9%) 25 anos de acompanhamento (com proporções relativas iguais nos dois grupos). As mulheres foram acompanhadas por uma média de 22,8 anos (IQR 21,8–24,0). O desfecho primário foi a avaliação da mortalidade pelo câncer de mama no período analisado. Os desfechos secundários foram a avaliação da mortalidade por todas as causas, mortalidade por outras causas exceto câncer de mama e incidência do câncer de mama.

Os resultados da análise final demonstraram uma redução significativa na mortalidade por câncer de mama em 10 anos de acompanhamento, com 83 mortes por câncer de mama no grupo de intervenção versus 219 no grupo de controle (RR 0.75 [IC 95% 0.58–0.97]; p = 0,029) - redução substancial e significativa na mortalidade por câncer de mama, da ordem de 25%, associada a mamografia anual entre 40 e 49 anos nos primeiros 10 anos. Não foi observada redução significativa na mortalidade após o período de 10 anos, apesar do benefício mostrar-se constante quando analisadas as curvas de mortalidade - 126 mortes no grupo de intervenção contra 255 mortes no grupo controle (0.98 [0.79–1.22]; p = 0.86). A diferença absoluta na mortalidade por câncer de mama foi de 0,6 mortes por 1000 mulheres convidadas para triagem a partir dos 40 anos. Em outras palavras a cada 1667 mulheres convidadas para triagem aos 40 anos, com média de 69% de adesão, seriam necessárias 1150 mulheres para prevenir uma morte por câncer de mama. A mortalidade por outras causas foi semelhante entre os grupos (1.02 [0.97–1.07]; p=0·43). Verificou-se significativa redução da mortalidade por qualquer causa em mulheres com câncer de mama no grupo da intervenção, com 418 mortes versus 928 mortes no controle (RR 0.87 [95% CI 0.77–0.98]; p = 0.024). Além disso observou-se aumento na incidência de câncer in situ no grupo da intervenção o qual foi considerado insignificante ao final do seguimento pelos autores. A redução da mortalidade foi observada principalmente no grupo de cânceres de baixo grau (grau 1 e 2) enquanto não foi observada diferença nos tumores de maior grau (grau 3). Assim observou-se o benefício nos primeiros 10 anos nos quais de fato as mortes foram prevenidas após a intervenção como verificado em outros programas de rastreamento (ex: rastreio para câncer de pulmão). Os autores discorrem sobre algumas características de potencial equívoco na interpretação do estudo como, a semelhança na incidência de sobrediagnóstico (excesso de diagnósticos) entre os grupos, o período no qual foi feita a avaliação em relação aos dias atuais com a melhoria na eficácia do tratamento adjuvante, além do método de mamografia menos acurado da época (única incidência e papel filme). Concluíram então que estudos mais acurados com a atual melhor técnica radiológica e maior efetividade de tratamento adjuvante são necessários para confirmação do benefício do rastreamento a partir dos 40 anos.

 

Effect of mammographic screening from age 40 years on breast cancer mortality (UK Age trial): final results of a randomised, controlled trial. Stephen W Duffy et al. Lancet Oncol 2020; 21:1165-72.
Efeito do rastreamento mamográfico a partir dos 40 anos na mortalidade pelo câncer de mama: resultados finais de ensaio clínico, randomizado e controlado.

 

Comentários do avaliador científico:

- A análise demonstrou benefício e redução da mortalidade em 25% por câncer de mama para a população avaliada nos primeiros 10 anos de seguimento, no qual as mortes seriam prevenidas. A partir desse período não houve ganhos significativos.

- Como potenciais equívocos identifica-se a menor acurácia diagnóstica com o método empregado à época, além de tratamento adjuvante menos eficaz. Talvez os resultados sejam insuficientes para modificarmos a conduta atual preconizada pela OMS (Organização Mundial de Saúde – rastreamento a partir dos 50 anos).

- O ganho na redução da mortalidade se deu principalmente a partir dos cânceres de baixo grau. Estudos atuais demonstram que o sobrediagnóstico é uma realidade presente no rastreamento com mamografia. Segundo a literatura, a redução da mortalidade ocorre principalmente pela combinação de diagnóstico precoce associado a terapia eficaz. No Brasil ainda encontramos um contexto de rastreamento oportunista (não há programas efetivos de rastreio associado a direcionamento terapêutico precoce).

 

Avaliador científico:
Dr. Marcos Benini Magario
Oncologista clínico do Instituto de Tratamento do Câncer - MS
Doutorando do programa de pós-graduação da USP – HCRP