Instalar App SBOC


  • Toque em
  • Selecione Instalar aplicativo ou Adicionar a lista de início

SBOC REVIEW

Efeitos do uso de Capecitabina em menor dose e maior frequência versus Observação na Sobrevida Livre de Progressão de Pacientes com Câncer de Mama Triplo Negativos Estágio Inicial que receberam Tratamento Padrão

Resumo do artigo:

Estudo aberto, multicêntrico, randomizado de fase III com recrutamento entre abril de 2010 a dezembro de 2016, com objetivo de comparar o uso de capecitabina de manutenção após tratamento padrão em pacientes com Câncer de Mama Triplo Negativo (CMTN) em estágio inicial. O desfecho principal foi avaliar a Sobrevida Livre de Progressão (SLP) em 5 anos e os desfechos secundários, Sobrevida Global (SG), recorrência locorregional e efeitos adversos.

Foram elegíveis mulheres com tumores invasivos de mama receptores hormonais e ERBB2 negativos, estágios entre T1b-3 N0-3 cM0, sem evidência de acometimento linfonodal supraclavicular ou de cadeia mamária interna. As pacientes deveriam ter recebido tratamento padrão cirúrgico (mastectomia ou cirurgia conservadora); quimioterapia adjuvante ou neoadjuvante e radioterapia.

Houve a randomização 1:1 para o grupo da intervenção que recebeu capecitabina 650 mg/m2 2 vezes ao dia contínuo por um ano e o grupo controle (observação).

Para análise estatística foram estimados 109 eventos (recidiva ou óbito) em 5 anos para um poder estatístico de 80%. Porém, o número de eventos esperado foi um pouco abaixo do projetado, de 94 eventos, entretanto não prejudicou a análise estatística do estudo. Foram realizadas análises exploratórias de subgrupos em relação à idade, tamanho do tumor, acometimento linfonodal, invasão linfovascular, Ki67% e regimes de quimioterapia.

Após o seguimento de 61 meses foram observados 94 eventos. No grupo da capecitabina foram 38 eventos com 32 óbitos e no grupo da observação foram 56 eventos, sendo 40 óbitos. O desfecho primário de 5 anos de SLP versus observação foi de 82,8% x 73% (RR recorrência ou morte de 0,64 [IC 95% 0,38-0,92]; p:0,02). Sobrevida global de 85,5% x 81,3% (RR de morte de 0,75 [IC 95% 0,47-1,19]; p:0,22). Risco de recorrência locorregonal 85% x 80,8% (RR de recorrência locorregional ou morte de 0,72 [IC 95% 0,46-1,13]; p:0,15).

Nas análises exploratórias dos subgrupos podemos observar que o efeito da capecitabina foi na SLP ocorreu em todos os subgrupos. Porém foi ainda mais expressiva nas pacientes com sem acometimento linfonodal (RR 0,37). Também mais evidente nos pacientes com tumores menores que 2 cm, com Ki67%

No grupo da capecitabina 82% dos pacientes completaram o tratamento por 1 ano, sendo que o efeito adverso mais comum foi síndrome-mão-pé (45,2%), porém apenas 7,7% grau 3.

Com esse trabalho podemos verificar que a capecitabina aumentou de forma significativa a SLP das pacientes, porém sem impacto estatisticamente significante na SG e sobrevida livre de recorrência locorregional. Algumas limitações do estudo estão relacionadas a escolha da dose ideal, pois já houveram trabalhos anteriores com dosagens e intervalos diversos. Outra consideração relevante é em relação ao tempo da manutenção que foi baseado no HERA, estudo de manutenção de trastuzumabe em pacientes com tumores ERBB2 positivos. Além disso, o estudo recrutou apenas pacientes chinesas em 13 centros, dessa forma outros perfis raciais e étnicos poderiam ter tolerância e resposta divergentes ao tratamento.

No entanto, considerando o perfil biológico mais agressivo CMTN e em analogia aos tumores hormônio positivos e ERBB2 positivos, nos quais realizamos terapia de manutenção após quimioterapia adjuvante, o tratamento com capecitabina baixa dose contínuo por 1 ano mostra-se como uma oportunidade de aumentar a SLP em 5 anos dessas pacientes.

 

Effect of Capecitabine Maintenance Therapy Using Lower Dosage and Higher Frequency vs Observation on Disease-Free Survival Among Patients With Early-Stage Triple-Negative Breast Cancer Who Had Received Standard Treatment: The SYSUCC-001 Randomized Clinical Trial. Wang X, et. al. JAMA. 2021 Jan 5;325(1):50-58. doi: 10.1001/jama.2020.23370.
Efeitos do uso de Capecitabina em menor dose e maior frequência versus Observação na Sobrevida Livre de Progressão de Pacientes com Câncer de Mama Triplo Negativos Estágio Inicial que receberam Tratamento Padrão.

 

Comentário da avaliadora científica:

A capecitabina é um quimioterápico oral à base de fluoropirimidina já amplamente utilizado em pacientes com câncer de mama metastático, é bem tolerada e de fácil administração. O CMTN geralmente é mais agressivo, tem maior taxa de recorrência e maior risco de morte. Uma opção de terapia de manutenção para essas pacientes após tratamento adjuvante faz-se necessária. Alguns estudos já haviam levantado essa possibilidade. Dentre eles cito o CREAT-X que avaliou o uso de capecitabina após quimioterapia neoadjuvante em pacientes sem resposta patológica completa. As principais diferenças em relação ao SYSUCC-001 são: a quimioterapia neoadjuvante e a inclusão de uma parcela de pacientes com tumores hormônio positivos. Apesar disso, foi um estudo positivo com significância estatística que trouxe a indicação da droga nesse cenário.

Um questionamento a se levantar sobre esses trabalhos é que não foi considerado o uso da imunoterapia. À luz dos conhecimentos atuais, sabemos que a imunoterapia neoadjuvante demonstrou aumento na resposta patológica completa no CMTN. Dessa forma, o uso ou a manutenção com esses agentes podem resultar posteriormente em um aumento relevante para a SLP ou, até mesmo, impacto na sobrevida global.

 

Avaliadora científica
Dra. Carolina Caetano Conopca
Residência em Oncologia Clínica pelo HC-FMRP-USP
Diretora Médica e Responsável Técnica da Medquimheo em Vitória-ES