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SBOC REVIEW

Eficácia do pazopanibe com ou sem gencitabina em pacientes com sarcoma de partes moles refratários a antracíclicos e/ou ifosfamida

Resumo do artigo:

Trata-se de um estudo de fase II, multicêntrico e randomizado, que incluiu 86 pacientes com sarcoma de partes moles.

Foram incluídos pacientes com progressão prévia a antracíclicos, ifosfamida ou ambos, que apresentavam pelo menos 18 anos e índice de performance ECOG 0-2. Eles foram então randomizados em uma razão 1:1 para receber pazopanibe com gencitabina (braço A) ou pazopanibe monodroga (braço B) e estratificados de acordo com a histologia lipomatosa.

O esquema de administração foi de 800mg uma vez ao dia para o pazopanibe e 1000mg/m2 no D1 e D8 a cada 28 dias para a gencitabina, as reduções de dose eram permitidas conforme a toxicidade e o tratamento foi mantido até progressão de doença, toxicidade limitante ou atraso de mais de 2 semanas no tratamento.

O objetivo primário foi doença livre de progressão (SLP) em 12 semanas e objetivos secundários foram: SLP, sobrevida global (SG), tempo para progressão, segurança e qualidade de vida. A análise foi realizada por intenção de tratar.

A mediana de idade da população foi de 57 (A) e 59 (B) anos, a porcentagem de pacientes com PS-ECOG 0-1 foi de 88 (A) e 90 (B) %, a porcentagem de pacientes previamente expostos à gencitabina foi de 23 (A) e 26 (B) % e a mediana de linhas de tratamentos anteriores foi de 2, sendo que receberam mais de duas linhas 13 (A) e 16 (B) pacientes.

A mediana de dose-intensidade do pazopanibe foi semelhante entre os grupos (90 x 89% respectivamente) e no braço da combinação, a maioria dos pacientes necessitou de redução de dose da gencitabina, alcançando uma mediana de 75% da dose inicial.

O objetivo primário foi alcançado com uma SLP em 12 semanas de 74 versus 47% (P = 0,01; 90% intervalo de confiança, 1,15- 2,23), respectivamente. A SLP também foi estatisticamente superior no braço da combinação (5,6 meses) em relação ao pazopanibe monodroga (2 meses) (HR 0,58; 95% intervalo de confiança, 0,36-0,92; P = 0,02), enquanto a SG foi semelhante entre os dois braços, com medianas de 13,1 versus 11,2 meses (HR 0,98; 95% intervalo de confiança, 0,60-1,58; P = 0,083). A taxa de resposta foi baixa em ambos os grupos (11 versus 5%, respectivamente), sem diferença estatisticamente significativa (P = 0,10; 90% intervalo de confiança, 0,71-9,90).

As análises de subgrupos não mostraram diferença estatisticamente significativa entre os pacientes com leiomiossarcoma, que tiveram uma SLP de 8,5 versus 3 meses (HR 0,41; 95% intervalo de confiança 0,16-1,07) e uma SG de 20,2 versus 24,2 meses (HR 1,2; 95% intervalo de confiança, 0,43-3,4). Já os pacientes com lipossarcoma tiveram uma diferença significativa em SLP de 8,6 versus 1,5 meses (HR não mensurável devido à grande diferença) e uma SG de 25,4 versus 5,4 meses (HR 0,39; 95% intervalo de confiança, 0,54-1,87).

O uso prévio de gencitabina não teve impacto na eficácia da combinação (HR 0,58; 95% intervalo de confiança 0,35-0,96 sem gencitabina prévia e HR 0,58; 95% intervalo de confiança 0,23-1,45 com uso prévio de gencitabina). E o uso da gencitabina após esse estudo em 16 pacientes do grupo B não mostrou diferença em SG (HR 0,97; 95% intervalo de confiança, 0,49-1,92).

As toxicidades foram manejáveis e a taxa de descontinuação do tratamento por efeitos adversos foi semelhante entre os grupos. Apesar do maior número de infecções no grupo A, houve apenas um caso de neutropenia febril. Não se observou diferença entre os braços nos questionários de qualidade de vida.

 

Efficacy of Pazopanib With or Without Gemcitabine in Patients With Anthracycline- and/or Ifosfamide-Refractory Soft Tissue Sarcoma: Final Results of the PAPAGEMO Phase 2 Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol 2020 Dec 23;[EPub Ahead of Print], H-J Schmoll, LH Lindner, P Reichardt, et al.
Eficácia do pazopanibe com ou sem gencitabina em pacientes com sarcoma de partes moles refratários a antracíclicos e/ou ifosfamida.

 

Comentário da avaliadora científica:

De acordo com os autores do estudo, a não superioridade em SG pode ter ocorrido devido aos tratamentos subsequentes dos pacientes.

As medianas apresentadas foram condizentes com os dados históricos para segunda e terceira linha de tratamento desses pacientes, exceto a diferença na mediana de SLP do braço de pazopanibe do PAPAGEMO (2 meses), quando comparado ao resultado do estudo PALLETE (4,6 meses). Os autores consideram que isso pode estar associado à maior proporção de pacientes com lipossarcoma, uma histologia tradicionalmente considerada menos sensível ao pazopanibe, ao maior número de linhas de tratamento prévio e, até, à maior proporção de uso concomitante de inibidores de bomba de prótons.

São necessários estudos maiores para confirmar a eficácia da combinação de pazopanibe e gencitabina. Além disso, é necessária cada vez mais a organização de estudos multicêntricos que permitam avaliar as histologias específicas de sarcoma separadamente.

Considerando tratar-se de um estudo fase II e sem evidência de benefício em sobrevida global, não consideramos que esses dados justifiquem o uso dessa combinação na prática clínica.

 

Avaliadora científica
Dra. Mirella Nardo, MD
Residência de Oncologia Clínica no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)
Atualmente, é oncologista clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e da Rede D’or