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SBOC REVIEW

Ensaio clínico randomizado aberto, controlado, de vacina contra o câncer OSE2101 versus quimioterapia em pacientes com neoplasia de pulmão avançada não pequenas células positiva para HLA-A2 e com resistência à imunoterapia

Resumo do artigo:

O cenário da neoplasia de pulmão avançada não pequenas células pós progressão à tratamento baseado em imunoterapia e sem mutações driver acionáveis é, de fato, desafiador. Hoje, tratamos estes pacientes, geralemente, com quimioterapia (docetaxel/pemetrexede) associada à antiangiogênicos (ramucirumabe, bevacizumabe, nintedanibe). O fato é que as taxas de resposta, bem como de controle da doença e sobrevida global nestes tratamentos não são tão promissores. Assim, é imperativo que se descubram novos agentes terapêuticos que possam melhorar estes desfechos para esta população. O ATALANTE-1, estudo publicado no Annals of Oncology em setembro de 2023, procurou investigar melhor este cenário.

Pacientes com neoplasias de pulmão não pequenas células tratados com inibidores de checkpoint imunológico podem progredir rapidamente (resistência primaria) ou tardiamente (resistência secundaria) a esta estratégia. Postula-se que a vacina OSE2101 poderia reativar a resposta imunológica depois de falha à imunoterapia nestes pacientes. O objetivo do ATALANTE-1 foi de avaliar a eficácia e a segurança desta vacina nesta população. Este foi um estudo aberto que comparou OSE2101 à quimioterapia (docetaxel ou pemetrexede). Neste, pacientes com neoplasia de pulmão não pequenas células com doença avançada, positivos para o antígeno leucocitário humano A2, sem mutações driver e que falharam à quimioterapia com imunoterapia foram randomizados 2:1 para receberem OSE2101 ou docetaxel/pemetrexede. O desfecho primário desenhado foi de sobrevida global. Em abril de 2020, em análise interina, foi decidido por cessar a randomização de novos pacientes no estudo em virtude da pandemia de COVID-19. A análise final foi realizada com todos os pacientes e, também, no subgrupo de resistência secundaria à inibidores do checkpoint imunológico, definida como falha à imunoterapia por 12 semanas ou mais.

290 pacientes foram randomizados, 118 tinham resistência secundaria à imunoterapia sequencial. O desfecho de sobrevida global para a população estudada não foi atingido de forma estatisticamente significativa. Contudo, quando observado apenas o subgrupo de resistência secundaria à imunoterapia, houve ganho de sobrevida global em favor da vacina [11,1 meses versus 7,5 meses, HR IC 95% 0,59 (0,38 – 0,91), p=0,017] contra quimioterapia. Além disto, os desfechos de sobrevida pós-progressão, tempo para deterioração de performance-status e qualidade de vida também favoreceram OSE 2101. Taxas de controle de doença aos 6 meses e tempo livre de progressão foram similares entre as 2 intervenções e eventos adversos grau 3 ocorreram em 11,4% no grupo vacina, contra 35,1% no grupo quimioterapia.

Com base neste estudo, os autores consideram que OSE2101 melhorou os resultados de sobrevida global no subgrupo de pacientes com neoplasia de pulmão não pequenas células com resistência secundaria à imunoterapia, atingindo também melhor perfil de toxicidade, quando comparado à quimioterapia.

 

Comentário do avaliador científico

O OSE2101 é a primeira vacina para pacientes com câncer de pulmão que expressem HLA-A2 a demonstrar eficácia clínica.

O estudo de fase 3 ATALANTE-1 randomizou pacientes com neoplasia de pulmão não pequenas células sem alterações alvo que tenham falhado à imunoterapia e expressassem o antígeno leucocitário humano A2 a utilizarem OSE2101 ou quimioterapia (docetaxel/pemetrexede). O desfecho primário de sobrevida global foi negativo na população estudada. Contudo, quando analisado o subgrupo de pacientes com resistência secundaria à imunoterapia (que progrediram após mais de 12 semanas de seu uso em monoterapia segunda linha), observou-se redução de 41% do risco de morte com ganho de 3,6 meses em sobrevida global para aqueles que utilizaram esta terapia inovadora. Além disto, demonstrou-se melhor perfil de toxicidade em favor desta vacina (11,4% eventos adversos grau 3 contra 35,1% no grupo controle).

Estes resultados trazem a perspectiva de novos estudos prospectivos que comparem a OSE2101 com tratamentos que envolvam quimioterapia e antiangiogênicos (como, por exemplo docetaxel e nintedanibe/ramucirumabe/bevacizumabe).

 

Citação: B. Besse, et al. Randomized open-label controlled study of cancer vaccine OSE2101 versus chemotherapy in HLA-A2-positive patients with advanced non-small-cell lung cancer with resistance to immunotherapy: ATALANTE-1. Annals of Oncology. Published September 11, 2023. doi: 10.1016/j.annonc.2023.07.006.

 

Avaliador científico:

Dr. Eduardo Bischoff

Oncologista Clínico do Hospital São Lucas da PUCRS, Grupo Oncoclínicas e Hospital Divina Providência de Porto Alegre/RS