SBOC REVIEW
Epidemiologia e desfechos de pacientes com metástases cerebrais de câncer colorretal – quem são esses pacientes?
Resumo do artigo:
Apesar de as metástases para sistema nervoso central (SNC) serem pouco usuais no câncer colorretal, tais casos têm sido observados com certa frequência, devido à elevada incidência do câncer colorretal e a maior sobrevida alcançada com os avanços terapêuticos. Nesse estudo de coorte retrospectiva, foram avaliados 247 pacientes com câncer colorretal metastático para SNC, com o objetivo de avaliar o perfil epidemiológico dessa população, os tratamentos realizados e seus desfechos.
O estudo incluiu pacientes com diagnóstico anatomopatológico de carcinoma colorretal, tratados no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo no período de maio de 2008 até abril de 2019. A presença de metástases em SNC era confirmada através de tomografia computadorizada ou ressonância magnética de crânio.
Como características da população do estudo, destacam-se uma idade mediana de 63 anos, 78% dos casos com tumor primário em cólon esquerdo e intervalo mediano do diagnóstico até o desenvolvimento de metástase cerebral de 27,6 meses. Além disso, a maioria dos casos (78,5%) apresentava 2 ou mais sítios de metástase extra-craniana. Cerca de metade dos casos (51,8%) apresentava lesão única em SNC.
Quanto às características moleculares, o status RAS estava disponível para 164 pacientes, com 96 (58,5%) apresentando RAS selvagem e 68 (41,5%), RAS mutado. O status de enzimas de reparo estava disponível para 91 pacientes. Entre estes, 85 (93,4%) eram proficientes em enzimas de reparo e 6 (6,6%), deficientes em enzimas de reparo.
Em relação aos tratamentos locais realizados, 43 (17,4%) pacientes foram submetidos a cirurgia isolada, 76 (30,8%) receberam radioterapia isolada e 58 (23,5%) realizaram ambos cirurgia e radioterapia.
Na população geral do estudo, observou-se uma sobrevida global mediana de 2,9 meses. Estimou-se ainda que apenas 13,5% dos pacientes estavam vivos um ano após o diagnóstico da metástase em SNC.
Em análise multivariada de fatores associados a sobrevida, identificou-se que a realização de cirurgia (HR 0,56, IC 95% 0,34-0,90, P=0,018), radioterapia (HR 0,51, IC 95% 0,35-0,75, P = 0,001) ou ambos cirurgia e radioterapia (HR 0,27, IC 95% 0,16-0,43, P<0,001) foram associados a redução do risco de morte. Por outro lado, o sexo masculino (HR 1,46, IC 95% 1,08-1,97, P=0,012) e o Eastern Cooperative Oncology Group Performance Status (ECOG-PS) 3-4 (HR 2,01, IC 95% 1,08-3,39, P=0,009) foram associados a pior prognóstico.
Em análise de subgrupo conforme o tipo de tratamento local realizado, os resultados mostraram que os pacientes tratados com cirurgia e radioterapia apresentaram os melhores desfechos, com sobrevida global mediana de 7,8 meses. Tanto nos pacientes tratados com radioterapia isolada quanto naqueles submetidos a cirurgia isolada, a sobrevida global mediana foi de 2,8 meses. Já no grupo que não recebeu nenhum tratamento local para as metástases em SNC, a sobrevida global mediana foi de 0,9 meses.
Bonadio, RC et al. Clinical Colorectal Cancer. 2021(in press). Epidemiology and outcomes of patients with brain metastases from colorectal cancer – who are these patients? doi: 10.1016/j.clcc.2021.04.002.
Epidemiologia e desfechos de pacientes com metástases cerebrais de câncer colorretal – quem são esses pacientes?
Comentário da avaliadora científica:
Esse estudo representa a maior coorte de câncer colorretal metastático para SNC. Os resultados demonstram que as metástases em SNC ocorrem de forma tardia no decorrer da doença e principalmente em pacientes com maior número de sítios de metástases extracranianas.
A despeito dos avanços terapêuticos, o estudo mostra que, infelizmente, o prognóstico dos pacientes que desenvolvem metástases em SNC continua reservado. Apesar disso, casos selecionados parecem se beneficiar de tratamentos locais mais agressivos, com cirurgia e radioterapia.
Por ser um estudo observacional retrospectivo, o mesmo apresenta limitações. Em primeiro lugar, não é possível excluir a ocorrência de vieses. Pacientes que foram submetidos a tratamentos locais mais agressivos, por exemplo, poderiam apresentar fatores de melhor prognóstico para terem sido candidatos a tais terapias. Outra limitação é a ausência de uma avaliação molecular ampla. Em estudos futuros, uma caracterização molecular mais detalhada das lesões em SNC, assim como do microambiente tumoral, poderá permitir uma melhor compreensão do quadro para o desenvolvimento de estratégias mais precoces e eficazes para o manejo desses pacientes.
Avaliadora científica:
Dra. Renata Colombo Bonadio
Residência em Oncologia Clínica pelo ICESP/FMUSP
Oncologista clínica no ICESP/FMUSP, Oncologia D’Or e Clínica Sartor