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SBOC REVIEW

ESMO 2017 — Câncer de Pulmão

Abstract 1 –S. Ramalingam, Osimertinib vs standard of care (SoC) EGFR-TKI as first-line therapy in patients (pts) with EGFRm advanced NSCLC: FLAURA. No = LBA2_PR 

Este estudo de fase III randomizado comparou osimertinibe, inibidor do EGFR e mutação T790M, contra inibidores de EGFR tidos como padrão, erlotinibe e geftinibe na primeira linha, num total de 556 pacientes inclusos. O desfecho primário, sobrevida livre de progressão (SLP), foi de 18,9 meses no braço osimertinibe versus 10,2 meses no grupo-padrão (HR 0,46; 95% IC, 0,37–0,57; p < 0,0001). O benefício foi mantido em todos os subgrupos, incluindo pacientes com lesões em sistema nervoso central. Os dados de sobrevida global (SG) ainda não foram avaliados nessa análise interina. Taxa de resposta foi similar para osimertinibe (80%) e terapia-padrão (76%) e a incidência de toxicidade graus 3 e 4 favorece o osimertinibe na comparação com o grupo controle; 45% x 36%, respectivamente.

Comentário: Comparativamente aos TKI de primeira geração, o osimertinibe apresenta perfil de toxicidade mais favorável e ganho de SLP clinicamente relevante de 8,7 meses, além de melhor controle de doença em SNC. Outrossim, dados de SG encontram-se imaturos (25% de maturidade) e são aguardados. A opção de sequenciamento — erlotinibe ou geftinibe seguido de osimertinibe na presença de mutação T790M — mantém-se como opção de tratamento até que os dados de SG do estudo FLAURA sejam avaliados.

 

Abstract 2 –V. Westeel, Results of the phase III IFCT-0302 trial assessing minimal versus CT-scan-based follow-up for completely resected non-small cell lung cancer (NSCLC). No = 1273O

A maioria dos guidelines recomenda o seguimento do câncer do pulmão de não pequenas células (CPNPC) ressecado por meio de tomografia (TC), contudo é baixo o nível de evidência na literatura que suporte tal prática. Trata-se de estudo multicêntrico e randomizado que compara TC vs radiografia de tórax no seguimento do CPNPC. No total, 1775 pacientes foram randomizados para TC vs RX a cada seis meses nos dois anos após ressecção. Após seguimento mediano de 8,7 anos, não foi detectada diferença em sobrevida global entre os braços (HR = 0.92, 95% CI: 0,8-1,07; p = 0,27). Importa a elevada prevalência de tumores em estádios precoces: 68,1% em estádio I e 13,7% em estádio II, respectivamente. O estudo carece de informação quanto tratamento após detecção de recidiva ou segundo primário e padrão de recidiva — sistêmico ou locarregional.
Comentário: Estudo relevante para a prática clínica, somado à necessidade de utilização racional e eficiente de recursos. Traz questionamento e informação relevantes, contudo mais de 80% eram representados por tumores em estádio precoce (EC I e II), o que pode reduzir o benefício de uma estratégia de detecção mais sensível em EC III, mais propenso a recidivas nos primeiros dois anos. No mais, levanta a hipótese de tratamento pouco eficaz mesmo se detecção precoce e reforça o entendimento da recidiva do câncer do pulmão predominantemente como doença sistêmica em que a detecção de recidiva não impactaria em benefício de SG. Por ora, o estudo não impactaria em mudança de conduta nos guidelines, dada a lacuna de informação previamente descrita.

 

Abstract 3 – L. Paz-Ares, PACIFIC: A double-blind, placebo-controlled phase III study of durvalumab after chemoradiation therapy (CRT) in patients with stage III, locally advanced, unresectable NSCLC. No = LBA1_PR

A despeito de tratamentos por meio de quimioterapia e radioterapia concomitantes (QT + RDT), os pacientes com CPNPC em estádio III irressecável experimentam elevados índices de recidiva e mortalidade em cinco anos. Este estudo de fase III avalia o impacto de terapia de consolidação com durvalumab por até 12 meses vs placebo, em CPNPC EC III, caso não houvesse progressão. SG e SLP foram os desfechos coprimários analisados. A análise interina se mostrou imatura para detectar ganho de SG, contudo há benefício significativo de SLP a favor do braço durvalumab (16,8 meses, 95% CI, 13,0–18,1) em comparação com placebo (5,6 meses, 95% CI, 4,6–7,8;HR 0,52, 95% CI, 0,42–0,65; p < 0,0001), A magnitude de benefício de SLP segue mantida na análise de 18 meses (44,2% vs 27%). Eventos adversos graus 3 e 4 ocorreram em 29,9% e 26,6% do grupo durvalumab e placebo respectivamente.

Comentário: A terapia de consolidação com durvalumab após QT + RDT revela-se promissora ao demonstrar expressivo ganho de SLP da ordem de 11,2 meses (HR 0,54; p < 0,0001) e boa tolerância. Aguardamos, contudo, os dados de SG, posto que se trata de cenário adjuvante em que se pesem custo e toxicidades relacionados a um ano adicional de tratamento.

 

Abstract 4 – D. Gandara, Blood-based biomarkers for cancer immunotherapy: Tumor mutational burden in blood (bTMB) is associated with improved atezolizumab (atezo) efficacy in 2L1 NSCLC (POPLAR and OAK).No = 1295O

Este estudo avaliou um teste sérico para mensurar carga mutacional (CM) e, retrospectivamente, determinar um ponto de corte que se correlacionasse com a eficácia (SG e SLP) apontada nos estudos de segunda linha com atezolizumab. Realizada análise de DNA tumoral circulante das amostras plasmáticas dos estudos OAK e POPLAR por meio de sequenciamento de nova geração (NGS) e estabelecidos pontos de corte para possível correlação com os desfechos. O ponto de corte CM >16 foi definido após análise das amostras do POPLAR e validado pela avaliação das amostras do OAK. O ponto de corte para CM >16 se correlacionou de forma preditiva com o ganho de SLP a favor de atezolizumab na comparação com docetaxel, mas não para SG. CM também não conferiu informação prognóstica. Não houve sobreposição significativa entre a hiperexpressão de PD-L1 (TC3) e CM > 16, contudo quando ambas ocorrem há expressivo ganho de SLP ( HR 0,34; 0,17-0,85) e SG (HR 0,23; 0,09-0,58).

Comentário: Este estudo merece destaque devido à necessidade de validação de biomarcador confiável para correlação de eficácia com imunoterapia, aliado à técnica menos dependente de variação pré-analítica — cerca de 30% das amostras teciduais mostram-se inadequadas para avaliação de CM. O valor de CM > 16 demonstrou valor preditivo para SLP em terapia com atezolizumabe, mas não para SG — influência de linhas subsequentes de tratamento? Aguardamos validação prospectiva de CM dos estudos com atezoluzimabe em primeira linha — B-F1RST e B-FAST.

 

Felipe Roitberg, MD
Médico oncologista do Hospital Sírio-Libanês e Icesp (Grupo de Tumores Torácicos e Cabeça e Pescoço)