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SBOC REVIEW

ESMO 2021 – Cabeça e Pescoço

O congresso da ESMO em 2021, como sempre foi um evento robusto com muitos estudos interessantes para a oncologia de cabeça e pescoço, que buscaram trazer novas opções de tratamento tanto para a doença localmente avançada quanto para a doença metastática. Entretanto, os resultados negativos não trouxeram mudança na nossa prática diária na abordagem destes tumores. Selecionamos os principais estudos em CEC de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe recidivado ou metastático, CEC de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe localmente avançado e Carcinoma de nasofaringe recidivado ou metastático.

LBA36: CheckMate 651: Estudo fase III randomizado comparando nivolumabe (N) associado a ipilimumabe (I) versus EXTREME (fluorouracil+ platina+ cetuximabe – até 6 ciclos, seguido de cetuximabe de manutenção) em pacientes com CEC de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe recidivado ou metastático (CECCP-RM), sem tratamento prévio. O desfecho primário do estudo foi sobrevida global (SG) em todos pacientes randomizados e em pacientes com PD-L1 CPS ≥20. Foram randomizados 947 pacientes. Com um follow-up mínimo de 27 meses, não houve melhora estatisticamente significativa na SG com N+I vs EXTREME em todos os pacientes randomizados (RR 0,95 [IC 97,9%: 0,80-1,13] p=0,4951) ou pacientes com CPS ≥20 (RR 0,78 [IC 97,5%: 0,59-1,03] p=0,0469). Importante chamarmos a atenção para dois pontos: 1) a SG no braço controle foi maior que em controles históricos; 2) 46% dos pacientes do braço EXTREME tiveram acesso a imunoterapia de segunda linha. Em uma comparação indireta, quando avaliamos a SG mediana e sobrevida em 2 anos dos dois estudos com anti-PD-1 em 1ª linha no cenário de CECCP-RM (figura1), temos uma similaridade dos resultados, com ganho significativo para pacientes com CPS ≥20 (apesar do resultado negativo do CheckMate 651); interessante e importante também notar que o acesso a imunoterapia em segunda linha – visto no estudo TPEX apresentado na ASCO de 2020 – levou a uma maior sobrevida mediana (18,9 meses).

SG

CM651

CM651 CPS>20

KN48

KN48 CPS>20

EXTREME seguido de imunoterapia em 2ª linha: TPEX

24 meses

31%

41%

29%

38%

27,5%

Mediana (meses)

13,9

17,6

11,5

14,9

18,9

LBA35: GORTEC-REACH trial: Estudo randomizado de fase III que avaliou avelumabe associado a cetuximabe e radioterapia (RT) versus tratamento padrão em pacientes com CEC de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe localmente avançado (CECCP-LA). O estudo tinha duas coortes: pacientes elegíveis à cisplatina (submetidos à cisplatina100 mg/m2 D1/22/43 + RT como braço padrão) e pacientes inelegíveis à cisplatina (cetuximabe+RT). Em ambas as coortes, o braço experimental (EXP) foi de RT 70 Gy / 6,5 semanas associado a cetuximabe semanal e avelumabe 10 mg/kg no D7 e a cada 2 semanas durante a RT seguido de avelumabe por 12 meses. Endpoint primário foi sobrevida livre de progressão (SLP). Entre 2017 e 2020, 707 pts foram randomizados. Com um seguimento mediano de 21 meses, a SLP em 2 anos para pacientes inelegíveis a cisplatina foi de 44% (IC 95% 35-53) no braço EXP vs 31% (IC 95% 23-40) no braço padrão cetuximabe-RT (RR 0,85; p=0,15). A taxa de metástase distante foi menor no braço EXP (RR = 0,31, p=0,007). Sobrevida global em 2 anos foi de 58% (IC 95% 48-67) em EXP vs 54% (IC 95% 44-64) no braço de cetuximabe (RR 1,08; p=0,69). Para pacientes elegíveis à cisplatina, o número de eventos não foi atingido. A análise provisória para futilidade baseada em 89 eventos nos 317 primeiros pacientes mostrou uma taxa de SLP de 1 ano de 64% (IC 95% 54-72) no braço EXP vs. 73% em no braço de padrão com cisplatina (IC 95% 65%-81%), com RR 1,27 (IC95% 0,83-1,93), cruzando o limite de futilidade. Conclui-se que o desfecho primário (SLP) não foi atingido em ambas as coortes, sendo um estudo negativo.

#8580: KEYNOTE 122: Trata-se de um estudo randomizado de fase III que avaliou a eficácia e segurança da monoterapia com pembrolizumabe (P) vs quimioterapia a escolha do investigador (capecitabina [C], gemcitabina [G], ou docetaxel [D]) em pacientes platino refratários com histologia não-queratinizante diferenciado (WHO - II) ou indiferenciado (WHO-III) e Epstein-Barr Vírus positivo. O desfecho primário do estudo foi sobrevida global (SG). Foram randomizados 233 pacientes para P (N=117) ou quimioterapia (N=116: n=39 C; n=46 G; n=31 D). CPS PD-L1≥1 foi encontrado em 74,4% dos pacientes no braço P e 62,9% no braço de quimioterapia. Na população ITT, a SG mediana foi de 17,2 meses (IC 95%, 11,7-22,9) com P e 15,3 meses (10,9-18,1) com quimioterapia (RR, 0,90; IC 95%, 0,67-1,19; p=0,2262; limiar de significância para análise final: 0,0187); SG em 24 meses foi de 40,2% com P vs 32,2% com quimioterapia. P monoterapia não melhorou a SG quando comparado a quimioterapia em pacientes com carcinoma de nasofaringe recidivado ou metastático (NPC-RM) platino refratários. Esse é um dado relevante tendo em vista os dados positivos do CheckMate 161 (nivolumabe em pacientes com CEC-CP platino refratários) com ganho significativo de sobrevida, porém este estudo não incluiu pacientes com NPC. A expectativa – que não se concretizou -– era que os resultados do tratamento com um anti-PD-1 no mesmo cenário no carcinoma de nasofaringe seriam positivos, mostrando claramente que são tumores de etiologia e comportamento biológico diferentes dos demais tumores de CP. Aguardemos as análises pré-especificadas de biomarcadores.

População por intenção de tratar

Pembrolizumabe (N=117)

Quimioterapia (N=116)

SG mediana, meses (IC 95%)

17,2 (11,7-22,9)

15,3 (10,9-18,1)

RR (IC 95%)

0,9 (0,67-1,19); p=0,2262

SLP mediana, meses (IC 95%)

4,1 (2,1-5,6)

5,5 (4,0-8,1)

RR (IC 95%)

1,28 (0,94-1,75)

ORR, % (IC 95%)

21,4 (14,3-29,9)

23,3 (15,9-32,0)

DCR (CR+PR+SD), % (IC95%)

50,4 (41,0-59,8)

63,8 (54,4-72,5)

DOR mediana, meses

12,0 (1,7+-49,7+)

13,1 (2,6-49,3+)

Pacientes com PD-L1 CPS>1

Pembrolizumabe (N=87)

Quimioterapia (N=73)

SG mediana, meses (IC95%)

17,2 (10,0-27,0)

18,0 (12,1-23,9)

ORR, % (IC 95%)

23,0 (14,6-33,2)

26,0 (16,5-37,6)

 

Referências:

LBA36 - Argiris A, Harrington K, Tahara M, et al. Nivolumab (N) + ipilimumab (I) vs EXTREME as first-line (1L) treatment (tx) for recurrent/metastatic squamous cell carcinoma of the head and neck (R/M SCCHN): Final results of CheckMate 651. Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.

LBA35 - Bourhis J, Tao Y, Sun X, et al. Avelumab-cetuximab-radiotherapy versus standards of care in patients with locally advanced squamous cell carcinoma of head and neck (LA-SCCHN): Randomized phase III GORTEC-REACH trial.Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.

858O - Chan ATC, Lee VHF, Hong R-L, et al. Results of KEYNOTE-122: A phase III study of pembrolizumab (pembro) monotherapy vs chemotherapy (chemo) for platinum-pretreated, recurrent or metastatic (R/M) nasopharyngeal carcinoma (NPC).

 

Avaliadora científica:

Dra. Aline Lauda Freitas Chaves
Oncologista clínica pela Santa Casa d