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SBOC REVIEW

ESMO 2021 – Tumores Gastrointestinais

A ESMO de 2021 não trouxe mudanças na prática clínica diária, mas confirmou a importância crescente da imunoterapia em tumores esofagogástricos e hepatocarcinoma bem como novas perspectivas de terapia alvo para o tratamento de neoplasias colorretais.

Das apresentações em tumores esofagogástricos, quatro trabalhos de imunoterapia associada à quimioterapia em 1ª linha mostraram a força crescente da associação como o tratamento padrão:

#1373MO: Nesse estudo fase III, JUPITER-06, apresentado por Xu R-H, o Toripalimabe, um agente anti- PD-1, em associação a platina e taxano (TP) mostrou superioridade em relação a quimioterapia em sobrevida global (SG) (RR 0,58; IC 95% 0,43-0,78; p=0,00036) e sobrevida livre de progressão (SLP) (RR 0,58; IC 95% 0,46-0,74; p<0,00001) em pacientes com CEC de esôfago, independente da expressão de PD-L1.

#LBA52: ORIENT-15, estudo de fase III, apresentado por Shen L., que avaliou o sintilimabe, outro agente anti-PD-1, em combinação com TP ou cisplatina/fluoropirimidina em pacientes com CEC de esôfago. A combinação aumentou significativamente SG e SLP em PD-L1 CPS≥10 e na população global do estudo.

#LBA53: Estudo de fase III ORIENT-16, apresentado por Xu J., avaliou o sintilimabe em combinação com Capox (S+C) em pacientes com adenocarcinoma esofagogástrico. Mostrou beneficio em SG para pacientes CPS≥5 (18,4 vs 12,9 meses; RR 0,660; IC 95% 0,505-0,864; p=0,0023) e pop global do estudo (15,2 vs 12,3 meses; RR 0,766; IC 95% 0,626-0,936; p=0,0090). Benefício também foi demonstrado para SLP para CPS≥5 e toda população do estudo.

#LBA54: Estudo fase II INTEGA, apresentando por Stein A., randomizou pacientes com adenocarcinoma esofagogástrico HER2+ (IHC3+ ou FISH+) para receber trastuzumabe (trast) e nivolumabe (nivo) em combinação com ipilimumabe (ipi) (3 mg/kg) (braço A) ou mFOLFOX6 (braço B). O desfecho primário, que era aumento de SG em 12 meses de 55% (observado no controle histórico do TOGA) para 70%, foi alcançado apenas no braço B.

Dos trabalhos apresentados em tumores hepatobiliopancreáticos:

#LBA10: Estudo fase II NIFE, apresentado por Perkhofer L., randomizou pacientes com colangiocarcinoma avancado em 1ª linha para receberem irinotecano lipossomal com 5-FU/LV (braço A) ou gemcitabina/cisplatina (braço B). O desfecho primário do estudo foi SLP em 4 meses >50%, alcançado no braço A (51%). A SLP nesse braço foi de 5,98 (2,37-9,59) vs 6,8 meses (braço B). Na avaliação estratificada pela localização do tumor primário, os colangiocarcinomas extra-hepáticos mostraram maior beneficio com a combinação com irinotecano lipossomal tanto em SLP (9,59 meses) quanto em SG (18,3 meses). Estudo importante para uma neoplasia com necessidade não atendida de novos tratamentos, trazendo a combinação com irinotecano como mais uma opção terapêutica com atividade, principalmente para tumores extra-hepáticos.

#LBA37: Estudo fase II IMMUTACE, apresentado por Vogel A., incluiu 49 pacientes com hepatocarcinoma BCLC B que fizeram 2 TACE para receberem nivo por até 2 anos. O estudo atingiu seu objetivo primário, alcançando uma taxa de resposta de 71%. Em seguimento de 14,6 meses, a SLPm foi de 6,14 m (IC 95% 5,16-7,56) e SG mediana de 28,32 meses (IC 95% 20,60-NA). É um estudo gerador de hipótese mostrando a inclinação cada vez maior de trazer a imunoterapia para linhas mais precoces, dado o benefício já observado em doença avançada.

Dos trabalhos apresentados em tumores colorretais (CRC):

#388MO: Estudo apresentado por Basile D., avaliou 1048 amostras de pacientes com CRC estadio III incluídos no estudo IDEA de adjuvância. Nessas amostras, foi avaliado o Tumor Budding (TB) definido como células cancerosas únicas ou agrupamento compreendendo menos de cinco células e representando o processo dinâmico da transição epitelial-mesenquimal, que está listado entre os marcadores de prognóstico no câncer de cólon (CC). O TB foi pontuado por revisão central de acordo com os critérios adotados pela Conferência Internacional de Consenso de Tumor Budding 2016 (número de botões por 0,785 mm2 no ponto de acesso), como Bd1 (0-4:baixo), Bd2 (5-9: intermediário) e Bd3 (≥10: alto). A categoria Bd foi significativamente associada com SLP (1 vs 2-3: p = 0,0008) e SG (1 vs 2-3: p = 0,0015) com taxas de SLP em 3 anos de 79,5% vs 67,2% e as taxas de SG em 5 anos de 89,2% vs 80,8% para Bd1 e Bd2-3, respectivamente. Na análise multivariada, foi confirmado como fator prognóstico independente para SG e SLP em pacientes com CC em estágio III, devendo ser obrigatória a avaliação de TP em todo laudo patológico futuro desses pacientes.

#Abstract 3820: Estudo fase II apresentado por Seligmann J., avaliou pacientes registrados no FOCUS4 e com mutações TP53 e RAS. Aqueles com ambas as mutações que estavam estáveis ou respondendo após 16 semanas de quimioterapia foram randomizados 2:1 entre adavosertibe, um agente inibidor de WEE1, ou monitoramento ativo (MA). A hipótese do estudo seria que as aberrações na replicação do DNA vistas no mCRC com ambas as mutações RAS e TP53 sensibilizariam os tumores para a inibição de WEE1. Foram randomizados 69 pacientes (44 para adavosertibe e 25 para MA) e o recrutamento foi encerrado precocemente devido a COVID-19. O adavosertibe foi associado a uma melhora da SLP em relação a MA (3,61 vs 1,87 meses; RR = 0,35 [IC 95% 0,18-0,68], p = 0,0022). Na análise de subgrupo pré-especificada, a atividade de adavosertibe foi maior em tumores do lado esquerdo (RR = 0,24 [IC 95% 0,11-0,51], versus lado direito (RR 1,02 [IC 95% 0,41-2,56], p = 0,043). Adavosertibe não melhorou a SG em comparação ao MA (14,0 vs 12,8 meses; RR = 0,92 [IC 95% 0,44-1,94], p = 0,93). Em tumores do lado esquerdo, a SG mediana foi de 14,1 vs 11,3 meses (RR = 0,37 [IC 95% 0,15-0,87]). Esse estudo demonstra um potencial uso de adavosertibe para mCRC mutante RAS/TP53 do lado esquerdo, com perspectiva de evolução dos testes nesta sub-população com necessidades terapêuticas ainda não atendidas.

#LBA6: Estudo KRYSTAL-1 é um estudo multicoorte de fase 1/2 que avalia o uso de adagrasibe, um agente inibidor do KRASG12C, em tumores sólidos avançados com essa mutação. A hipótese do estudo seria que a inibição durável de KRASG12C pode ser particularmente importante no CRC devido às vias de sinalização que criam uma suscetibilidade à reativação de feedback de KRAS. As coortes de CRC incluíram adagrasibe em monoterapia (fase 1/2) e em combinação com cetuximabe (Fase 1b). Foram incluídos 46 pacientes com CRC politratados para monoterapia com adagrasibe, demonstrando taxa de resposta (ORR) de 22% (10/45) e a taxa de controle de doença (DCR) de 87% (39/45) com duração mediana de resposta de 4,2 meses e SLP de 5,6 meses. Para a coorte de terapia combinada foram incluídos 32 pacientes, com uma ORR de 43% (12/28) e DCR de 100%. O estudo mostra uma atividade promissora de adagrasibe para um grupo pequeno de pacientes com CRC (mutação KRAS G12C ocorre em 3-4%), com perspectivas mais animadoras do que os dados já apresentados com sotorasibe, outro agente inibidor de mutação KRASG12C.

 

Referências:

1373MO - Xu R, Wang F, Cui C. JUPITER-06 A randomized, double-blind, phase III study of toripalimab versus placebo in combination with first-line chemotherapy for treatment naive advanced or metastatic esophageal squamous cell carcinoma (ESCC). Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1040-S1075. 10.1016/annonc/annonc708.

LBA52 - Shen L, Lu Z, Wang J, et a.l. Sintilimab plus chemotherapy versus chemotherapy as first-line therapy in patients with advanced or metastatic esophageal squamous cell cancer: First results of the phase III ORIENT-15 study. Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.

LBA53 - Xu J, Jiang. H, Pan Y. Sintilimab plus chemotherapy (chemo) versus chemo as first-line treatment for advanced gastric or gastroesophageal junction (G/GEJ) adenocarcinoma (ORIENT-16): First results of a randomized, double-blind, phase III study. Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.

LBA54 - Stein A, Paschold L, Tintelnot J. Ipilimumab or FOLFOX in combination with nivolumab and trastuzumab in previously untreated HER2 positive locally advanced or metastastic esophagogastric adenocarcinoma (EGA): Results of the randomized phase II INTEGA trial (AIO STO 0217). Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.

LBA10 - Perkhofer L, Striefler JK, Sinn M. Nal-IRI with 5-fluorouracil (5-FU) and leucovorin or gemcitabine plus cisplatin in advanced biliary tract cancer: Final results of the NIFE-trial (AIO-YMO HEP-0315), a randomized phase II study of the AIO biliary tract cancer group. Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.

LBA37 - Vogel A, Saborowski A, Hinrichs J, et al. IMMUTACE: A biomarker-orientated, multicenter phase II AIO study of transarterial chemoembolization (TACE) in combination with nivolumab performed for intermediate stage hepatocellular carcinoma (HCC). Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.

388MO - Basile D, Broudin C, Emile J, et al. A Tumor budding, an important prognostic factor in stage III colon cancer patients treated with oxaliplatin-based chemotherapy. Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S530-S582. 10.1016/annonc/annonc698.

382O - Seligmann J, Fisher DJ, Brown LC, et al. Inhibition of WEE1 is effective in TP53 and RAS mutant metastatic colorectal cancer (mCRC): A randomised phase II trial (FOCUS4-C) comparing adavosertib (AZD1775) with active monitoring. Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S530-S582. 10.1016/annonc/annonc698.

LBA6 - Weiss J, Yaeger RD, Johnson ML, et al. KRYSTAL-1: Adagrasib (MRTX849) as monotherapy or combined with cetuximab (Cetux) in patients (Pts) with colorectal cancer (CRC) harboring a KRASG12C mutation. Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.

 

Avaliadora científica:

Dra. Marcela Crosara
Residência de Oncologia Clínica pelo ICESP
Coordenadora do Centro de Oncologia do Hospital DF Star– Rede D’Or