SBOC REVIEW
Especial ASCO 2024 – Tumores Torácicos
ADRIATIC: Durvalumabe como terapia de consolidação em pacientes com câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) estágio limitado.
Spigel DR, Cheng Y, Cho BC, et al. ADRIATIC: Durvalumab as consolidation treatment for patients with limited-stage-small cell lung cancer.
Trata-se de um estudo multicêntrico, de fase 3, global, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, que avaliou terapia de consolidação por 24 meses com durvalumabe em associação ou não a tremelimumabe para pacientes com CPPC estágio limitado que não progrediram após tratamento padrão com quimiorradioterapia (QRT).
Na ASCO 2024 foram relatados os resultados da primeira análise interina planejada, comparando durvalumabe versus placebo, tendo como desfechos coprimários análise de sobrevida global (SG) e sobrevida livre de progressão (SLP).
Foram randomizados 730 pacientes para receber: durvalumabe (n=264), durvalumabe + tremelimumabe (n=200) ou placebo (n=266). A SG foi significativamente melhorada com durvalumabe em comparação com placebo, com uma redução de 27% no risco de óbito (HR: 0,73; IC 95%, 0,57 – 0,93; p=0,0104), uma mediana de 55,9 meses versus 33,4 meses, e uma taxa de SG em 36 meses de 56,5% vs. 47,6%, respectivamente. A SLP também foi significativamente melhor com a imunoterapia, se traduzindo em redução de 24% do risco de progressão ou óbito (HR: 0,76; IC 95%, 0,61 – 0,95; p=0,0161), com medianas de 16,6 meses com durvalumabe versus 9,2 meses para os pacientes que receberam placebo. A taxa de SLP em 24 meses foi de cerca de 46,2% no grupo durvalumabe e 34,2% no grupo placebo.
A taxa de eventos adversos (EAs) graves foi praticamente a mesma em ambos os grupos, com EAs G3 ou superior em 24,3% no grupo que recebeu durvalumabe versus 24,2% do grupo placebo. Toxicidades que demandaram descontinuação do tratamento foram reportadas em 16,3% vs. 10,6%, respectivamente.
Como conclusão, durvalumabe como tratamento de consolidação após quimiorradioterapia demonstrou uma melhora estatisticamente e clinicamente significativa na sobrevida global e sobrevida livre de progressão em comparação com placebo em pacientes com câncer de pulmão de células pequenas estágio limitado. Trata-se da primeira mudança de paradigma para esse perfil de pacientes nos últimos 30 anos.
Quimiorradioterapia definitiva seguido de osimertinibe para câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) estadiamento III com mutação do EGFR
Lu S, Kato T, Dong X, et al. Osimertinib after Chemoradiotherapy in Stage III EGFR-Mutated NSCLC (LAURA Trial)
Trata-se de um estudo global, de fase 3, duplo-cego, controlado por placebo, com objetivo de avaliar a eficácia e segurança de osimertinibe para pacientes com CPNPC estadiamento III, irressecável, que apresentaram mutação em EGFR (ex19del ou L858R), sem progressão após tratamento definitivo com quimiorradioterapia (QRT).
O desfecho primário do estudo foi sobrevida livre de progressão (SLP) e os desfechos secundários incluíam sobrevida global (SG), sobrevida livre de progressão em sistema nervoso central (SNC) e segurança.
Foram randomizados 216 pacientes na proporção 2:1 para receber osimertinibe (n=143) ou placebo (n=73), por tempo indefinido. Quanto aos resultados, a SLP foi de 39,1 meses no grupo tratado com osimertinibe versus 5,6 meses no grupo placebo. Dessa forma, o TKI reduziu em 84% o risco de progressão ou óbito (HR: 0,16; IC 95%, 0,10 – 0,24; p<0,001). A taxa de resposta objetiva com osimertinibe foi de 57% em comparação com 33% com placebo e a duração média da resposta com o TKI foi de 36,9 meses versus 6,5 meses com placebo. O impacto na progressão de doença em SNC também foi significativo, com incidência de 22% no grupo do osimertinibe versus 68% no grupo placebo. Novas lesões em SNC ocorreram em 8% (osimertinibe) versus 29% (placebo), reforçando a proteção conferida ao SNC pelo TKI.
Do ponto de vista de segurança, eventos adversos (EAs) superiores a grau 3 foram relatados em 35% com osimertinibe versus 12% com placebo, com EAs graves presentes em 38% versus 15%, respectivamente. O percentual de pneumonite actínica foi de 48% para osimertinibe versus 38% para o grupo placebo.
O estudo LAURA foi o primeiro a avaliar o uso de terapia alvo após quimiorradioterapia em pacientes com CPNPC estágio III irressecável, destacando mais uma vez a importância da testagem molecular. Seus resultados primários favorecem a administração de osimertinibe como terapia de consolidação ao demonstrarem a melhora clínica e estatisticamente significativa na SLP, sem sinais de segurança inesperados e, mesmo com dados ainda imaturos, aparenta também prolongar a sobrevida global.
Amivantamabe subcutâneo versus intravenoso, ambos em combinação com lazertinibe, para câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) avançado com mutação do EGFR
Leighl NB, Akamatsu Hiroaki, Lim SM, et al. Subcutaneous amivantamab vs intravenous amivantamab, both in combination with lazertinib, in refractory EGFR-mutated, advanced non-small cell lung cancer
Trata-se de um estudo randomizado, aberto, de fase 3, que avaliou a farmacocinética, eficácia e segurança do amivantamabe subcutâneo (SC) em comparação com amivantamabe intravenoso (IV), ambos em combinação com lazertinibe, como tratamento para pacientes com CPNPC avançado ou metastático com mutação de EGFR (ex19del ou L858R) após progressão ao uso de osimertinibe e quimioterapia a base de platina.
Os desfechos secundários incluíam taxa de resposta (não-inferioridade), sobrevivência livre de progressão (superioridade), duração de resposta e desfechos relacionados ao paciente. Análise de sobrevida global (SG) foi um desfecho exploratório.
Este estudo atingiu seu desfecho primário, mostrando a eficácia e farmacocinética não inferiores para o amivantamabe SC combinado com lazertinibe. A taxa de resposta foi de 30% (IC 95%, 24 – 37) no braço SC e 33% (IC 95%, 26 – 39) no braço IV (HR: 0,92; IC 95%, 0,70 – 1,23; p=0,001), atendendo aos critérios de não inferioridade. O amivantamabe SC também demonstrou maior duração da resposta (mediana de 11,2 versus 8,3 meses) e SLP numericamente superior (6,3 meses versus 4,3 meses; HR: 0,84; IC 95%, 0,64 – 1,10; p=0,20). Quanto à SG, também foi favorável ao braço amivantamabe SC em comparação com IV (HR: 0,62; IC 95%, 0,42 – 0,92; p= 0,017).
O tempo de administração com a via de administração SC em comparação com IV foi reduzido de cinco horas para aproximadamente cinco minutos, e mostrou uma redução de cinco vezes nas reações relacionadas à infusão. No geral, 81% receberam anticoagulantes profiláticos, com eventos tromboembólicos relatados em 9% no braço SC versus 14% no braço IV.
Como conclusão, amivantamabe SC demonstrou farmacocinética e taxa de resposta não inferiores em comparação com IV. Duração de resposta, SLP e SG também foram favoráveis ao braço SC, com perfil de segurança melhorado, menores taxas de reações relacionas à infusão e de eventos tromboembólicos.
Lorlatinibe versus crizotinibe em pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC), ALK positivo, com doença avançada e não tratados previamente: Atualizações do estudo CROWN após 5 anos de seguimento
Solomon BJ, Liu G, Felip E, et al. Lorlatinib vs crizotinib in treatment-naïve patients with advanced ALK+ non-small cell lung cancer: 5-year progression-free survival and safety from the CROWN study.
Trata-se de um estudo internacional, aberto, fase III, randomizado, que comparou lorlatinibe versus crizotinibe para pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC), ALK positivo, com doença avançada e previamente não tratados. O desfecho primário do estudo foi sobrevida livre de progressão (SLP) e os desfechos secundários incluíam sobrevida global (SG), e eficácia em sistema nervoso central (SNC). Na ASCO 2024, foram apresentados os resultados do estudo após 5 anos de follow-up.
Foram randomizados 296 pacientes para receber lorlatinibe (n=149; mediana de follow-up de 60,2 meses) versus crizotinibe (n=147; mediana de follow-up de 55,1 meses). A mediana de sobrevida livre de progressão (SLP) não foi alcançada no braço do lorlatinibe, enquanto no braço do crizotinibe foi de 9,1 meses, resultando em uma redução de 81% no risco de progressão ou óbito com o uso do inibidor de 3ª geração (HR 0,19; IC 95%, 0,13 – 0,27). Após 60 meses, a taxa de SLP foi de 60% e 8%, em favor do braço do lorlatinibe. Quanto a mediana de tempo até a progressão intracraniana para paciente sem metástases cerebrais ao estadiamento, não foi alcançada no braço do lorlatinibe, versus 10,8 meses no braço crizotinibe (HR 0,24; IC 95%, 0,16 – 0,36). Paciente com metástases cerebrais, a mediana até progressão intracraniana também não foi alcançada no braço do lorlatinibe, em comparação com 6 meses no braço do crizotinibe (HR 0,08; IC 95%, 0,04 – 0,19). Tempo sem progressão intracraniana em 60 meses: 92% versus 21% (9 eventos de progressão intracraniana no grupo do lorlatinibe versus 65 no grupo crizotinibe). O perfil de segurança avaliado foi consistente com os resultados anteriores.
Após 5 anos de seguimento, o estudo CROWN mostra que o uso do lorlatinibe resulta em uma eficácia sem precedentes em termos de SLP. Adicionalmente, sua ação na progressão intracraniana e o perfil de segurança esperado e manejável oferecem desfechos clínicos inéditos no cenário de pacientes com CPNPC avançado ALK+.
Avaliação da efetividade dos cuidados paliativos precoces via telemedicina versus presencial em pacientes com câncer de pulmão avançado.
Greer JA, Trotter C, Jackson V, et al. Comparative effectiveness trial of early palliative care delivered via telehealth versus in person among patients with advanced lung cancer: The REACH PC Trial.
Estudo que avaliou 1.250 pacientes, de 22 centros nos Estados Unidos, com diagnóstico de câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) em estágio avançado, entre 2018 e 2023.
O principal objetivo do estudo era avaliar se a efetividade do cuidado paliativo precoce feito mediante consultas por chamadas de vídeo (telemedicina) é a mesma quando comparada ao atendimento feito presencialmente.
Os critérios de elegibilidade do estudo incluíam idade maior ou igual a 18 anos, diagnóstico nas últimas 12 semanas de CPNPC em estágio avançado, ECOG 0-3. Os pacientes elegíveis foram randomizados em dois grupos, para atendimento presencial em ambiente ambulatorial ou virtual a cada quatro semanas.
A idade mediana foi de 65,5 anos, e os pacientes tiveram uma média até a vigésima quarta semana de 4,75 consultas no grupo de telemedicina e 4,92 no grupo presencial. Segundo o estudo, após 24 semanas, as pontuações de qualidade de vida dos grupos foram estatisticamente equivalentes, com médias ajustadas de 99,67 versus 97,67 no grupo telemedicina e presencial, respectivamente. O mesmo aconteceu nas avaliações de satisfação dos pacientes e cuidadores com o suporte fornecido, e não houve diferenças quanto aos sintomas de depressão e ansiedade ou na percepção a respeito dos objetivos do tratamento oncológico entre os grupos.
O estudo conclui que as consultas realizadas via telemedicina tiveram efeitos equivalentes àquelas presenciais no impacto de qualidade de vida do paciente, proporcionando assim uma importante alternativa para melhorar e ampliar o acesso aos cuidados paliativos de forma precoce.
Avaliador científico:
Dr. Filipe Luis Vasconcelos Visani
Residência Médica em Oncologia Clínica pelo Hospital de Amor – Barretos/SP
Fellowship em Tumores torácicos e de Cabeça e Pescoço pelo Instituto Oncoclínicas
Oncologista Clínico do Grupo Oncoclínicas – Salvador/BA
Instagram: @filipevisani
Cidade de atuação: Salvador/BA