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SBOC REVIEW

ESPECIAL ESMO 2019: Encorafenib, Binimetinib e Cetuximab no cancer colorretal BRAF V600E–mutado

Resumo do artigo:
Os pacientes com mutação somática no gene do BRAF correspondem a aproximadamente 10% dos casos de câncer de cólon metastático. Sua incidência é maior nos tumores do cólon direito e está associado a um perfil de hipermetilação e à deficiência de proteínas do reparo do DNA. O prognóstico desses pacientes é pior quando comparado aos pacientes KRAS/NRAS selvagem ou mutados. Melhores dados publicados em sobrevida global (SG) são atingidos com esquemas intensos em primeira linha com FOLFOXIRI mais Bevacizumab, de acordo com o Tribe trial, cuja mediana de SG gira em torno de 19 meses.

No entanto, tratamentos para segunda linha com quimioterapia trazem pequeno benefício para esses pacientes. Estudos recentes com drogas alvos para mutação V600, com os inibidores de BRAF e MEK em pacientes portadores de melanoma e pulmão do tipo não pequenas células, evidenciaram bons resultados, levando à incorporação dessas drogas para essas indicações.

O estudo BEACON, apresentado na ESMO em Barcelona e publicado simultaneamente no The New England Journal of Medicine, teve como objetivo avaliar se o uso de drogas alvos poderiam proporcionar benefício semelhante para os pacientes com câncer de cólon metastático.

Foi conduzido um estudo aberto, multicêntrico, fase III com 665 pacientes que progrediram a uma ou duas linhas de quimioterapia para câncer de cólon metastático com mutação do BRAF no códon V600E, randomizados em três braços.

O primeiro braço: esquema tríplice recebeu Encorafenib (BRAFi), Binimetinib (MEKi) e Cetuximab (anti-EGFR). O segundo braço: esquema duplo recebeu Encorafenib e Cetuximab. E o terceiro braço: controle recebeu Irinotecano ou FOLFIRI mais Cetuximab. Esses pacientes receberam o tratamento até toxicidade limitante ou progressão.

O endpoint primário do estudo foi a avaliação da sobrevida global e a taxa de resposta objetiva entre o braço do esquema tríplice e o braço controle. O endpoint secundário foi a avaliação da sobrevida global entre o baço do esquema duplo e o braço controle, como também, a sobrevida livre de progressão, a duração de resposta e a segurança do tratamento em todos os braços.

Após um follow-up mediano de 7,8 meses, o esquema tríplice obteve uma sobrevida global de 9,0 meses vs 5,4 meses em relação ao braço controle e uma redução do risco de morte em 48%, p< 0,001. Esse benefício foi independente do ECOG, idade, sexo, número de sítios de metástases, localização do primário, linhas de quimioterapia e valor do CEA e do PCR.

A sobrevida global no braço do esquema duplo foi de 8,4 meses e uma redução do risco de morte em 40%, p< 0,001 em relação ao braço controle. O estudo não teve poder para avaliar as sobrevidas entre o esquema tríplice e o esquema duplo. A taxa de resposta objetiva foi maior para o esquema tríplice 26% vs 2,0% para o braço controle, p< 0,001. A taxa de resposta no esquema duplo foi de 20%, p< 0,001. A sobrevida livre de progressão para o esquema tríplice foi de 4,3 meses, 4,2 meses para o esquema duplo 4,2 meses vs o braço controle 1,5 meses, p < 0,001 para ambos.

Em relação aos efeitos adversos não houve diferenças significativas em toxicidade sendo que o braço controle teve 61% de eventos grau ≥3 vs 58% no esquema tríplice e 50% no esquema duplo.


Encorafenib, Binimetinib, and Cetuximab in BRAF V600E–Mutated Colorectal Cancer.
published on September 30, 2019, at NEJM.org.DOI: 10.1056/NEJMoa1908075.
Encorafenib, Binimetinib, e Cetuximab no Cancer Colorretal BRAF V600E–Mutado.


Comentários do editor:
Este estudo teve uma grande relevância, pois muda a prática clínica, apresentando um novo tratamento aos pacientes com câncer de cólon metastático portadores de mutação do BRAF no códon V600E que progrediram ao tratamento inicial.

- O bloqueio da via MAPkinase com os inibidores de BRAF e MEK aumentaram a eficiência e reduziram o mecanismo de resistência tumoral.

- Apesar do estudo não ter poder para analisar o esquema tríplice vs o esquema duplo, os números de sobrevida global e taxa de resposta foram favoráveis ao primeiro esquema, no entanto é necessário a confirmação desses dados.

- O estudo foi positivo para os endpoint analisados, mostrando que a terapia-alvo, a terapia de precisão abre uma nova era no tratamento do câncer de colón metastático.


Editor:
Dr. Marcos Camandaroba
Oncologista Clínico especialista em tumores gastrointestinais do A.C.Camargo Cancer Center.


Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.