SBOC REVIEW

Resumo do artigo:
Este é um estudo fase 3 em que um total de 1.739 pacientes com câncer de pulmão do tipo não-pequenas células (CPNPC) metastático ou recorrente, com ausência de mutação de EGFR ou rearranjo de ALK, com expressão de PD-L1 de ≥ 1%, foram randomizados num esquema de 1:1:1 para receber Nivolumabe (Nivo) + Ipilimumabe (Ipi), Nivo em monoterapia ou quimioterapia padrão (QT) com doublet de platina por até 4 ciclos (N=1189). Os pacientes com expressão de PD-L1 menor de 1% foram randomizados em 1:1:1 para receber Nivo + Ipi, Nivo + QT com doublet de platina ou somente QT (N=550). O tratamento era continuado até progressão de doença, toxicidade limitante ou até completar 2 anos, no caso da imunoterapia. Os dados reportados neste trabalho foram referentes ao segundo desfecho primário de sobrevida global (SG) com Nivo + Ipi versus QT para os pacientes com 1% ou mais de expressão de PD-L1, com um follow-up mínimo de 29.3 meses. 

A sobrevida global desses pacientes foi superior no braço que recebeu a combinação de imunoterápicos com duração mediana de 17.1 meses (95% CI, 15.0 – 20.1) versus 14.9 meses para QT (95% CI 12.7 – 16.7) P=0.007, com taxas de sobrevida em 2 anos de 40 % versus 32.8%, respectivamente. A sobrevida global também foi maior em análise descritiva para os pacientes com expressão de PD-L1 < 1% com medianas de 17.2 meses para Nivo + Ipi (95% CI, 12.8 – 22.0) e 12.2 meses (95% CI, 9.2 – 14.3) para o grupo da QT.  A taxa de resposta objetiva foi superior no grupo de Nivo + Ipi com 35.9% (95%CI, 31.1 – 40.8) comparada com 30% (95%CI, 25.5 – 34.7) no grupo da QT. Efeitos adversos graves foram mais comuns no grupo da combinação de imunoterapia, com 24.5% versus 13.9% no grupo da QT, sendo rash cutâneo e alterações endócrinas os principais efeitos colaterais imunomediados.

Nivolumab plus Ipilimumab in Advanced Non-Small-Cell lung cancer. N Engl J Med. 2019 Sep 28. doi: 10.1056/NEJMoa1910231. [Epub ahead of print].
Nivolumabe e Ipilimumabe em câncer de pulmão não-pequenas células avançado.

Comentários do editor:
- Este é o primeiro estudo que demonstrou ganho de sobrevida global com a combinação de Nivo + Ipi no tratamento de primeira linha de CPNPC. A dose de Ipilimimabe neste trial foi de 1 mg/Kg a cada 6 semanas, menor se comparada com as doses utilizadas nos estudos prévios para melanoma e câncer renal, e mesmo assim se mostrou eficaz e segura. 

- Tanto os pacientes com câncer de pulmão escamoso quanto os pacientes com adenocarcinoma se beneficiaram da combinação de imunoterapia e não houve um biomarcador capaz de predizer resposta com a combinação de imunoterápicos, uma vez que houve ganho de SG independente da expressão de PD-L1 ou da carga mutacional tumoral.

- A combinação de Nivo + Ipi é mais uma opção no arsenal terapêutico para o tratamento de CPNPC metastático, porém, os dados ainda são recentes para dizer se esta é a melhor opção terapêutica na pratica clínica, considerando que no Brasil dispomos da combinação de imunoterapia com QT já aprovada também para a primeira linha.

Editora:
Dra. Bruna Migliavacca Zucchetti
Membro da SBOC; Médica assistente do Hospital Sírio-Libanês; Ex-Clinical fellow em Câncer de mama no Instituto Europeu de Oncologia – Milão, Itália.

Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.