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SBOC REVIEW

ESPECIAL ESMO 2019: Trilaciclib mais quimioterapia versus quimioterapia em pacientes com câncer de mama triplo-negativo metastático: um estudo multicêntrico, randomizado, aberto e de fase 2

Resumo do artigo:
Quimioterapia (QT) ainda constitui a base do tratamento de câncer de mama triplo negativo(CMTN) metastático, porém, tem efeito mielossupressor cumulativo que compromete a periodicidade do tratamento, prejudicando a sua eficácia ao longo do tempo. 

Trilaciclib é um inibidor de CDK4/6 endovenoso que mantém as células da medula óssea em G1, o que supostamente diminuiria a mielotoxicidade induzida pela QT, quando adicionado a ela. O racional dessa associação já foi testado previamente em câncer de pulmão de pequenas-células com resultados promissores.

Este é um estudo fase 2 em que 102 pacientes com CMTN metastático, com no máximo 2 linhas de tratamento prévio, foram randomizadas em três grupos. No grupo 1 as pacientes recebiam gemcitabina 1000 mg/m² + Carboplatina AUC 2 (GC) no D1 e D8 a cada 21 dias; grupo 2 com GC + trilaciclib 240 mg/m² no D1 e D8 a cada 21 dias e grupo 3 recebiam GC no D2 e D9 + trilaciclib no D1, D2, D8 e D9 a cada 21 dias. O end-point primário do estudo era duração da neutropenia G4 no primeiro ciclo de QT e ocorrência de neutropenia G4 ao longo do tratamento.

Apesar de o estudo ter falhado em demonstrar redução de mielossupressão com a adição do trilaciclib, com neutropenia severa no primeiro ciclo ocorrendo em 26% das pacientes do grupo 1, 36% das pacientes do grupo 2 e 23% das pacientes do grupo 3, sem diferença no número de pacientes com necessidade de suporte de G-CSF, as pacientes dos grupos 2 e 3 apresentaram taxas menores de trombocitopenia e de anemia com necessidade de transfusão sanguínea. Trilaciclib fez aumentar o tempo de exposição de GC com aumento no número de doses administradas de 4 para GC e 7-8 para os grupos com adição da droga. Não houve aumento da toxicidade com a adição do trilaciclib a QT, apesar dos grupos 2 e 3 terem sido expostas a GC por um período mais longo. Os efeitos colaterais mais comuns do Trilaciclib foram cefaléia, reação infusional e flebite.

O estudo também foi negativo para demonstrar diferença na taxa de resposta a QT e sobrevida livre de progressão de doença, mas demonstrou aumento de sobrevida global (SG) para os grupos que receberam trilaciclib, com mediana de 12.6 meses para o grupo 1, 20.1 meses para o grupo 2 e 17.8 meses para o grupo 3, com HR nos 2 grupos de 0.36 (0.19-0.67) p=0.0015.

 

Trilaciclib plus chemotherapy versus chemotherapy alone in patients with metastatic triple-negative breast cancer: a multicentre, randomised, open-label, phase 2 trial. Tan AR. Et al. Lancet Oncol 2019  doi.org/10.1016/S1470-2045(19)30616-3.
Trilaciclib mais quimioterapia versus quimioterapia em pacientes com câncer de mama triplo-negativo metastático: um estudo multicêntrico, randomizado, aberto e de fase 2.


Comentários do editor:
Apesar de ser uma amostra pequena e sem poder estatístico para o desfecho de SG, esse pode ser considerado um estudo negativo com resultados clínicos positivos, uma vez que trilaciclib demonstrou ser uma droga segura e houve benefício de SG.

- Uma das possíveis explicações para o aumento da SG é que as pacientes expostas ao trilaciclib conseguiram receber GC por um período mais longo e, no caso de doenças como CMTN, maior a exposição a QT, maior é a sobrevida.

- Novos estudos são necessários para incorporação do trilaciclib à prática clínica.


Editora:
Dra. Bruna Migliavacca Zucchetti
Membro da SBOC; Médica assistente do Hospital Sírio-Libanês; Ex-Clinical fellow em Câncer de mama no Instituto Europeu de Oncologia – Milão, Itália.


Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.