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SBOC REVIEW

ESPECIAL ESMO 2019: Veliparibe em terapia de primeira linha e manutenção no câncer de ovário

Resumo do artigo:
Apesar dos esforços para otimização do tratamento do câncer de ovário em primeira linha, cerca de 75% das pacientes apresentam progressão de doença dentre os três primeiros anos de acompanhamento. A combinação de inibidores da PARP e quimioterapia permanece inexplorada em razão de toxicidades da combinação, em especial hematológica. Hipotetiza-se que a combinação de Veliparibe e quimioterapia, seguida de manutenção com o inibidor de PARP possa aumentar a sobrevida livre de progressão (SLP) das pacientes.

Este artigo traz os resultados do VELIA/GOG-3005, um estudo randomizado, fase 3, duplo-cego, envolvendo 1140 pacientes com câncer de ovário, peritônio ou tuba uterina, tipo histológico seroso de alto grau, com estadiamento FIGO III ou IV. Essas pacientes foram randomizadas para receber 6 ciclos de quimioterapia com regime carboplatina AUC 6 e paclitaxel 175mg/m2 administrados a cada 3 semanas ou 80mg/m2 semanalmente (grupo 1, controle) mais placebo e manutenção com placebo, ou o mesmo regime de quimioterapia associado a veliparibe concomitante a quimioterapia e manutenção com placebo (grupo 2) ou ainda, veliparibe concomitante à quimioterapia e em manutenção por 30 ciclos (grupo 3). Durante a quimioterapia, as pacientes receberam 150mg de veliparibe, via oral, duas vezes ao dia ou placebo e aquelas randomizadas para manutenção receberam a dose de 600mg ao dia, em 2 tomadas por 2 semanas consecutivas e então 800mg/dia. Desse total de pacientes, 19% apresentavam mutação germinativa de BRCA e 7% somática. Além disso, 329 pacientes (29%) apresentavam deficiência na via de recombinação homóloga (DRH), definida como um score de 33 ou superior no teste myChoice, Myriad. O endpoint primário era sobrevida livre de progressão e foi testado de maneira hierárquica entre o grupo 3 e o grupo controle nos grupos BRCA-mutados, DRH e na população com intenção de tratamento (ITT).

Com um follow-up de 28 meses, a SLP naquelas pacientes portadoras de mutação em BRCA com uso continuado de veliparibe foi de 34,7 meses versus 22 meses no grupo controle (HR: 0,44; IC 95% 0,28-0,68 p<0,001). Naquela coorte de pacientes com DRH a SLP foi de 31,9 meses e 20,5 meses, respectivamente (HR:0,57; IC 95% 0,43-0,76 p<0,001). E na população ITT foi de 23.5 meses e 17.3 meses respectivamente (HR: 0.68; 95% CI, 0.56 a 0.83; P<0.001). Análise exploratória das pacientes com via de reparo proficiente o HR foi de 0,81, 95% IC 0,60-1,09, não alcançando significância estatística. Nesta avaliação, os dados de sobrevida global não estão suficientemente maduros.

Em relação à toxicidade, observou-se mais comumente náusea associada ao uso do inibidor de PARP e uma maior incidência de plaquetopenia com o uso continuado de veliparibe. Cerca de 24% necessitou redução de dose da medicação e interrupções no tratamento ocorreram em cerca de 40% dos casos durante a fase de manutenção, com 19% de descontinuação da droga, em geral relacionada à náusea. De nota, ressalta-se um caso em que houve o diagnóstico de síndrome mielodisplásica. Mesmo diante desses eventos, não observou-se uma queda significativa na qualidade de vida dessas pacientes.

 

Veliparib with First-Line Chemotherapy and as Maintenance Therapy in Ovarian Cancer. published on September 28, 2019, at NEJM.org.DOI: 10.1056/NEJMoa1909707.
Veliparibe em Terapia de Primeira Linha e Manutenção no Câncer de Ovário.


Comentários do editor:
Em termos de possibilidades terapêuticas atuais, o uso de olaparibe, como avaliado no estudo SOLO-1, se restringe a pacientes com mutação em BRCA, germinativa ou somática, com SLP de 41 meses versus 13,8 meses e HR:0,30 p<0,001, envolvendo majoritariamente pacientes com resposta completa ao tratamento e apenas cerca de 20% com doença residual. Esse perfil de pacientes se assemelha ao do estudo atual, em que cerca de 30% apenas das pacientes apresentavam doença residual após citorredução. Interessantemente, no estudo VELIA avaliou-se a população não incluída no estudo SOLO-1, com mulheres portadoras de deficiência e proficiência de RH. Evidencia-se no subgrupo de pacientes com deficiência de RH resultados satisfatórios, com ganho de cerca de 10 meses em SLP. Este estudo mostra o real benefício de inibidores de PARP nesta população, assim como o estudo PRIMA (apesar de neste estudo tratar-se de uma população de mais alto risco e com definição de deficiência de RH por score igual ou superior a 42 no teste myChoice-Myriad), estudo também publicado nesta edição da SBOC Review. Ambos estudos trazem o questionamento quanto à importância em relação à definição conceitual e de valores de cut-off para os testes de deficiência de recombinação homóloga, relevantes tanto para a prática clínica quanto para o desenho de futuros estudos clínicos.


Editora:
Dra. Michelle Samora
Membro da SBOC; Oncologista Clínica do Centro Paulista de Oncologia/ Grupo Oncoclínicas; e da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). É Doutora em Ginecologia Oncológica pela UNIFESP. 


Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.