SBOC REVIEW
Especial ESMO 2022 – Tumores Cutâneos e Sarcoma
Pembrolizumabe neoadjuvante versus adjuvante para melanoma ressecado estadio III-IV (SWOG S1801)
Resumo do artigo:
O uso da imunoterapia avança com os resultados do ensaio clínico SWOG S1801 apresentado durante o Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO) 2022. Pacientes com melanoma ressecável estadio III-IV que receberam pembrolizumabe neoadjuvante tiveram uma redução no risco de recorrência quando comparados aos que receberam a imunoterapia apenas após a cirurgia. Em ambos os braços foram administrados imunoterapia com período e dose idênticos. O grupo submetido a neoadjuvância fez 3 ciclos prévios à cirurgia tendo uma redução estatisticamente significativa de 41% (RR=0,59, IC de 95%: 0,40-0,86, p=0,0015) na sobrevida livre de eventos quando comparado ao grupo submetido a adjuvância em seguimento de 14,7 meses. O benefício foi observado independente de idade, sexo, capacidade funcional, estadio, valores de lactato desidrogenase, ulceração e presença ou ausência da mutação do BRAF. O racional do estudo se baseia na otimização da resposta à imunoterapia no contexto neoadjuvante pela maior carga imunológica que a lesão primária carrega. Importante não só para o melanoma, os achados desde estudo adicionam conceitos sobre a resposta biológica tumoral de neoplasias sensíveis a imunoterapia.
LBA6 - Neoadjuvant versus adjuvant pembrolizumab for resected stage III-IV melanoma (SWOG S1801).
Pembrolizumabe neoadjuvante versus adjuvante para melanoma ressecado estadio III-IV (SWOG S1801).
Tratamento com linfócitos infiltrantes tumorais (TIL) versus ipilimumabe em melanoma avançado: resultados de um estudo fase III multicêntrico randomizado
Resumo do artigo:
Apesar dos recentes avanços no tratamento de pacientes com melanoma metastático, uma parcela significativa irá progredir após uso de anti-PD-1. Este cenário se mostra desafiador, especialmente para pacientes sem mutações BRAF, com poucas opções disponíveis. Entretanto, nos últimos anos, houve um grande desenvolvimento no conhecimento sobre terapia celular e sua aplicabilidade no tratamento de diversos tumores, especialmente no melanoma. Neste estudo, 168 pacientes, a grande maioria refratários ao tratamento com anti-PD-1 eram randomizados para uso de ipilimumabe ou TIL, um tipo de terapia celular. Aqui, os pacientes eram submetidos a ressecção de alguma lesão metastática de onde seus linfócitos peritumorais eram separados e amplificados. Concomitantemente, o mesmo paciente é submetido a uma depleção linfocitária com o uso de ciclofosfamida e fludarabina para posterior infusão dos seus linfócitos amplificados associado ao uso de IL2 visando expansão clonal. O resultado foi uma taxa de resposta da ordem de 49% com TIL versus 21% com ipilimumabe, com uma sobrevida livre de progressão de 7,2 meses versus 3,1 meses respectivamente (HR=0,50, IC 95%: 0,35-0,72, p<0,001). Em relação aos eventos adversos, 100% dos pacientes do braço com TIL apresentaram algum grau de toxicidade sendo a grande maioria durante o período de infusão com posterior recuperação após sua desospitalização. Esses resultados vêm a confirmar a importância do uso de terapia celular em pacientes com melanoma, devendo se tornar mais uma opção de tratamento futuro, além de trazer como grande desafio sua aplicabilidade em diversos centros de referência, devido a sua logística e grau de complexidade.
LBA3 - Treatment with tumor-infiltrating lymphocytes (TIL) versus ipilimumab for advanced melanoma: Results from a multicenter, randomized phase III trial.
Tratamento com linfócitos infiltrantes tumorais (TIL) versus ipilimumabe em melanoma avançado: resultados de um estudo fase III multicêntrico randomizado.
Cemiplimabe neoadjuvante em pacientes com carcinoma escamoso de pele com estadio II-IV (M0): análise primária de um estudo fase II
Resumo do artigo:
No estudo multicêntrico fase II apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO) 2022 e publicado simultaneamente na New England Journal of Medicine, foi avaliado a taxa de resposta patológica do uso de cemiplimabe antes da cirurgia em pacientes com carcinoma escamoso de pele (CSCC) ressecável estadio II, III e IV. 50,6% dos pacientes apresentaram resposta patológica completa e 12,7 resposta patológica maior (menos de 10% de células tumorais) por revisão independente. Segundo os autores, é a maior taxa observada em um estudo multicêntrico de monoterapia neoadjuvante anti-PD-1 para qualquer tipo de tumor sólido. Em relação ao perfil de segurança, 17,7% apresentaram eventos adversos severos (grau ≥ 3), consistente com estudos prévios. O CSCC é um dos principais tipos de câncer, muitas vezes localizado em face e pescoço e, apesar de raro, pode apresentar comportamento agressivo demandando cirurgia ou radioterapia que podem resultar em perdas funcionais e desfiguração. Em 2018, U.S. Food and Drug Administration (FDA) aprovou o uso de cemiplimabe para pacientes com CSCC metastático e não candidatos a cirurgia ou radioterapia curativas. Os resultados expandem conhecimento para que novos estudos ampliem o uso de imunoterapia no CSCC como no cenário de doença ressecável, trazendo a luz ainda informações relevantes como taxa de recidiva e necessidade de adjuvância para o subgrupo de pacientes de alto risco.
789O - Neoadjuvant cemiplimab in patients (pts) with stage II–IV (M0) cutaneous squamous cell carcinoma (CSCC): Primary analysis of a phase II study.
Cemiplimabe neoadjuvante em pacientes com carcinoma escamoso de pele com estadio II-IV (M0): análise primária de um estudo fase II.
Estudo DeFi: Estudo fase III randomizado entre nirogacestate versus placebo em tumor desmoide em progressão
Resumo do artigo:
Tumores desmoides são tumores raros, localmente agressivos que acometem predominantemente pacientes jovens. Seu curso evolutivo é, por vezes, bastante imprevisível, com diversos relatos de regressões espontâneas. Contudo para pacientes em progressão, a despeito de alguns estudos principalmente com inibidores de tirosina quinase que apresentam taxas de respostas significativas, nenhuma droga foi formalmente aprovada para essa indicação. Neste trial uma nova classe de drogas, os inibidores de gama secretase, foi testada versus placebo em paciente com tumores desmoide em progressão. Há todo um racional para o desenvolvimento deste estudo, uma vez que os inibidores de gama secretase inibem a via NOTCH que comumente se encontra ativada no tumor desmoide. Foi observado um aumento na taxa de resposta de 41% para o braço com nirogacestate sendo de 8% para o placebo. Com relação a sobrevida livre de progressão foi visto uma melhora de 71% para o braço experimental (RR=0,29, IC de 95%: 0,15-0,55, p0,001) sendo sua mediana ainda não alcançada contra 15,1 meses para o braço placebo. A incidência de eventos adversos foi de 95% sendo a grande maioria grau 1 e 2 e de origem gastrointestinal (diarreia 84%, náusea 54%). Aqui uma especial atenção a incidência de disfunção ovariana que foi da ordem de 75% porem com resolução na grande maioria dos casos, principalmente após interrupção da droga. Esses dados são os primeiros resultados positivos de um estudo fase III de uma nova classe de droga, sendo para uma doença rara e órfã de aprovações, agregando ganho em sobrevida livre de progressão, taxa de resposta e qualidade de vida.
LBA2 - DeFi: A phase III, randomized controlled trial of nirogacestat versus placebo for progressing desmoid tumors (DT).
Estudo DeFi: Estudo fase III randomizado entre nirogacestate versus placebo em tumor desmoide em progressão.
1491MO - Novas referências para a concepção de ensaios clínicos em lipossarcoma avançado ou metastático (LPS) ou sarcoma sinovial (SS): Uma meta-análise EORTC do grupo de sarcoma de partes moles e ósseo
Resumo do artigo:
Uma das maiores dificuldades quanto ao desenvolvimento de estudos clínicos para doenças raras é a definição de parâmetros de eficácia. Recentemente houve uma atualização quanto aos dados de sobrevida livre de progressão (SLP) em 3 e 6 meses para pacientes com leiomiossarcoma. De forma similar, essa apresentação visa atualizar baseado em dados históricos, as novas referencias para outras duas etiologias, lipossarcoma (LPS) e sinoviosarcoma (SS). Após compilação de 25 trials e mais de 1.000 pacientes para LPS e 13 trials com 348 pacientes para SS se estabeleceu dados de SLP em 3 e 6 meses para LPS de 69% e 56% para primeira linha e de 49% e 28% para linhas de tratamento posteriores. De forma análoga foi visto SLP em 3 e 6 meses para SS de 74% e 56% para primeira linha e 45 e 25 % em outras linhas. Com isso, os autores concluem que as novas referências futuras para estabelecimento de eficácia em estudos clínicos devem ser uma SLP em 3 e 6 meses de 79% e 69% em primeira linha e 63% e 44% em linhas posteriores para LPS e 82% e 69% para primeira linha e 60% e 41% para SS previamente tratados. Com essa atualização, novos parâmetros de eficácia se estabelecem, criando bases para desenvolvimento de novos estudos e referências para definição de efetividade para novas drogas.
1491MO - New benchmarks for designing clinical trials in advanced or metastatic liposarcoma (LPS) or synovial sarcoma (SS): An EORTC soft tissue and bone sarcoma group meta-analysis.
1491MO - Novas referências para a concepção de ensaios clínicos em lipossarcoma avançado ou metastático (LPS) ou sarcoma sinovial (SS): Uma meta-análise EORTC do grupo de sarcoma de partes moles e ósseo.
Avaliador científico:
Dr. Cícero Luiz Cunha de Sousa Martins
Residência médica em Oncologia Clínica pelo Hospital INCA
Oncologista Clínica do INCA e Coordenador de tumores cutâneos e sarcoma do Américas Oncologia