SBOC REVIEW
Especial ESMO 2024 – Tumores Geniturinários
Eficácia e segurança de darolutamida associada à terapia de deprivação androgênica (TDA) em pacientes com câncer de próstata metastático castração sensível – ARANOTE
O estudo fase 3 ARANOTE se destacou na ESMO 2024 na temática de câncer de próstata, apresentado na mini sessão oral por Dr. Fred Saad. O trabalho busca responder se há benefício em sobrevida livre de progressão radiológica (rSLP) com o uso de darolutamida na dose de 600 mg de 12 em 12h contínuo associado a TDA, no cenário do câncer de próstata metastático castração sensível.
O perfil populacional (669 pacientes) foi composto de 70% apresentando doença de alto volume (critérios CHAARTED), cerca de 71-75% metastáticos de novo, quase 70% Gleason ≥ 8 e 12% com metástases viscerais.
O trial demonstrou positividade para seu desfecho primário: houve um acréscimo absoluto de 18,2% em 2 anos para rSLP (70,3% vs 52,1%) com um HR de 0,54 (IC 95%, 0,41 – 0,71) p<0,0001 a favor do braço experimental. A mediana para o braço de darolutamida não foi atingida. O benefício foi consistente em todos os subgrupos avaliados, incluindo volume de doença. 62% dos pacientes atingiram PSA < 0,2 ng/mL.
Eventos adversos (EA) G3/G4 foram bastante similares entre os grupos, na ordem de 30%. A sobrevida global ainda possui dados imaturos. A darolutamida já possui dados robustos, no estudo ARASENS, para a sua utilização na terapia tripla em um perfil específico de população de alto volume/ risco; agora, ganha espaço ao lado de outras opções de tratamento na estratégia de terapia dupla (novo antiandrogênico – darolutamida, apalutamida, enzalutamida, abiraterona – e TDA). Um dos grandes desafios nesse cenário se configura em como escolher a combinação adequada para cada paciente, levando-se em conta perfil de eventos adversos, posologia e acesso.
Enzalutamida vs Enzalutamida e Radium-223 em câncer de próstata metastático para osso castração resistente assintomáticos ou pouco sintomáticos – PEACE-3
Dr. Silke Gillessen realizou a apresentação dos dados do estudo PEACE-3 na sessão presidencial da ESMO 2024, sendo outro destaque na temática de câncer de próstata. Trata-se de um trabalho fase 3 que incluiu 446 pacientes portadores de câncer de próstata castração-resistente com metástases ósseas.
A randomização elencou pacientes para receberem enzalutamida 160 mg/dia associado ou não a radium-223 (emissor de partícula alfa cálcio-mimético capaz de realizar quebra de fita dupla de DNA em implantes ósseos) na dose de 55 kBq/kg a cada 4 semanas, por 6 ciclos.
O objetivo primário do estudo foi sobrevida livre de progressão radiológica (rSLP). Apenas 30% da população havia recebido docetaxel e 2-3% abiraterona previamente. 42-44% apresentavam mais de 10 lesões ósseas e 33-35% doença extraesquelética. Para seu desfecho primário, o estudo foi positivo, apresentando um ganho absoluto de 3 meses na mediana de rSLP a favor do braço experimental (19,4 vs 16,4 meses), HR 0,69 (IC 95%, 0,54 – 0,87; p=0,0009). Levando-se em conta que 80% dos eventos de sobrevida global ocorreram, o trial demonstrou uma redução do risco relativo de morte de 31% no uso da terapia combinada com significância estatística, porém em avaliação interina. Não houve diferença em relação a eventos esqueléticos entre os tratamentos. Houve um acréscimo de 9% de eventos adversos (EA) G3/5 para o braço experimental, sobretudo em hipertensão (33%), fadiga (5%), fratura (5%), anemia (4,6%) e neutropenia (4,6%).
O estudo traz um benefício clinicamente relevante e bem tolerável, porém traz o questionamento de como sequenciar essa terapia na jornada de tratamento do paciente, uma vez que uma parcela considerável dos pacientes atualmente já recebeu novos antiandrogênicos em linhas prévias.
Durvalumabe neoadjuvante associado a quimioterapia seguido de cistectomia radical e durvalumabe adjuvante em câncer de bexiga músculo invasivo – NIAGARA
O estudo NIAGARA se configura como um dos destaques em câncer de bexiga na ESMO 2024. Apresentado na sessão presidencial pelo Dr. Thomas Powles, o trabalho busca avaliar o papel de adicionar durvalumabe perioperatório no tratamento da doença localizada.
Foram randomizados 1063 pacientes portadores de carcinoma urotelial, cT2/T4a N0/1, elegíveis à cisplatina para receber cisplatina e gemcitabina neoadjuvante associado ou não a durvalumabe 1500 mg a cada 3 semanas por 4 ciclos, seguido da mesma imunoterapia a cada 4 semanas na fase adjuvante por 8 ciclos. Os endpoints primários eram sobrevida livre de eventos (SLE) e resposta patológica completa (pCR). 60% dos pacientes possuíam estadio clínico >T2N0, 14-17% eram carcinoma urotelial com diferenciação histológica e 5% N1.
O estudo foi positivo para seu desfecho de SLE com uma mediana não atingida no braço experimental versus 46,1 meses no braço controle, HR 0,68 (IC 95%, 0,56 – 0,82; p<0,0001). O benefício foi consistente em todos os subgrupos avaliados. Em relação à pCR, na análise formal em janeiro de 2022, houve um acréscimo numérico de 25,8% para 33,8% a favor do braço experimental, porém sem significância estatística. Em abril de 2024, houve uma reanálise com inclusão de 59 amostras, na qual houve um benefício numérico de quase 10% em pCR, com significância estatística.
Em seu desfecho secundário, o trial demonstrou um benefício estatisticamente significativo para a sobrevida global (SG). Houve uma redução do risco relativo de morte de 25% a favor do braço experimental (IC 95%, 0,59 – 0,93; p<0,0106) com um acréscimo absoluto em 2 anos na taxa de SG de 7%.
Sobre o perfil de segurança, não houve diferença em eventos adversos G3/4 entre os braços do estudo.
Tivozanibe e Nivolumabe versus Tivozanibe em monoterapia em câncer renal de células claras metastático após progressão a imunoterapia – TiNivo-2
Em câncer renal, ganha destaque o estudo TiNivo-2 que busca responder à pergunta: será que há benefício em fazermos imunoterapia pós-progressão ao uso de imunoterapia? Esse estudo, apresentado pelo Dr. Toni Choueiri, é um fase 3 randomizado que incluiu 343 pacientes portadores de câncer renal de células claras após progressão a uma ou duas linhas prévias, sendo uma delas imunoterapia, para receber tivozanibe (inibidor de tirosina quinase VEGFR) 0,89 ou 1,34 mg/dia D1-D21 com ou sem nivolumabe 480 mg a cada 28 dias.
O objetivo primário do estudo foi sobrevida livre de progressão (SLP). 66% dos pacientes possuíam risco IMDC intermediário e 16% risco desfavorável. 71% foram expostos à imunoterapia prévia e 35-39% a pelo menos 2 linhas de tratamento sistêmico. Para seu desfecho primário, o estudo foi negativo e não houve diferença em sobrevidas global e livre de progressão na associação de nivolumabe + tivozanibe versus tivozanibe em monoterapia, apresentando curvas de sobrevida sobrepostas. Isso foi igual para quem se expôs à imunoterapia em linhas mais precoces ou tardias.
Esse estudo agrega como mais uma evidência, agora um anti-PD-1 sendo avaliado, da ausência de benefício da reexposição à imunoterapia no cenário de carcinoma de células claras renais avançado.
Avaliador científico:
Dr. Otavio Augusto Noschang Moreira
Oncologista clínico na Oncologia D’Or Paraná e Hospital Universitário Evangélico Mackenzie – Curitiba/PR
Residência em Oncologia Clínica pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP – FMUSP) – São Paulo/SP
Instagram: @otaviomoreira.oncologia
Atuação: Curitiba/PR