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SBOC REVIEW

Especial ESMO 2024 – Tumores Ginecológicos

Pembrolizumabe e quimiorradioterapia no câncer do colo do útero localmente avançado de alto risco: resultados de sobrevida global do estudo randomizado, duplo-cego, fase 3 – ENGOT-cx11/GOG-3047/KEYNOTE-A18

Lorusso D et al. Pembrolizumab Plus Chemoradiotherapy for High-Risk Locally Advanced Cervical Cancer: Overall Survival Results from the Randomized, Double-Blind, Phase 3 ENGOT-cx11/GOG-3047/KEYNOTE-A18 Study

Trata-se de um estudo fase 3 que avaliou a adição do pembrolizumabe no tratamento de quimiorradioterapia (QRT) concomitante no câncer do colo do útero de alto risco (FIGO 2014 IB2-IIB se linfonodo positivo e FIGO 2014 III-IVA), em pacientes virgens de tratamento. Foram randomizadas 1060 pacientes para receber QRT padrão com cisplatina, seguida de braquiterapia, associada a pembrolizumabe 200 mg a cada 3 semanas por 5 ciclos, seguido de pembrolizumabe 400 mg a cada 6 semanas por 15 ciclos ou placebo nos mesmos intervalos.

As características das pacientes foram bem balanceadas entre os grupos. Destaco que 94% da população era PD-L1 positivo, 85% tinham linfonodo positivo e 89% foi submetida à radioterapia IMRT ou VMAT. Os desfechos primários foram sobrevida livre de progressão (SLP) por RECIST 1.1 e sobrevida global (SG). Com um follow-up de 17,9 meses, o estudo mantém positividade do seu desfecho primário SLP, com uma SLP em 2 anos de 68% para o braço que recebeu pembrolizumabe e 57% para o braço controle (HR 0.70; IC 95%, 0,55 – 0,89; p=0,002).

Em relação à SG, o estudo também demonstrou superioridade do esquema com pembrolizumabe, com SG 3 anos de 82,6% vs 74,8% (HR 0,67; IC 95%, 0,50 – 0,90). Destaco que na análise de subgrupos o benefício se dá principalmente à população FIGO 2014 estágios III e IVA. A taxa de resposta objetiva foi de 87,5% vs 83,5%, com uma maior duração de resposta no braço intervenção. A toxicidade foi considerada manejável, com efeitos colaterais esperados para tratamento com imunoterapia e não houve aumento significativo na incidência de diarreia. Como conclusão, esse é um estudo positivo, no qual o esquema com a adição do pembrolizumabe levou a benefício em SG e SLP, com toxicidades manejáveis. Assim, esse pode se tornar o novo padrão de tratamento para esse grupo selecionado de pacientes.

 

Imunoterapia adjuvante no câncer de endométrio de alto risco – estudo ENGOT-EN11/GOG-3053/KEYNOTE-B21

Van Gorp T et al. Adjuvant IO in high-risk endometrial cancer ENGOT-EN11/GOG-3053/KEYNOTE-B21 Study Design

Trata-se de um estudo fase 3, randomizado, que avaliou a adição do pembrolizumabe adjuvante no câncer de endométrio. Foram incluídas pacientes com carcinoma endometrial ou carcinossarcoma recém diagnosticadas, submetidas a cirurgia curativa sem doença residual e com alto risco de recorrência (estágio cirúrgico I/II FIGO 2009, não endometrióide, com invasão miometrial; estágio cirúrgico I/II FIGO 2009, qualquer histologia, com p53abn e invasão miometrial; estágio cirúrgico III/IVA FIGO 2009, qualquer histologia).

Foram randomizadas 1095 pacientes para receber quimioterapia padrão com carboplatina e paclitaxel a cada 3 semanas por 4 ou 6 ciclos associado a pembrolizumabe 200 mg a cada 3 semanas por 6 ciclos, seguido de pembrolizumabe de manutenção 400 mg a cada 6 semanas por 6 ciclos ou placebo nos mesmos intervalos. A radioterapia adjuvante, com ou sem cisplatina, se indicada, poderia ser feita no período da manutenção.

A idade mediana da população foi de 62 anos, 26% das pacientes apresentavam deficiência de enzimas de reparo (dMMR), 54% histologia endometrióide e 28% não foi submetida à radioterapia. O estudo tinha como desfechos primários sobrevida livre de doença e sobrevida global. Foi um estudo negativo para seu desfecho primário SLD, na população por intenção de tratar, com uma SLD em 2 anos de 75% vs 76% (HR 1,02; IC 95%, 0,79 – 1,32) para os braços intervenção e controle, respectivamente. Na análise de subgrupo pré-especificada, houve benefício para a população dMMR, com uma redução do risco de recorrência de 69% (HR 0,31; IC 95%, 0,14 – 0,69). Dados de sobrevida global ainda não estão maduros. Em relação às toxicidades, houve uma maior proporção de eventos imunomediados ≥ G3 no braço da imunoterapia, mas os eventos foram considerados manejáveis e não houve registro de óbito relacionado ao tratamento.

Por fim, esse é um estudo negativo para seu desfecho primário, porém o subgrupo dMMR pode se beneficiar. Aguardamos a publicação de demais dados.

 

Dados finais de sobrevida global em pacientes recém diagnosticadas com câncer de ovário tratadas com niraparibe de manutenção na primeira linha – PRIMA/ENGOT-OV26/GOG-3012

Gonzáles-Martin A et al. Final overall survival in patients with newly diagnosed advanced ovarian cancer treated with niraparib first-line maintenance: results from PRIMA/ENGOT-OV26/GOG-3012

PRIMA é um estudo fase 3, randomizado, que avaliou o uso do niraparibe em pacientes com câncer de ovário recém diagnosticadas com alto risco de recorrência. O benefício em sobrevida livre de progressão (SLP) já havia sido demonstrado e essa apresentação trouxe os dados finais de sobrevida global (SG).

Foram incluídas pacientes com estágio clínico (EC) FIGO III com doença residual após citorredução primária (23,1%) ou consideradas inelegíveis para a mesma após a neoadjuvância (66,7%) e pacientes com EC IV (35.0%). Dessas, cerca de 50% (373 pacientes) apresentavam tumores com deficiência na via de recombinação homóloga (DRH) identificada por meio do teste myChoice.

As pacientes foram randomizadas 2:1 para receber niraparibe ou placebo por um período de 36 meses, ou até progressão de doença e deveriam iniciar tratamento em até 12 semanas do término da quimioterapia. A dose de niraparibe era de 300 mg/dia e reduzida para 200 mg/dia naquelas pacientes com peso abaixo de 77 kg ou plaquetas abaixo de 150 mil. O desfecho primário do estudo era a SLP no grupo de pacientes com DRH e na população global do estudo.

 

Com um follow-up de 6,2 anos, o estudo mantém positividade no seu desfecho primário, com SLP em 5 anos: população com DRH 35% vs 16% (HR 0,51; IC 95%, 0,40 – 0,66); população global 22% vs 12% (HR 0,66; IC 95%, 0,55 – 0,78). Na população proficiente apresentou SLP de 8% vs 7% (HR 0,67; IC 0,50 – 0,89).

Em relação ao desfecho secundário de SG, não houve diferença entre os braços de niraparibe e placebo, independente do status de recombinação homóloga. A SGm na população global foi de 46,6 m vs 48,8 m (HR 1,01; IC 95% 0,84 – 1,23; p=0,88) e na população com DRH de 71,9 m vs 69,8 m (HR 0,95; IC 95% 0,70 – 1,29).

Como conclusão, é um estudo que mantém positividade para seu desfecho primário de SLP, porém sem benefício em SG, com perfil de segurança semelhante ao previamente exposto.

 

Avelumabe + metotrexato para erradicar tumores trofoblásticos gestacionais de baixo risco em cenário de 1ª linha – estudo TROPHAMET

You B et al. Avelumab + methotrexate to eradicate low-risk gestational trophoblastic tumors in 1st-line setting: TROPHAMET trial.

Trata-se de um estudo aberto, fase 1 / 2, que avaliou a adição do avelumabe ao tratamento com metotrexato, em pacientes com tumor trofoblástico gestacional de baixo risco. A fase 1 consistiu na avaliação da segurança e tolerabilidade do tratamento e a fase 2 na avaliação da eficácia do tratamento, avaliada pela negativação do beta HCG (BHCG).

Foram incluídas pacientes com mais de 18 anos, portadoras de tumor trofoblástico gestacional de baixo risco (FIGO score ≤ 6), com indicação de tratamento com MTX em primeira linha. As pacientes receberam o tratamento da seguinte maneira: MTX – regime de tratamento de 8 dias – 1 mg/kg intramuscular nos dias 1,3,5,7, alternando com ácido folínico via oral, a cada duas semanas, associado a avelumabe 800 mg intravenoso a cada 2 semanas no D1 antes do MTX. A administração do tratamento era feita até normalização do BHCG, seguida de 3 ciclos de consolidação.

Foram incluídas 26 pacientes. Em relação às características da população, 38% das pacientes tinham FIGO score 5-6, 15% tinham mola invasora e 4% coriocarcinoma. Em relação à tolerabilidade, pareceu ser uma combinação segura, na qual os principais eventos adversos G3 foram mucosite (7,4%) e hepatotoxicidade (7,4%), sem eventos ≥ G4. Em relação à eficácia, 96,2% das pacientes apresentaram normalização do BHCG, com mediana de normalização de 3,32 meses. Com um follow-up de 24,8 meses, nenhuma recorrência foi observada, a despeito da suspensão do tratamento.

Como conclusão, esse é um estudo animador para a adição de imunoterapia ao MTX, no qual demonstrou altas taxas de controle de doença, com bom perfil de segurança.

 

Avaliadora científica:

Dra. Sofia Vidaurre Mendes

Oncologista Clínica na Oncologia D’or – Rio de Janeiro/RJ

Oncologista Clínica pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP-FMUSP)

Título de Especialista em Oncologia Clínica pela SBOC/AMB

Pesquisa Clínica – INCA HCII e IDOR – Rio de Janeiro/RJ

Instagram: @sofiavidaurre

Cidade de atuação: Rio de Janeiro/RJ