SBOC REVIEW
Especial ESMO 2024 – Tumores Mamários
Pembrolizumabe neoadjuvante mais quimioterapia seguido de pembrolizumabe adjuvante para câncer de mama triplo negativo doença inicial de alto risco: resultado de sobrevida global do estudo fase III KEYNOTE-522
Schmid P et al. LBA4 – Neoadjuvant pembrolizumab or placebo plus chemotherapy followed by adjuvant pembrolizumab or placebo for high-risk early-stage TNBC: Overall survival results from the phase III KEYNOTE-522 study
O estudo pivotal KEYNOTE-522 validou a aprovação de pembrolizumabe (pembro) no tratamento perioperatório do câncer de mama triplo negativo (CMTN) doença inicial de alto risco a partir dos seus resultados iniciais com ganho em resposta patológica e sobrevida livre de eventos.
Na ESMO 2024 foram apresentados dados atualizados do desfecho secundário de sobrevida global (SG). 1174 pacientes com estadio T1c N1-2 ou T2-4 N0-2 foram randomizados 2:1 para pembro 200 mg ou placebo a cada 3 semanas mais quimioterapia neoadjuvante (4 ciclos de paclitaxel e carboplatina, seguido de 4 ciclos de doxorrubicina ou epirrubicina e ciclofosfamida), após cirurgia recebiam pembro ou placebo adjuvante por até 9 ciclos.
Após seguimento mediano de 75 meses, 14,7% no braço pembro e 21,8% no braço placebo haviam falecido: SG em 5 anos foi de 86,6% (IC 95%, 84,0-88,8) contra 81,7% (IC 95%, 77,5-85,2), respectivamente, com um HR de 0,66 (IC 95%, 0,50-0,87; P=0,0015), com significância estatística. Benefício foi consistente entre os subgrupos, incluindo por expressão de PD-L1 e acometimento linfonodal. Em pacientes com resposta patológica completa, SG em 5 anos foi de 95,1% para pembro contra 94,4% para placebo, enquanto naqueles sem resposta patológica completa foi de 71,8% contra 65,7%, respectivamente. A incidência de eventos adversos grau ≥3 foi similar entre os braços de 77,1% para pembro e 73,3% para placebo, com incidência de óbitos de 0,5% e 0,3%, respectivamente.
Os dados atualizados de sobrevida global reafirmam a indicação de pembro nesse cenário com ganho de 5% em 5 anos com redução de 34% do risco de óbito; fica a discussão da necessidade de pembro adjuvante em pacientes com resposta patológica completa.
Trastuzumabe-deruxtecano em pacientes com câncer de mama avançado HER2 positivo com ou sem metástase cerebral: resultados iniciais do DESTINY Breast-12
Lin N et al. LBA18 – Trastuzumab deruxtecan (T-DXd) in patients (pts) with HER2+ advanced/metastatic breast cancer (mBC) with or without brain metastases (BM): DESTINYBreast-12 primary results
Estudos prévios menores ou retrospectivos mostravam atividade de trastuzumabe-deruxtecano (T-DXd) em pacientes com câncer de mama metastático (CMM) HER2 positivo com metástase cerebral (MC); o DESTINY Breast-12 é um estudo fase 3b/4, multicêntrico, aberto, braço único para avaliar esse cenário.
504 pacientes com CMM HER2 positivo previamente submetidos a uma ou mais linhas de tratamento (não permitido tucatinibe prévio) foram alocados numa coorte com MC [doença estável ou ativa em sistema nervoso central (SNC) sem necessidade de tratamento local imediato (uso de dexametasona ≤3 mg/dia)] ou numa coorte sem MC, ambas recebendo T-DXd 5,4 mg/kg a cada 3 semanas. Desfecho primário de sobrevida livre de progressão (SLP) na coorte MC em 12 meses foi de 61,6% (IC 95%, 54,9-67,6); especificamente em SNC a SLP em 12 meses foi de 58,9% (IC 95%, 51,9-65,3), sem diferença se doença em SNC estável com 57,8% ou ativa com 60,1%.
Em relação a taxa de resposta em SNC foi de 79,2% (IC 95%, 70,2-88,3) e 62,3% (IC 95%, 50,1-74,5), respectivamente. Sobrevida global em 1 ano foi de 90,3% (IC 95%, 85,9-93,4) para coorte com MC e de 90,6% (IC 95%, 86-93,8) para coorte sem MC, o desenho do estudo não permitia comparação entre coortes. Em relação a eventos adversos, a pneumonite ou doença intersticial pulmonar ocorreu em 16% na coorte MC e 12,9% na coorte sem MC.
Maior estudo prospectivo avaliando eficácia de T-DXd no CMM HER2 positivo com acometimento de SNC demonstrando atividade tanto na doença estável quanto ativa, sem novos dados de toxicidade.
Ribociclibe mais inibidor de aromatase não esteroidal adjuvante em pacientes com câncer de mama inicial receptor hormonal positivo e HER2 negativo: resultados de 4 anos do estudo NATALEE
Fasching PA et al. LBA13 – Adjuvant ribociclib (RIB) plus nonsteroidal aromatase inhibitor (NSAI) in patients (Pts) with HR+/HER2− early breast cancer (EBC): 4-year outcomes from the NATALEE trial
Estudo previamente apresentado, NATALEE demonstrou benefício na adição de ribociclibe (RIB) a terapia hormonal adjuvante com ganho em sobrevida livre de doença invasiva (SLDI) em pacientes com câncer de mama inicial estádio II e III com receptor hormonal positivo e HER2 negativo.
Nessa atualização de 4 anos são apresentados dados de eficácia e segurança. 2549 pacientes foram randomizados 1:1 para RIB (400 mg/dia, 3 semanas com e 1 semana sem tratamento, por 3 anos) mais inibidor de aromatase não esteroidal (IA) (letrozol ou anastrozol por 5 anos) ou IA sozinho (homens e mulheres pré-menopausa recebiam gosserrelina). Foram incluídos pacientes com estádio IIA (N0 com fator de risco ou N1), IIB ou III pela 8ªed AJCC. Nessa atualização até 29/04/2024, 62,8% completaram 3 anos de RIB e 20% interromperam RIB por eventos adversos.
Em relação ao desfecho primário atualizado, SLDI foi benéfica para RIB+IA contra IA sozinho com HR de 0,715 (IC 95%, 0,609-0,840; P<.0001): em 3 anos de 90,8% contra 88,1%, e em 4 anos de 88,5% contra 83,6%, respectivamente (diferença absoluta de 2,7% e 4,9%). Benefício foi consistente entre os diferentes subgrupos, incluindo acometimento linfonodal (diferença absoluta em 4 anos de 5,1% para N0 e de 5,0% para N+) e estádio (diferença absoluta em 4 anos de 4,3% para estádio II e de 5,9% para estádio III). Sobrevida livre de doença a distância também foi superior para RIB+IA com HR de 0,715 (IC 95%, 0,604-0,847), enquanto sobrevida global ainda é imatura, mas com tendência de benefício para RIB+IA com HR de 0,827 (IC 95%, 0,636-1,074).
A atualização do NATALEE mantém benefício de RIB+IA além dos 3 anos de tratamento com aumento da diferença absoluta no marco de 4 anos.
Capivasertibe mais paclitaxel em primeira linha no tratamento do câncer de mama metastático triplo negativo: estudo fase III CAPItello-290
McArthur HL et al. LBA19 – Capivasertib (C) + paclitaxel (P) as first-line treatment of metastatic triple-negative breast cancer (mTNBC): The CAPItello-290 phase III trial
Estudo fase II PAKT havia demonstrado beneficio da combinação de capivasertibe (C), inibidor de AKT, em combinação com paclitaxel (P) em primeira linha no câncer de mama metastático (CMM) triplo negativo (TN) em sobrevida livre de progressão (SLP).
O estudo CAPitello-290 foi conduzido como fase III para testar eficácia e segurança. 812 pacientes com CMM TN previamente virgens de tratamento no cenário avançado foram randomizados 1:1 para P 80 mg/m² (D1, D8 e D15 a cada 4 semanas) e C 400 mg ou placebo 2 vezes/dia (D2 a D5, D9 a 12 e D16 a D19).
Alterações na via PIK3CA/AKT1/PTEN foram analisadas retrospectivamente por testagem molecular central da amostra do tumor primário ou metástase, sendo 30,7% dos pacientes com alterações detectadas. Desfecho primário dual de sobrevida global (SG) na população geral e na população com alteração na via PIK3CA/AKT1/PTEN foram negativos: SG mediana de 17,7 meses (IC 95%, 15,6–20,3) para C+P contra 18,0 meses (IC 95%, 15,3–20,3) para P, na população geral [HR de 0,92 (IC 95%, 0,78–1,08); p=0,324]; e na população com alteração na via foi de 20,4 meses (IC 95%, 15,7–23,4) contra 20,4 meses (IC 95%, 14,6–26,9), respectivamente [HR de 1,05 (IC 95%, 0,77–1,43); p=0,760]. Desfecho secundário de SLP favoreceu C+P, especialmente na população com alteração na via, com SLPm de 7,5 meses (IC 95%, 5,6–9,3) contra 5,6 meses (IC 95% 5,3–5,7), respectivamente [HR de 0,70 (IC 95%, 0,52–0,95)]. Em relação a eventos adversos, o mais comum para a combinação C+P foi diarreia 76,4% (com 12,7% grau ≥3) e anemia 39,3%.
Estudo CAPitello-290 não demonstrou benefício da adição de capivasertibe a paclitaxel na primeira linha de tratamento no câncer de mama metastático triplo negativo.
Avaliador científico:
Dr. Lucas Fernado Uratani
Residência em Oncologia Clínica pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – ICESP/FMUSP – São Paulo/SP
Oncologista Clínico na Oncologia D’Or Hospital Santa Cruz – Curitiba/PR
Preceptor da Oncologia Clínica do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie e do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná
Membro do Comitê de Jovens Oncologistas da SBOC
Instagram: @lucasuratani
Cidade de atuação: Curitiba/PR