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SBOC REVIEW

Estudo clínico aberto do uso de niraparib em combinação com pembrolizumab para o tratamento do câncer de mama triplo negativo avançado ou mestastático.

Resumo do artigo:
Neste estudo de fase 2 em braço único, pacientes com câncer de mama triplo negativo politratadas foram submetidas a tratamento com a combinação de niraparib, um inibidor de PARP, associado a pembrolizumab, um imunoterápico da classe dos inibidores de PD1. O objetivo primário do estudo foi avaliar a taxa de reposta objetiva da combinação de acordo com os critérios RECIST. Os objetivos secundários incluíam a avaliação da segurança, taxa de controle de doença, duração de resposta, sobrevida livre de progressão e sobrevida global. O estudo não considera como critérios de inclusão a presença da mutação do BRCA ou positividade de PDL1 para a seleção de pacientes.

Foram incluídas 55 mulheres na análise e foram observadas 5 respostas completas e 5 respostas parciais, além de 13 pacientes com doença estável e 24 com progressão de doença. Considerando as 47 pacientes com respostas avaliáveis, a taxa de resposta global foi de 21% (90% IC, 12%-33%), e a taxa de controle de doença foi de 49% (90% IC, 36%-62%). Avaliando os pacientes com e sem a mutação de BRCA, as taxas de resposta foram de 47% e 13% respectivamente; e as taxas de controle de doença foram de 80% e 33% respectivamente. A sobrevida livre de progressão foi de 8,3 meses nas pacientes com mutação de BRCA e 2,1 meses nas pacientes sem mutação.
A expressão de PDL1 foi de 80% nas pacientes com mutação de BRCA e 56% nas pacientes sem mutação.
Os efeitos adversos (grau 3 ou mais) mais comuns foram relacionados ao uso do inibidor de PARP; anemia (18%), trombocitopenia (15%) e fadiga (4%). Efeitos adversos relacionados a imunoterapia foram observados em 15% das pacientes e apenas 4% foram de grau 3 ou mais. Não foram observados efeitos colaterais novos com a combinação.

 

 

Open-Label Clinical Trial of Niraparib Combined With Pembrolizumab for Treatment of Advanced or Metastatic Triple-Negative Breast Cancer 
Estudo clínico aberto do uso de niraparib em combinação com pembrolizumab para o tratamento do câncer de mama triplo negativo avançado ou mestastático.

 

Comentários do editor:
- Câncer de mama triplo negativo é uma doença carente de novos tratamentos. A ausência de alvos moleculares “drogáveis”, até pouco tempo, deixava como única alternativa o uso de quimioterapia citotóxica para o tratamento da doença metastática. Recentemente, com o desenvolvimento dos inibidores de PARP, para doenças com mutação do BRCA, e da imunoterapia, usada em combinação com nab-paclitaxel em primeira linha, para mulheres com expressão de PDL1, novas opções de tratamento se tornaram disponíveis.

- No presente estudo os investigadores testaram o uso de niraparib, independente da presença de mutação de BRCA, em combinação com pembrolizumab, independente da presença de PDL1, em pacientes com câncer de mama triplo negativo politratadas. Os autores concluem que a combinação se mostra promissora para o tratamento de mulheres nessa situação. Devemos, entretanto, ser cautelosos quanto ao alcance dessa afirmação.

- Embora seja um estudo pequeno, o que faz análises de subgrupos serem ainda menos confiáveis, observamos sinais que vão de encontro ao conhecimento estabelecido previamente sobre o funcionamento dessas drogas. Observa-se uma taxa de resposta mais alta nas pacientes que apresentam mutações de BRCA (na ordem de 47%). Em comparação com controles históricos com uso isolado de inibidores de PARP não houve aumento da taxa de resposta com a combinação. Entretanto, observa-se tempo de sobrevida livre de progressão mais longo nas pacientes com mutação de BRCA que utilizaram a combinação. Se o aumento do tempo de controle de doença foi resultado do uso de imunoterapia ou apenas efeito do acaso, deve-se observar em estudos maiores no futuro.

- A população do estudo foi tratada com múltiplas linhas de tratamento. Em torno de 80% já tinham recebido quimioterapia prévia e metade tinha utilizado platinas no seu tratamento. Conforme observado em estudos anteriores, as pacientes que foram submetidas a tratamento com platinas tiveram taxa de resposta mais baixa a inibidores de PARP.

- Existem diversas perguntas em aberto que merecem investigação mais detalhada:

- Até o momento todos os estudos com imunoterapia além da primeira linha de tratamento em câncer de mama falharam. Seria a combinação melhor utilizada na primeira linha?

- A taxa de resposta foi semelhante àquela do uso de inibidores de PARP isolados. Seria o efeito da imunoterapia a prolongação da duração de resposta apenas?

- Em primeira linha, pacientes com mutações de BRCA e presença de PDL1 teriam aumento de taxa de resposta?

- Como em outras doenças, como melanoma cutâneo, existe um subgrupo de pacientes “longos respondedores” que poderiam ter sua doença controlada por muitos meses ou anos, ou mesmo serem curadas?

- A despeito das questões em aberto, o estudo tem como principal ponto positivo a demonstração de tolerância ao tratamento de combinação de niraparib e pembrolizumab. Esta é uma combinação promissora no cenário do câncer de mama triplo negativo, em particular com uma melhor seleção de pacientes e momento de tratamento.

 

Editor:
Dr. Felipe Ades MD PhD  

Coordenador do núcleo de oncologia mamária e cutânea do Hospital Alemão Oswaldo Cruz – São Paulo, SP.

 

Revisora:
Dra. Adriana Hepner 

Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.