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SBOC REVIEW

Estudo de fase III, randomizado, duplo-cego, de fosnetupitanto versus fosaprepitanto para prevenção de náusea e vômitos induzidos por quimioterapia de alto potencial emetogênico: CONSOLE.

Resumo do artigo:

O tratamento preventivo de náusea e vômito induzidos por quimioterapia (NVIQ) de alto potencial emetogênico obedece a diretrizes como da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e deve incluir quatro classes de medicamentos, entre eles corticosteroides, inibidores de recaptação de serotonina (IRSs) e antagonistas de receptores de neurocinina-1 (ARNK1).

fosaprepitanto (FosAPR) é a pró-droga do aprepitanto, um dos ARNK1 mais amplamente utilizados na prática clínica, que tem como vantagem a administração endovenosa. No entanto, o FosAPR tem apresentado reações frequentes no sítio de injeção e é sabidamente incompatível para infusão concomitante com o palonosetron (PALO), um dos IRSs mais empregados em nossa rotina.

O fosnetupitanto (FosNTP), por sua vez, é a pró-droga injetável do netupitanto (NTP), um ARNK1 com alta afinidade e seletividade pelos receptores de NK1 e tempo de meia-vida mais longo que o aprepitanto.

A segurança do FosNTP em monodroga bem como sua eficácia em combinação com PALO e dexametasona (DEX) para a prevenção de NVIQ foram demonstradas em estudos de fase I e II prévios.

O estudo em questão, por sua vez, se propôs a comparar a eficácia e segurança dos esquemas triplos contendo FosNTP e FosAPT.

Foram randomizados numa proporção de 1:1 779 pacientes alocados para tratamento com quimioterapia altamente emetogênica baseada em ciclo único ou múltiplos de cisplatina ≥ 70 mg/m2 para receberem FosNTP 235 mg, PALO 0,75 mg e DEX 9,9 mg infundidos concomitantemente durante 30 minutos, ou FosAPT 150 mg por 30 minutos antes ou depois da infusão de PALO e DEX nas mesmas doses, ambos 1 hora antes da quimioterapia.

Eventos de náusea e vômitos foram aferidos durante as 168 horas que sucederam a infusão da quimioterapia, período mais longo que o analisado nos estudos anteriores (120 horas) por dados prévios sugerindo ação prolongada do FosNTP.

O estudo atingiu seu endpoint primário, com taxa de resposta completa (RC), definida como ausência de eventos e uso de antieméticos, de 75,2% no grupo do FosNTP versus 71% com o FosAPT, com diferença intergrupo de 4,1% (IC 95% -2,1% a 10,3%), ultrapassando o limite inferior de -10%, definido como não-inferioridade.

As taxas de RC nos períodos tardio (24 - 120 horas), pós-tardio (120 - 168 horas) e total (0 - 168 horas) foram numericamente superiores no grupo do FosNTP, porém sem significância estatística (p = 0,071) para a influência no tempo de ocorrência do primeiro evento ou uso de antieméticos.

A análise de segurança demonstrou equivalência na ocorrência de eventos adversos, com menos de 1% de eventos grau ≥ 3 relacionados ao tratamento ocorrendo em ambos os grupos. Constipação e soluços foram os eventos mais frequentes (11,2% vs 13,7% e 4,8% vs 7,1%, respectivamente). Eventos relacionados ao tratamento no sítio de injeção foram estatisticamente menos frequentes com o FosNTP (0,3% vs 3,6%, p <0,001.

A avaliação do FosNTP nos múltiplos ciclos de quimioterapia evidenciou resultado semelhante ao tratamento em ciclo único, com taxa satisfatória de controle dos sintomas e eventos adversos similares entre os grupos.

Concluiu-se, portanto, a não inferioridade do FosNTP em relação ao FosAPR no controle dos eventos de NVIQ menor taxa de eventos adversos relacionados, com ênfase para os eventos relacionados ao sítio de injeção.

 

 

Estudo de fase III, randomizado, duplo-cego, de fosnetupitanto versus fosaprepitanto para prevenção de náusea e vômitos induzidos por quimioterapia de alto potencial emetogênico: CONSOLE.

 

Comentário da avaliadora científica:

Primeiro estudo randomizado duplo-cego que comparou dois ARNK1 no controle de NVIQ. O FosNPT performou satisfatoriamente, com taxa de controle de eventos maior que 70%, semelhante ao braço com FosAPR.

Características do FosNTP, como ser pró-droga do NTP, com liberação prolongada e alta afinidade pelos receptores NK1, lhe conferem vantagens e isto foi demonstrado no estudo com a persistência da eficácia além do período tardio (86,5%) e com a baixa taxa de eventos adversos (1,0%), incluindo eventos no sítio de injeção (0,3%).

Sua compatibilidade com PALO representa utilidade clínica pelo menor tempo necessário para infusão e sua administração endovenosa garante que o tratamento seja recebido por completo, sem risco de perda por falta de acesso ao medicamento via oral ou eventual vômito sucedendo a tomada. Deve ser lembrada a inibição do CYP3A4 pelo FosNTP e possível interação com outros medicamentos.

A ausência da olanzapina é uma limitação do estudo, porém sua administração via oral nos dois grupos provavelmente teria pequena influência nos eventos adversos relacionados ao sítio de injeção, um dos desfechos avaliados. De qualquer modo, faz-se necessária a avaliação da associação dos quatro componentes.

 

Avaliadora científica:

Dra. Thaiana Aragão Santana
Residência em Oncologia Clínica pela Faculdade de Medicina do ABC – SP
Oncologista clínica no Núcleo de Oncologia de Sergipe – Grupo Oncoclínicas