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SBOC REVIEW

Estudo fase 2 randomizado de acetato de abiraterona e prednisona + deprivação androgênica vs apenas apalutamida vs acetato de abiraterona + apalutamida

Resumo do artigo:

A terapia de deprivação androgênica (ADT) é o tratamento principal do câncer de próstata avançado sensível a castração (CSPS), mas existem diversos efeitos colaterais importantes associados a esse tratamento como perda de libido, disfunção sexual, fogachos, osteoporose, perda muscular, ganho de peso, entre outros. A combinação de ADT com abiraterona, enzalutamida ou apalutamida aumenta a sobrevida global em pacientes com CSPC avançado. O objetivo deste estudo foi avaliar se alternativas de tratamento com anti-androgênicos sem castração podem ser mais eficazes e com um melhor perfil de tolerabilidade.

Este é um estudo fase 2 randomizado, não comparativo, de três braços, na proporção 1:1:1, que avaliou o uso de abiraterona 1000mg + prednisona 5mg (AAP) duas vezes ao dia + ADT versus apalutamida 240mg (APA) versus abiraterona 1000mg + prednisona 5mg duas vezes ao dia + apalutamida 240mg em pacientes com câncer de próstata avançado sensível a castração com indicação de ADT (LFN+ ou M1 ou recorrência bioquímica com PSA ≥ 20 ng/ml ou com PSA ≥ 4 ng/ml) e PSA doubling-time < 10 meses.

O desfecho primário foi a porcentagem dos pacientes que atingem um PSA ≤ 0.2 ng/mL na semana 25 e os desfechos secundários foram a porcentagem de pacientes com queda de PSA ≥ 80% e ≥ 50% na semana 25, sobrevida livre de progressão radiológica, máximo declínio de PSA até a semana 25, segurança, cinética da testosterona e qualidade de vida.

Um total de 128 pacientes foram randomizados, sendo que a resposta de PSA foi possível ser avaliada em 122 pacientes. A mediana de idade foi de 69 anos (53-88); 99% dos pacientes tinham ECOG PS 0-1. Dezessete por cento dos pacientes tinham recidiva bioquímica apenas, 9% linfonodos positivos e 74% dos pacientes eram metastáticos. Na semana 25, o PSA era ≤ 0.2 ng/mL em 76% dos pacientes no braço ADT + AAP, 59% no braço da APA, e 80% no braço da AAP + APA.

Em relação aos desfechos secundários, houve queda do PSA ≥ 50% em 100% dos pacientes no grupo ADT + AAP, 92,5% no grupo APA e 100% no grupo AAP + APA; houve queda ≥ 80% em 100% dos pacientes no grupo ADT + AAP, 90% no grupo APA e 97,4% no grupo AAP + APA na semana 25. Três pacientes tiveram progressão de PSA na semana 25 no grupo da APA e dois apresentaram progressão radiológica, sendo um no grupo ADT + AAP e um no grupo APA. Em relação aos eventos adversos, 71% dos pacientes apresentaram algum grau de evento adverso no grupo ADT + AAP, 64% no grupo APA e 65% no grupo AAP + APA. Eventos adversos ≥ grau 3 ocorrem em 12% dos pacientes no grupo ADT + AAP, 9% no grupo APA e 16% no grupo AAP + APA. Nove pacientes (7%) descontinuaram o tratamento antes da semana 25, 5 (4%) deles devido a toxicidade: um paciente no grupo ADT + AAP, dois no grupo APA e quatro no grupo AAP + APA.

 

Phase II randomized study of abiraterone acetate plus prednisone (AAP) added to ADT versus apalutamide alone (APA) versus AAP+APA in patients with advanced prostate cancer with noncastrate testosterone levels: (LACOG 0415). Maluf et al.  J Clin Oncol 38: 2020 (suppl; abstr 5505). 
Estudo fase 2 randomizado de acetato de abiraterona e prednisona + deprivação androgênica versus apalutamida apenas versus acetato de abiraterona + apalutamida.

 

Comentário do autor:
A importância deste trabalho deve-se ao fato de ser o primeiro estudo randomizado que avaliou a eficácia e a segurança de novos anti-androgênicos sem castração em pacientes com câncer de próstata avançado sensíveis à castração. O uso de ADT + Abiraterona e Abiraterona + Apalutamida demonstrou bons resultados em termos de declínio do PSA ≤ 0.2 ng/mL na semana 25 e a Apalutamida isolada não atingiu a hipótese alternativa. O controle radiológico da doença (declínio do PSA ≥ 80% e ≥50% na semana 25) e a qualidade de vida foram similares em todos os braços. Os três braços apresentaram perfil de toxicidade distintos: ginecomastia e dor em mamas mais frequentes em Apalutamida isolada; hipertensão, fogachos e hiperglicemia mais frequentes nos braços de Abiraterona; e rash e prurido mais frequentes nos braços de Apalutamid. Aparentemente, Apalutamida sozinha apresentou menos toxicidade. Portanto, a substituição da castração por anti-androgênicos ainda é um campo em aberto, porém promissor. São necessários novos estudos para não só responder esta questão, como também identificar o subgrupo de pacientes que mais se beneficiarão desta estratégia.

 

Autor: 
Dr Fernando Cotait Maluf, MD, PhD
Ex-Fellow em Oncologia Clínica no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, Nova York. Atualmente diretor do Serviço de Oncologia Clinica do Hospital BP Mirante/SP e membro do Comitê Gestor do Hospital Israelita Albert Einstein. Doutor em Ciências/Doutorado em Urologia pela FMUSP. Livre Docente pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.