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SBOC REVIEW

Estudo neoadjuvante de niraparibe em pacientes com câncer de mama ressecável, HER2-negativo, BRCA-mutado

Resumo do artigo:

Os inibidores da poli (ADP-ribose) polimerase (PARP), são uma nova e efetiva opção de tratamento para câncer de mama avançado ou metastático em pacientes portadoras de mutação BRCA 1 e 2 atuando na deficiência da via de recombinação homóloga (HRd). Niraparibe é um inibidor da PARP 1 e 2 que mostrou em dados preliminares de farmacocinética, altas concentrações intratumorais superiores às concentrações plasmáticas em modelos BRCA-mutados de câncer de mama triplo negativo.

Este estudo piloto, de braço único, explorou a atividade antitumoral do niraparibe isolado no tratamento neoadjuvante de câncer de mama localizado, HER2-negativo, BRCA-mutado. Foram avaliadas as concentrações relativas de niraparibe no sangue e no plasma.

Pacientes elegíveis tinham câncer de mama, >= 18 anos de idade, com tumores HER2-negativo, BRCA-mutado (germinativo ou somático), ressecável, com tamanho tumoral >= 1 cm. Eram excluídos pacientes metastáticos, uso prévio de inibidores da PARP, ou que receberam alguma linha de tratamento prévia. Pacientes receberam niraparibe 200 mg uma vez ao dia por 02 meses. Após 02 meses, a critério do seu médico assistente, as pacientes poderiam seguir para tratamento cirúrgico, receber ciclos adicionais de niraparibe (máximo de 6 meses), ou quimioterapia neoadjuvante.

O desfecho primário do estudo era taxa de resposta tumoral medida por ressonância nuclear magnética das mamas (RNM) após 2 meses de tratamento. A resposta era definida por uma redução tumoral >= 30% do volume inicial sem surgimento de novas lesões. Os desfechos secundários incluíram taxa de resposta tumoral medida por ultrassonografia (US) (redução tumoral >= 30% do volume inicial), quantificação do percentual de mudança do volume tumoral em relação à medida inicial por ressonância e ultrassom, resposta patológica completa (RPC), segurança e tolerabilidade da droga. Dosagens de concentração sérica e intratumoral de niraparibe foram medidas por cromatografia líquida de alta eficiência em conjunto com espectrometria de massa.

Foram incluídas 21 pacientes e destas 19,0% receberam 02 ciclos de niraparibe, 81,0% receberam mais de 02 ciclos. Seis pacientes (28,6%) receberam quimioterapia neoadjuvante após o niraparibe. 14 pacientes tinham mutação em BRCA1, 06 tinham mutação em BRCA2 e 01 tinha mutação em BRCA1 e BRCA2. 15 pacientes (71,4%) tinham tumores triplo negativos e 6 pacientes (28,6%) tinham tumores com receptores hormonais positivos.

A resposta tumoral pela ressonância nuclear magnética após 02 ciclos de niraparibe foi de 90,5% (IC 95%: 69,6 – 98,8%) com 02 respostas completas e 17 respostas parciais. A mediana de decréscimo no volume tumoral após 02 ciclos foi de 86,4% (variação 26-100%) pela RNM e 87,2% (variação 23-100%) pelo US. 08 pacientes atingiram RPc (38,1%, IC 95% 18,1-61,6%) e destas 02 receberam quimioterapia neoadjuvante após o uso do niraparibe. Eventos adversos foram observados em 19 de 21 pacientes (90,5%) os mais comuns foram náusea (66,7%) fadiga (47,6%) e anemia (23,8%) com necessidade de redução de dose em 04 pacientes e nenhuma interrupção de tratamento foi necessária. Em 10 pacientes amostras simultâneas de plasma e tumor foram coletadas e mostraram uma concentração intratumoral de niraparibe 35,2 +- 37,2 vezes maior que a plasmática (p = 0,002).

O tratamento com niraparibe neoadjuvante em pacientes com câncer de mama localizado HER2-negativo e BRCA-mutado mostrou atividade antitumoral elevada.

 

 

Spring, L.M., Han, H., Liu, M.C. et al. Neoadjuvant study of niraparib in patients with HER2-negative, BRCA-mutated, resectable breast cancer. Nat Cancer (2022). https://doi.org/10.1038/s43018-022-00400-2.
Estudo neoadjuvante de niraparibe em pacientes com câncer de mama ressecável, HER2-negativo, BRCA-mutado.

 

Comentário da avaliadora científica:

Inibidores da PARP já fazem parte do arsenal de tratamento do câncer de mama metastático em mulheres BRCA mutadas aprovados pelos estudos OlympiAD com olaparibe e EMBRACA com talazoparibe. Em 2022 foram apresentados os dados do estudo OlympiA com olaparibe adjuvante em pacientes BRCA mutadas mostrando ganhos em sobrevida global. A avaliação dessa classe de drogas no contexto neoadjuvante era aguardada.

O estudo apresenta limitações pela sua pequena amostra, grande heterogeneidade de tratamentos realizados após o uso do niraparibe neoadjuvante que comprometeram conclusões sobre os dados de resposta patológica completa.

Contudo essa abordagem de tratamento com uma terapia alvo apresentou uma possibilidade de tratamento do câncer de mama capaz de atingir resposta patológica completa sem o uso de quimioterapia poupando a paciente de toxicidades cumulativas. O niraparibe apresentou altos níveis de concentração intratumoral além de boa tolerância e toxicidades manejáveis suportando estudos futuros promissores com esta modalidade de tratamento.

 

Avaliadora científica:

Dra. Danielle Laperche dos Santos
Residência Médica em Oncologia clínica pela Unicamp
Oncologista clínica na Hemolabor – GO