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SBOC REVIEW

Estudo randomizado de cirurgia citorredutora na recorrência do câncer de ovário

Resumo do artigo:

Estudo de fase III de superioridade que comparou a realização de cirurgia citorredutora na recorrência de câncer de ovário seguida de quimioterapia a base de platina versus quimioterapia a base de platina isolada, sem cirurgia. Os regimes quimioterápicos foram à escolha do investigador nos dois braços.

Os critérios de inclusão do estudo foram pacientes que tiveram recorrência de câncer de ovário epitelial histologicamente diagnosticado (definido como lesão clinicamente palpável ou visível ou identificada por ultrassom) ou recorrência da doença diagnosticada radiologicamente após 6 meses do último ciclo de quimioterapia baseada em platina e com escore AGO positivo. Fazem parte deste escore os seguintes fatores: ressecção cirúrgica primária completa, ECOG 0 e ascite menor que 500 mL. Estes fatores foram fatores preditivos independentes identificados na análise multivariada da ressecção completa no DESKTOP I. Sequencialmente, o estudo prospectivo DESKTOP II, confirmou o valor do escore AGO ao predizer a ressecção completa do tumor. Além disso, um nível elevado de CA 125 sozinho não foi considerado como critério de inclusão.

A randomização desse estudo foi realizada 1:1 para ressecção cirúrgica seguida de quimioterapia ou quimioterapia isolada, ambas baseadas em platina e foi estratificada de acordo com o centro e o intervalo livre de platina (sem quimioterapia baseada em platina prévia, ou intervalo de 6 a 12 meses ou maior que 12 meses se uso de quimioterapia com platina). Os centros selecionados para o estudo tinham experiência comprovada na condução de estudos em câncer de ovário. O desfecho primário foi sobrevida global (SG), os desfechos secundários foram qualidade de vida no baseline, em 6 meses e 12 meses após a randomização (questionários QLC-30 e FACT), sobrevida livre de progressão (SLP), ressecção completa como fator prognóstico, complicações associadas ao procedimento cirúrgico até 60 dias após a cirurgia, análise exploratória de características da cirurgia e quimioterapia utilizada.

Baseado nos dados do estudo DESKTOP I, foi assumido taxa de 2 anos de sobrevida seriam 66% no grupo da cirurgia e 55% no grupo sem cirurgia, com razão de risco (RR de 0,70).

Entre setembro de 2010 e março de 2015, foram incluídos 407 pacientes, 206 no grupo da cirurgia e 201 no grupo não cirúrgico. As características foram bem balanceadas entre os dois grupos. Aproximadamente todos as pacientes tinham recebido previamente quimioterapia baseada em platina no primeiro diagnóstico, e 75% dos pacientes em cada grupo tiveram um intervalo livre de platina de mais de 12 meses.

A mediana de SG foi 53,7 meses no grupo da cirurgia e 46 meses no grupo não-cirúrgico (RR 0,75, p=0,02). A mediana de SLP foi 18,4 meses no grupo da cirurgia versus 14 meses no grupo não-cirúrgico (RR 0,66, p< 0,001). Analisando a SG de acordo os fatores prognósticos, não houve nenhum subgrupo que não se beneficiou da cirurgia. Resultados da análise de qualidade de vida não mostraram diferenças entre os grupos.

O resultado do presente estudo mostrou um benefício da cirurgia citorredutora na recidiva do câncer de ovário em relação a SLP e SG com uma incidência de complicações aceitáveis e sem prejuízo na qualidade de vida dos pacientes.

 

Randomized Trial of Cytoreductive Surgery for Relapsed. Hater, P.Et al. N Engl J Med 2021;385:2123-31.DOI: 10.1056/NEJMoa2103294.
Estudo randomizado de cirurgia citorredutora na recorrência do câncer de ovário.

 

Comentário da avaliadora científica:

Estudo fase III randomizado que demonstrou um ganho em SG e SLP com a cirurgia secundária no cenário da recorrência em câncer de ovário. Nesse estudo, a cirurgia citorredutora secundária estendeu a mediana de SG em quase 8 meses. Na análise de subgrupo, todos se beneficiaram da cirurgia. Esses resultados são consistentes com o estudo SOC-1, que mostrou um ganho de SLP, e os dados de SG ainda são imaturos. Contrariamente, o estudo GOG-0213, não demonstrou diferença significativa na SLP e SG. O que difere esses estudos são os critérios de seleção, controle de qualidade cirúrgica e uso de agentes anti-angiogênicos. O DESKTOP III usou critérios selecionados pelo DESKTOP I e DESKTOP II para validar e definir os critérios que preveem a ressecção completa, baseado no escore AGO Quanto à qualidade cirúrgica, no DESKTOP III a ressecção macroscópica completa foi atingida em 75,5% dos pacientes. Avaliando o uso de agentes anti-angiogênicos, foram usados em 84% das pacientes, no estudo GOG-0213 enquanto no SOC-1 e DESKTOP III, na minoria dos pacientes. DESKTOP III foi um estudo de alta qualidade em que a medicina personalizada atuou como uma terapia médica e terapia cirúrgica na recorrência do câncer de ovário.

 

Avaliadora científica:

Dra. Fanny Cascelli
Oncologista Clínica pela USP-Ribeirão Preto
Fellowship de oncologia mamária no Grupo Oncoclínicas
Mestre em Oncologia Ortopédica pela USP-Ribeirão Preto