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SBOC REVIEW

Evidência de mundo real de cabozantinibe em pacientes com carcinoma de células renais metastático: Resultados do CABOREAL Programa de Acesso Expandido

Resumo do artigo:

CABOREAL é um estudo retrospectivo multicêntrico francês (26 centros oncológicos) que avaliou regimes de tratamento e eficácia do cabozantinibe em pacientes com carcinoma de células renais metastático (mRCC) que receberam ≥1 dose de cabozantinibe após progressão ≥ 1 linha de tratamento com inibidor de tirosina-quinase entre 12 de setembro de 2016 e 16 de fevereiro de 2018, via Programa de Acesso Expandido.

O desfecho primário do estudo foi descrever o uso e exposição ao cabozantinibe num cenário de vida real: duração, modificação de dose (definida como descalonar/escalonar a dose, sem alterar a frequência de administração), regime de dose alternativo (definido como alteração na frequência de administração, sem alterar a dose) e descontinuação permanente da terapia. O desfecho secundário foi a sobrevida global (SG) desde o início do uso do cabozantinibe. Foram realizadas análises de subgrupo de acordo com as características baseline, com a terapia sistêmica anterior para mRCC e com o próprio tratamento de cabozantinibe. Os dados foram coletados através da análise de prontuário médico dos pacientes e incluíram: características clínicas baseline (status de desempenho ECOG, estratificação prognóstica de risco IMDC e MSKCC, histórico do diagnóstico RCC), dados do período de uso do cabozantinibe (dose e frequência, motivo de modificação de dose, data de início e término), dados sobre o tratamento subsequente após descontinuação do cabozantinibe e status do paciente.

Não foi realizado cálculo formal do tamanho da amostra e do poder estatístico. A SG foi estimada através do método de Kaplan-Meier, os subgrupos foram comparados usando log-rank test, e modelo de regressão múltipla de Cox foi usado para identificar fatores preditivos de SG desde o início de cabozantinibe.

Foram incluídos 410 pacientes, com as seguintes características iniciais: 39,3% com ECOG ≥2; 31,7% de alto risco segundo a classificação prognóstica IMDC; 62,4% com ≥3 sítios de metástases; 55,9% apresentavam metástase óssea e 16,8%, metástase cerebrais. Metade dos pacientes já havia recebido nivolumabe como tratamento prévio e o número de linhas prévias de tratamento foi : 0-1 linha em 25,3%, 2 linhas em 33,4% e ≥3 linhas em 41,2% dos pacientes.

A dose inicial de cabozantinibe foi 60 mg/dia em 70,9% dos pacientes, 40 mg/dia em 26,7% dos pacientes e 20 mg/dia em 2% dos pacientes; sendo 40mg a dose média diária por paciente. Regime de dose alternativo foi usado em 15,6% dos pacientes, e 58,7% necessitaram de modificação de dose, essencialmente para manejo de eventos adversos (EAs) (92,5%). A modificação de dose do cabozantinibe permitiu que a duração mediana do tratamento fosse de 7,6 meses. Ao final do período de seguimento, 85,1% dos pacientes haviam descontinuado permanentemente o tratamento com cabozantinibe, principalmente por progressão de doença (54,9%) e EAs (24,9%). Após a descontinuação da terapia, 54,4% dos pacientes receberam outra linha de tratamento sistêmico. O seguimento mediano foi de 14,4 meses, assim como a SG mediana (95% IC: 12,4-16,2), e a taxa de sobrevida global em 12 meses foi de 56,5% (95% IC: 51,5-61,2).

Análise multivariada apontou fatores preditivos associados a SG: índice de massa corporal ≥25 kg/m² (p = 0,0021), nefrectomia prévia (p = 0,0109), classificação de risco IMDC favorável/intermediário (p < 0,0001) e iniciar o tratamento com cabozantinibe na dose de 60 mg/dia (versus 40/20 mg, p = 0,0486).

 

Real-world evidence of cabozantinib in patients with metastatic renal cell carcinoma: Results from the CABOREAL Early Access Program. L. Albiges et al. Eur J Cancer. 2021 Jan;142:102-111. doi: 10.1016/j.ejca.2020.09.030.
Evidência de mundo real de cabozantinibe em pacientes com carcinoma de células renais metastático: Resultados do CABOREAL Programa de Acesso Expandido.

 

Comentário da avaliadora científica:

Cabozantinibe é um inibidor oral de tirosina quinase (TKI) com múltiplos alvos moleculares, incluindo VEGFR-2, MET, AXL, implicados na patogênese do RCC e no mecanismo de resistência à terapia antiangiogênica. Cabozantinibe foi avaliado em populações selecionadas através de estudos clínicos randomizados, tanto para o uso na 1ª linha em pacientes com mRCC de risco intermediário e alto (IMDC), como no contexto de progressão de doença a ≥ 1 linha de tratamento anti-VEGFR, com resultados positivos de eficácia e segurança.

O presente estudo avalia o uso do cabozantibine em um cenário de mundo real, com uma população não selecionada (39,3% ECOG ≥2; 34% de alto risco), extensamente tratada (74,6% com ≥2 linhas de tratamento anteriores, incluindo TKIs e nivolumabe), incluindo pacientes com metástase óssea (55,9%) e cerebrais (16,8%).

Apesar das limitações de um estudo retrospectivo, CABOREAL é o maior estudo com evidência de mundo real do cabozantinibe em pacientes com mRCC politratados. O estudo ressalta a importância de iniciar o tratamento com dose de 60 mg/dia de cabozantinibe, associada a melhores resultados para essa população, sabendo que a maior parte dos pacientes necessitará de modificações na dose ou regime para manejo de EAs.

 

Avaliadora científica
Dra. Julia De Stéfani Cassiano, MD
Oncologista clínica pelo Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP), Universidade de São Paulo (USP-SP)
Oncologista clínica do grupo de oncologia do Centro de Tratamento Oncológico (CTO) – Ribeirão Preto (SP)