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SBOC REVIEW

Gestação após o câncer de mama: revisão sistemática e meta-análise

Resumo do artigo:

Com a oferta de tratamentos oncológicos mais eficazes, a sobrevida de pacientes com câncer de mama vem aumentando progressivamente. Sendo o câncer mais comum em mulheres em idade fértil, o suporte reprodutivo às sobreviventes é crucial no seguimento oncológico.

Esta meta-análise avaliou três questões para mulheres jovens com câncer de mama e que desejam engravidar após o tratamento oncológico:

  1. Probabilidade de gestação: proporção de pacientes que engravidaram após o câncer de mama versus mulheres sem histórico de câncer e com outro câncer (não mama);
  2. Desfechos reprodutivos: gestação completa, abortos induzido e espontâneo, baixo peso ao nascer, parto prematuro, morte intrauterina, feto pequeno para idade gestacional, pré-eclâmpsia, anormalidades congênitas, parto eletivo, cesariana de emergência e sangramento pós-parto entre mulheres com câncer de mama versus mulheres saudáveis da população geral;
  3. Segurança materna: sobrevidas livre de doença (SLD) e global (SG) entre mulheres com diagnóstico de câncer de mama com ou sem gestação subsequente.

Análises de subgrupo avaliaram os desfechos reprodutivos de acordo com uso prévio de quimioterapia e intervalo entre o diagnóstico de câncer de mama e gestação (precoce e tardio, usando corte de um e dois anos) e segurança materna de acordo com status nodal, da expressão de receptores hormonais (RH) e mutação de BRCA, uso de quimioterapia, intervalo entre o diagnóstico de câncer de mama e G (precoce e tardio, usando cortes de um, dois ou cinco anos) e desfechos da G (completa versus aborto).

Foram analisados 39 estudos, contando com mais de 8 milhões de pacientes, sendo 8.093.401 da população geral, 57.739 com diagnóstico de outro câncer e 112.840 com diagnóstico de câncer de mama. Destas, 7.550 engravidaram após o término do tratamento oncológico.

Avaliando 7 estudos, mulheres com histórico de câncer (n=57.739) tiveram redução de 35% da probabilidade de gestação versus população geral (n=3.289.113), sendo a menor naquelas com câncer de colo uterino. Das 46.780 mulheres com câncer de mama, 4,2%, tiveram gestação subsequente e a probabilidade de gestação foi 60% menor, e pode ser justificada por vários fatores: não sabermos quantas mulheres de fato tentaram engravidar após o tratamento, receio do médico e da paciente em relação à segurança na gestação, que desencorajam o planejamento, bem como o uso de drogas gonadotóxicas ou hormonioterapia adjuvante por tempo prolongado.

Análise de nove estudos mostrou maiores probabilidades de recém-nascido abaixo do peso ideal (risco 50% maior) ou pequeno (risco 16% maior), parto prematuro (risco 45% maior) e cesariana (risco 14% maior) em câncer de mama (n=3.240) versus população geral (n=4.814.452), todos com significância estatística. Na análise de subgrupos, aumento do risco de baixos peso e altura ao nascer parece restrito às expostas à quimioterapia. Não houve diferenças em relação aos demais desfechos reprodutivos ou gestação precoce versus tardia.

A segurança materna foi avaliada em 25 estudos e não mostrou piores desfechos em câncer de mama com gestação subsequente: houve 44% de redução do risco de morte e 34% de redução do risco de recidiva versus câncer de mama sem gestação subsequente. Não houve efeito detrimental da gestação na SLD em pacientes com câncer de mama com expressão de RH e em SG nas com mutação BRCA. Além disso, não houve impacto do tempo até a G após câncer de mama.

Esta meta-análise pontua que a gestação é factível após diagnostico de câncer de mama e não acarreta diminuição da SLD e da SG ou aumento de complicações materno fetais. Entretanto, planejamento e monitoramento adequados da gestação em pacientes com câncer de mama são imprescindíveis.

 

Matteo Lambertini et al. Pregnancy After Breast Cancer: A Systematic Review and Meta-Analysis. Journal of Clinical Oncology. Published online July 01, 2021. DOI: 10.1200/JCO.21.00535.
Gestação após o câncer de mama: revisão sistemática e meta-análise.

 

Comentários da avaliadora científica:

Apesar de baseada em estudos retrospectivos observacionais e da heterogeneidade destes, os resultados dos diferentes estudos são compatíveis, sendo possível validar a hipótese de que a gestação após o tratamento de câncer de mama é factível e segura.

Mulheres com câncer de mama apresentam menor probabilidade de gestação e pode ser explicada por: 1) drogas gonadotóxicas; 2) hormonioterapia prolongada e 3) receio do oncologista e paciente.

Embora os desfechos não sejam piores nas pacientes com intervalo curto entre o diagnóstico de câncer de mama e a gestação, é prudente aguardar um ano (maior risco de malformações congênitas) ou até mesmo dois anos (maior risco de recorrência) de seguimento.

Em mulheres com câncer de mama RH positivo, é prudente aguardar o término do hormonioterapia, pois não há dados sobre a segurança da interrupção durante a gestação.

Os dados apresentados reforçam a recomendação de não desencorajar o desejo gestacional das sobreviventes do câncer de mama. Temos dados consistentes de que não há diminuição da SG e SLD ou aumento de alterações congênitas para o feto.

Pela menor probabilidade de gestação, os cuidados oncológicos em pacientes em idade fértil devem englobar medidas de preservação da fertilidade.

 

Avaliadora científica:

Dra. Larissa Tames Rainho
Oncologista clínica no Instituto São Pellegrino – Porto Velho/RO
Oncologia clínica pelo Hospital de Câncer de Barretos – Porto Velho/RO