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SBOC REVIEW

Hepatectomia seguida por mFOLFOX6 versus hepatectomia isolada em Câncer Colorretal Metastático para fígado (JCOG0603): Ensaio clínico randomizado Fase II ou III

Resumo do artigo:

Os desfechos clínicos de pacientes com câncer colorretal (CCR) metastáticos melhoraram na última década e isso se deve em parte ao aumento no número de pacientes encaminhados à ressecção de metástase hepática, a expansão no uso de técnicas locorregionais, assim como otimização das terapias sistêmicas. No entanto, o tratamento dos pacientes com CCR metastáticos para o fígado ainda é uma situação clínica desafiadora, em que a hepatectomia é a única opção de cura e, todavia 70 a 80% dos pacientes que se submetem à ressecção hepática desenvolvem recorrência. Embora não haja nenhum estudo mostrando benefício de sobrevida global (SG) para quimioterapia adjuvante após ressecção R0 de metástase hepática de CCR, é prática comum, inclusive endossada por guidelines como o NCCN a realização de seis meses de quimioterapia após a ressecção.

O estudo fase II/III JCOG0603 foi realizado para avaliar se mFOLFOX6 adjuvante é superior à hepatectomia isolada. Investigadores no Japão randomizaram 300 pacientes com CCR e metástases hepáticas ressecáveis para hepatectomia isolada ou hepatectomia seguida de 6 meses de quimioterapia adjuvante com mFOLFOX6.

O estudo foi desenhado com poder suficiente para detectar uma diferença na sobrevida livre de doença (SLD) de 12% entre os dois braços; desfechos secundários incluíram SG e taxas de eventos adversos (EA). A maioria dos pacientes tinha o cólon como tumor primário (77%), 0 a 3 linfonodos positivos (82%), 1 a 3 metástases hepáticas (91%) e metástases síncronas (56%); uma minoria (22%) havia recebido quimioterapia adjuvante com fluoropirimidina isolada após a ressecção do tumor primário. O estudo foi encerrado precocemente pois atendeu aos critérios pré-especificados de superioridade durante a análise interina. Com acompanhamento médio de 59,2 meses, a SLD em 5 anos foi de 38,7% (IC 95%, 30,4 a 46,8) para hepatectomia isolada em comparação com 49,8% (IC 95%, 41,0 a 58,0) para quimioterapia (HR, 0,67; IC 95%, 0,50 a 0,92; P = 0,006). A análise de subgrupo demonstrou uma vantagem na SLD quando a quimioterapia pós-hepatectomia foi administrada em pacientes com metástases sincrônicas e limitadas (uma a três), tumores primários do lado esquerdo e sem histórico de quimioterapia prévia. No entanto, houve uma tendência de a SG em 5 anos ser inferior para quimioterapia em comparação com a cirurgia isolada (71,2% vs 83,1%; HR 1,25; P = 0,42). Nenhum subgrupo teve benefício de SG com quimioterapia adjuvante. No subgrupo de pacientes que haviam recebido terapia adjuvante prévia após a ressecção do tumor primário, aqueles tratados com mFOLFOX6 tiveram sobrevida inferior em comparação com aqueles tratados apenas com hepatectomia (HR, 2,76). No braço de quimioterapia, o evento adverso grave de grau 3 ou superior mais comum foi neutropenia (50% dos pacientes), seguido de neuropatia periférica (10%) e reação alérgica (4%). Um paciente morreu de causa desconhecida após três ciclos de administração de mFOLFOX6. Houve diferença entre os grupos no padrão de recidiva, a recorrência hepática foi mais comum com a hepatectomia isolada em comparação com a quimioterapia (51% vs 37%), enquanto a recorrência extra-hepática foi mais comum com a quimioterapia do que a hepatectomia isolada (63% vs 48%).

 

 

J Clin Oncol. 2021 Dec 1;39(34):3789-3799. doi: 10.1200/JCO.21.01032. Epub 2021 Sep 14.
Hepatectomia seguida por mFOLFOX6 versus hepatectomia isolada em Câncer Colorretal Metastático para fígado (JCOG0603): Ensaio clínico randomizado Fase II ou III

 

Comentário da avaliadora científica:

Apesar do racional biológico plausível de que a quimioterapia após ressecção de metástase hepática tem o potencial de eliminar a doença micrometastática, não existe evidência de que esta prática aumenta a SG dos pacientes. O estudo JCOG003 aborda um contexto clínico ainda com dados discutíveis. Embora a quimioterapia adjuvante com mFOLFOX6 tenha melhorado a SLD em comparação com a hepatectomia sozinha, cursou com EA graves em aproximadamente metade dos pacientes. Além disso, é necessário aprofundar os estudos para determinar se a melhora de SLD se traduz em SG. Infelizmente a dúvida do que fazer permanece e neste ponto o uso rotineiro de FOLFOX adjuvante não é consenso após hepatectomia, sendo recomendado individualizar a conduta, levando em consideração se a doença é sincrônica ou metacrônica, o tempo para progressão de doença, uso prévio de quimioterapia e o contexto clínico do paciente. Os avanços das biópsias líquidas com pesquisa de DNA tumoral circulante trazem esperança para melhor definição de estratégias de tratamento individualizado, com potencial de aprimorar a sobrevida de pacientes com alto risco de recorrência e minimizar a toxicidade em pacientes com pouca probabilidade de se beneficiar de terapia adicional.

 

Avaliadora científica:

Dra. Giovanna Magagnin Campiolo
Residência em Oncologia Clínica pelo AC Camargo Cancer Center
Oncologista clínica da Prevent Senior