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SBOC REVIEW

Highlights de Tumores de Pele

Estudo de fase 3 de cemiplimabe versus placebo para carcinoma escamoso de pele de alto risco 

Phase 3 trial of adjuvant cemiplimab versus placebo for high-risk cutaneous squamous cell carcinoma

Estudo de fase 3, duplo-cego, que objetivou avaliar a eficácia e segurança do cemiplimabe adjuvante em pacientes com carcinoma escamoso (CEC) de pele ressecados com alto risco de recorrência. O cemiplimabe é um anti-PD1 já usado no tratamento de pacientes com carcinoma epidermóide de pele metastático ou recorrente, não candidatos à cirurgia.

Foram considerados pacientes com alto risco, com doença linfonodal, metástase em trânsito, invasão perineural, lesões T4 ou lesão recorrente. Pacientes foram submetidos à cirurgia e radioterapia adjuvante sendo, após, randomizados 1:1 para receberem cemiplimabe 350 mg a cada três semanas versus placebo, completando um total de 48 semanas de tratamento. Após emenda ao protocolo, foi autorizado que, após os 12 meses iniciais, poderia ser usada a dose de 700 mg a cada seis semanas até completar 48 semanas. Um total de 415 pacientes participaram do estudo. 24 pacientes no grupo cemiplimabe e 65 pacientes no grupo placebo haviam tido recorrência na avaliação inicial, demonstrando uma positividade no desfecho primário de sobrevida livre de doença, com HR 0,32 e p<0,0001.

Em 2 anos, 87,1% dos pacientes que receberam a intervenção estavam livres de doença, em comparação a 64,1% dos que receberam placebo. Este benefício foi evidenciado em todos os subgrupos. Cemiplimabe se mostrou eficaz em aumentar o tempo livre de recorrência tanto local (com redução de 80% no risco) quanto a distância (com redução de 65%). Dados de sobrevida global ainda são imaturos, porém sem significância estatística até o momento.

Os eventos adversos mais comuns com uso da medicação foram fadiga, prurido, rash cutâneo, diarreia e artralgia. O perfil de segurança se mostrou consistente com os efeitos colaterais já relatados nos estudos que usaram cemiplimabe no contexto da doença metastática ou recidivada.

Com os dados deste estudo, um possível novo padrão de tratamento do câncer epidermóide de pele com alto risco de recidiva, após cirurgia e radioterapia, pode estar sendo discutido. Cemiplimabe adjuvante é o primeiro tratamento sistêmico a demonstrar benefício nessa população. Embora os dados de sobrevida global ainda sejam imaturos, atualizações futuras poderão esclarecer melhor a eficácia de uma terapia já conhecida e com perfil de segurança favorável nesse grupo de pacientes.

 

DREAMseq: Avaliação final de resultados clínicos do estudo de fase III sobre sequenciamento de tratamento em pacientes com melanoma metastático e BRAFV600 mutados

DREAMseq (ECOG-ACRIN EA6134): a Phase III Trial of Treatment Sequences in Patients with BRAFV600-mutant (m) Metastatic Melanoma (MM): final clinical results

Frente a relevância de achados da mutação BRAF V600 em paciente com melanoma metastático (aproximadamente em 50% dos casos), pacientes com esta mutação e sem tratamento prévio foram randomizados para duas estratégias de tratamento sequencial: a sequência nivolumabe + ipilimumabe seguidos de dabrafenibe + trametinibe na progressão; ou o inverso. Ambos os tratamentos, imunoterapia (IT) e terapia-alvo (TA), já haviam demonstrado aumento de sobrevida global quando usados em primeira linha e, portanto, existia a dúvida sobre qual o melhor sequenciamento. 

265 pacientes foram incluídos e estratificados conforme o status de ECOG e níveis de LDH. Dados iniciais foram divulgados mostrando benefício estatisticamente positivo em todos os subgrupos no uso da sequência IT-TA no desfecho primário. A sobrevida global em 2 anos foi de 72%, iniciando por IT versus 52% na sequência inversa. Desfechos secundários, como duração de resposta e viabilidade de crossover, também foram positivos. Além disso, quando em 2ª linha, a imunoterapia se demonstrou menos eficaz, com taxas de resposta objetiva e sobrevida livre de progressão menores comparativamente à terapia alvo na segunda linha. A segurança avaliada pelos efeitos colaterais grau 3 foi semelhante nos dois grupos, apesar de as medicações possuírem perfis diferentes de eventos. 

Na apresentação deste ano de 2025, foram atualizados dados com acompanhamento de 58 meses. O benefício em sobrevida global se mantém, mostrando que 63,3% dos pacientes do grupo IT seguem vivos, em comparação com 33,9% dos pacientes que iniciaram com terapia-alvo e imunoterapia na progressão, mantendo significância estatística e benefício absoluto em 5 anos de 24,3%. 

Alguns subgrupos chamaram atenção por ter um benefício maior em sobrevida global: pacientes menores de 40 anos, ECOG 0, estadiamento M1c e com melhores fatores prognósticos. Igualmente, quando avaliada a sobrevida livre de metástase em SNC, houve um benefício estatisticamente positivo no grupo IT-TA (76% deles livres de metástase) comparativamente com 62% no grupo TA-IT. 

Impacto do estudo na prática clínica: este estudo veio para responder uma das principais dúvidas, na prática de quem trata melanoma metastático: qual sequência de tratamento é a melhor, imunoterapia seguida de terapia-alvo ou o inverso? Esta atualização reforça os achados primários, demonstrando que, para a grande maioria dos pacientes, a imunoterapia representa a melhor escolha como tratamento de primeira linha, apresentando desfechos superiores em eficácia e segurança. 

 

Desfechos clínicos do estudo DIET: estudo de fase 2 controlado com dieta altamente rica em fibra em pacientes com melanoma recebendo inibidor de checkpoint imunológico

Clinical outcomes of the DIET study: A randomized controlled phase 2 trial of a high fiber diet in patients with melanoma receiving immune checkpoint blockade (ICB)

Algumas evidências prévias tentaram mostrar uma relação positiva entre a resposta ao tratamento imunoterápico e uma dieta rica em fibras. Neste estudo de fase II, 45 pacientes com melanoma em tratamento com imunoterapia anti-PD-1 foram randomizados para dois braços de tratamento. Todos os pacientes iniciaram uma dieta rica em fibras, com 20 g/dia por 7 dias, sendo que, posteriormente, um grupo manteve essa dieta, enquanto o outro passou a seguir uma dieta escalonada até 50 g/dia de fibras por 10 semanas. 21 do total de pacientes faziam tratamento de caráter adjuvante, 12 paliativo e 12 neoadjuvante. Não houve diferenças significativas entre as características de ambos os grupos. O objetivo primário foi avaliar alterações no microbioma fecal, o qual evidenciou mudanças com o tratamento. A intervenção dietética é factível e segura: a adesão média à dieta foi de 83% do total de pacientes e aproximadamente metade dos pacientes que seguiram a intervenção dietética tiveram eventos adversos de grau leve até moderado, dentre eles: desconforto abdominal, distensão, constipação, diarreia, flatulência e perda de peso. Menos incidência de eventos dermatológicos de qualquer grau foram observados no grupo que recebeu a dieta rica em fibras. 

Entre os desfechos exploratórios, foi observada a taxa de resposta objetiva na coorte de pacientes em tratamento neoadjuvante e metastático, sendo de 77% no grupo intervenção contra 29% no grupo controle (p = 0,06). A mediana de sobrevida livre de eventos não foi atingida no grupo intervenção, em comparação a 27,8 meses no grupo controle. 40% de eventos grau 3 foram evidenciados no grupo que recebeu a intervenção dietética em relação a 28,6% no grupo controle (p=0,51). 

Este estudo foi um dos primeiros estudos controlados a demonstrar que uma mudança dietética pode ter potencial como auxílio no controle da doença em pacientes com melanoma em tratamento com imunoterapia. Uma dieta rica em fibras demonstrou ser segura e factível, embora desafiadora. Os resultados são promissores e encorajadores, abrindo caminho para o desenvolvimento de estudos de fase 3 que possam avaliar a eficácia e a aplicabilidade da intervenção, especialmente com um período mais prolongado de tratamento.

 

Avaliadora científica:

Dra. Luiza Andres

Oncologista clínica pela Santa Casa de Porto Alegre – Porto Alegre/RS

Oncologista na Santa Casa de Porto Alegre e no Grupo Oncoclínicas

Pesquisadora clínica no Centro Multidisciplinar de Pesquisa Clínica da Santa Casa e mestranda da UFCSPA

Instagram: @luiza.andres

Cidade de atuação: Porto Alegre/RS