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SBOC REVIEW

Especial ASCO 2024 – Tumores Mamários

Características basais e desfechos de eficácia para pacientes com câncer de mama inicial RH+/HER2- com linfonodo negativo (N0): estudo NATALEE.

Yardley et al. Baseline (BL) characteristics and efficacy endpoints for patients (pts) with node- negative (N0) HR+/HER22 early breast cancer (EBC): NATALEE trial.

Esta análise do estudo de fase 3 NATALEE relatou as características, eficácia e segurança da adição do uso de ribociclibe (RIB) à terapia endócrina adjuvante no subgrupo N0 de pacientes com câncer de mama inicial RH+/HER2, estádio II e III, com risco aumentado de recorrência. Foram randomizadas 5101 pacientes (1:1) para receber RIB 400 mg/dia (3 semanas sim e 1 semana não), por 36 meses + IA (letrozol ou anastrozol) por ≥ 60 meses ou IA isolado. Poderiam ter recebido qualquer terapia endócrina (neo) adjuvante dentro de até 12 meses antes da randomização. O subgrupo N0 incluiu pacientes T2N0 (estádio IIA; grau 3 ou grau 2 e Ki-67 ≥ 20% ou alto risco genômico), T3N0 (estádio IIB) e T4N0 (estádio IIIB). Das 2.549 pacientes do grupo RIB + IA, 285 (11%) tinham doença N0 e, das 2.552 pacientes do grupo IA, 328 (13%) tinham doença N0. As características basais foram semelhantes, destacando-se que a maioria das pacientes era pré-menopausa e tinha recebido quimioterapia prévia. O desfecho primário foi sobrevida livre de doença invasiva (SLDi).

O estudo demonstrou superioridade do grupo RIB + IA em SLDi em 3 anos de 93,2% vs 90,6% (HR 0,72; IC 95%, 0,41-1,27), sobrevida livre de doença à distância em 3 anos de 94,3% vs 91,5% (HR 0,70; IC 95%, 0,38-1,29) e sobrevida livre de recorrência à distância de 96,3% vs 92,5% (HR 0,58; IC 95%, 0,29-1,17). Na população com intenção de tratar (ITT), 78% das pacientes completaram 3 anos de tratamento com RIB ou descontinuaram precocemente, com 21% ainda em tratamento no momento desta análise. O follow-up mediano foi de 33 meses. O perfil de segurança do RIB no subgrupo N0 foi consistente com a população ITT.

Portanto, esta análise mostrou um benefício de eficácia de RIB + IA nestas pacientes com doença N0, porém ainda são dados precoces, que devem ser avaliados com cautela e devemos aguardar um período de seguimento maior.

 

O impacto da omissão da terapia endócrina adjuvante (TEA) no câncer de mama inicial com RE baixo (1-10%).

Choong et al. The impact of adjuvant endocrine therapy (AET) omission in ER-low (1-10%) early- stage breast cancer.

Este estudo retrospectivo buscou avaliar o impacto da omissão da terapia endócrina adjuvante (TEA) no câncer de mama inicial com receptor de estrogênio baixo (ER-low), 1-10%, pois é conhecido que há uma controvérsia em relação ao benefício da TEA nestes casos dada a heterogeneidade tumoral (>40% basal), a resposta quimioterápica e prognóstico semelhante ao câncer de mama triplo negativo.

Foi consultado o National Cancer Database (NCDB) de 2018 a 2020 para identificar pacientes com câncer de mama RE+ em estágio I-III tratados com quimioterapia (neo) adjuvante. O RE foi classificado como negativo (0%), baixo (1-10%) e alto (>10%). Das 357.085 pacientes, 10.396 (3%) foram classificadas como ER-low. Dentre estas, 69% tinham receptor de progesterona (RP) negativo e 67% HER2 negativo. Do total, 77% foram tratadas com quimioterapia.

A TEA foi omitida em 2.948 pacientes (42%), sendo os fatores associados a essa omissão: tumores N0, alto grau histológico, RP negativo, HER2 negativo e Ki67 ≥ 20%. O tempo de acompanhamento médio foi de 3 anos. A omissão da TEA foi associada a uma pior sobrevida global (SG) tanto na análise não ajustada com HR 1,40 (IC 95%, 1,19-1,65; p<0,001), como na análise ajustada para idade, escore de comorbidade, ano de diagnóstico, RP, HER2 e estádio patológico, com um aumento do risco de óbito de 22% (HR 1,22; IC 95%, 1,00-1,48, p=0,05).

Estes resultados evidenciam que a omissão da TEA em pacientes com câncer de mama inicial ER-low tratados com quimioterapia está associada a uma SG significativamente pior. Logo, na ausência de dados prospectivos, devemos manter a indicação e recomendação do uso da TEA neste cenário.

 

Abemaciclibe e fulvestranto vs fulvestranto isolado para câncer de mama avançado RH+/HER2- após progressão ao uso de iCDK4/6 associado a terapia endócrina: resultado primário do estudo de fase 3 postMONARCH.

Kalinsky et al. Abemaciclib plus fulvestrant vs fulvestrant alone for HR+, HER2- advanced breast cancer following progression on a prior CDK4/6 inhibitor plus endocrine therapy: Primary outcome of the phase 3 postMONARCH trial.

O estudo de fase 3, postMONARCH, comparou o uso de abemaciclibe + fulvestranto vs fulvestranto + placebo em pacientes com câncer de mama avançado RH+/HER2- após progressão ao uso de inibidor de ciclina (iCDK4/6) + terapia endócrina (TE). Foram randomizadas 368 pacientes (1:1) para abemaciclibe + fulvestranto (n=182) vs fulvestranto + placebo (n=186). As pacientes elegíveis tiveram progressão de doença após terapia inicial com iCDK4/6 + TE para câncer de mama metastático (99%) ou recidiva após terapia adjuvante com iCDK4/6 + TE para câncer de mama inicial. Uso prévio de palbociclibe foi igual a 59%, ribociclibe 33% e abemaciclibe 8%. Não foi permitido nenhum outro tratamento prévio. O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão (SLP) avaliada pelo investigador. Os desfechos secundários incluíram SLP por revisão central independente cega, sobrevida global (SG), taxa de resposta objetiva (TRO) e segurança.

A análise interina demonstrou um ganho significativo em SLP para abemaciclibe + fulvestranto de 3,9 meses para 5,6 meses (HR 0,66; IC 95%, 0,48-0,91; p = 0,01). Na análise primária, ganho de SLP aos 6 meses de 50% vs 37% para o braço de abemaciclibe (HR 0,73; IC 95%, 0,57-0,95). Maior TRO com abemaciclibe + fulvestranto (17% vs 7%) e maior SLP por revisão central independente cega de 12,9 meses para abemaciclibe + fulvestranto com HR 0,55 (IC 95%, 0,39-0,77), sendo que essa SLP foi mais pronunciada no grupo das pacientes que ficaram mais de 12 meses com iCDK4/6 na primeira linha. A SG ainda é imatura. O perfil de segurança foi consistente com o conhecido do abemaciclibe.

Dessa forma, podemos concluir que abemaciclibe + fulvestranto demonstrou melhora estatisticamente significativa de SLP em pacientes com câncer de mama avançado após progressão à terapia anterior contendo iCDK4/6, evidenciando que é possível nestes casos a troca do inibidor de ciclina, todavia é importante definirmos quais pacientes irão se beneficiar.

 

Trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) versus quimioterapia de escolha do médico em pacientes com câncer de mama metastático receptor hormonal positivo (RH+), receptor 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2) baixo ou ultrabaixo após terapia endócrina prévia (TE): Resultados primários do DESTINY-Breast06 (DB-06).

Curigliano et al. Trastuzumab deruxtecan (T-DXd) vs physician’s choice of chemotherapy (TPC) in patients (pts) with hormone receptor-positive (HR+), human epidermal growth factor receptor 2 (HER2)-low or HER2-ultralow metastatic breast cancer (mBC) with prior endocrine therapy (ET): Primary results from DESTINY-Breast06 (DB-06).

O estudo de fase 3, DESTINY-Breast06, comparou trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) com quimioterapia padrão em pacientes com câncer de mama metastático RH+ e HER2 com baixa expressão (HER2-low) – IHC 1+ ou 2+/FISH negativo, ou muito baixa expressão (HER2 ultra-low) – IHC maior que 0, mas menor que 1+, com ≤ 10% de células com coloração de membrana, após terapia endócrina (TE) prévia, sem quimioterapia prévia. Foram randomizadas (1:1) 866 pacientes (HER2-low: n=713; HER2 ultra-low: n=153) para receber T-DXd 5,4 mg/kg a cada 3 semanas ou quimioterapia: capecitabina (59,8%), nab-paclitaxel (24,4%) ou paclitaxel (24,4%). As pacientes realizaram ≥ 2 linhas de TE ou 1 linha de TE se a progressão da doença ocorresse ≤ 24 meses de TE adjuvante ou ≤ 6 meses do uso de TE + inibidor de CDK4/6 (iCDK4/6). Do total de pacientes, 90,4% tinham feito uso prévio de iCDK4/6. O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão (SLP) em HER2-low. Os desfechos secundários foram SLP na população com intenção de tratar (ITT = HER2-low e ultra-low) e sobrevida global (SG). Outros desfechos foram taxa de resposta objetiva e segurança. O tempo de acompanhamento mediano foi de 18,6 meses.

O estudo mostrou que o T-DXd melhorou significativamente a SLP em HER2-low com uma mediana de 13,2 vs 8,1 meses (HR 0,62; IC 95%, 0,51-0,74; p < 0,0001). Os resultados de SLP do HER2 ultra-low foram consistentes com o HER2-low. A SG ainda é imatura (HER2-low HR 0,83; IC 95%, 0,66-1,05; p = 0,1181). O perfil de segurança corresponde aos perfis conhecidos. Eventos adversos de grau 3 ocorreram em 40,6% (T-DXd) vs 31,4% (quimioterapia), pneumonite em 49 pacientes (11,3%) que receberam o T-Dxd (0,7% grau 3/4, 0,7% grau 5), vs 1 paciente (0,2% grau 2).

Como conclusão, este estudo mostrou um benefício em SLP do T-Dxd na população HER2-low e ultra-low, e que o T-Dxd pode se tornar uma opção de primeira linha para as pacientes neste cenário, mas é importante aguardar a publicação dos dados.

 

Avaliadora científica:

Dra. Aline Alves Franzin Vanzo

Residência Médica em Oncologia Clínica pelo Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB) – Brasília/DF

Oncologista clínica assistente no Hospital Sírio Libanês – Brasília/DF

Instagram: @alinefranzinvanzo

Cidade de atuação: Brasília/DF