SBOC REVIEW

Highlights Tumores Torácicos
Sobrevida Global de Nivolumabe + Quimioterapia Neoadjuvante em Pacientes com Câncer de Pulmão Não Pequenas Células (CPNPC) Ressecáveis – CheckMate 816
Forde PM et al. Overall survival with neoadjuvant nivolumab (NIVO) + chemotherapy (chemo) in patients with resectable NSCLC in CheckMate 816
O estudo de fase III, CheckMate 816, comparou três ciclos de quimioterapia (QT) neoadjuvante isolada com a QT associada ao nivolumabe, seguidos de cirurgia, em pacientes com câncer de pulmão não microcítico (CPNPC) ressecável nos estágios IB (≥4 cm) a IIIA (7ª Edição). Os resultados já haviam demonstrado um aumento significativo na sobrevida livre de eventos com a associação da quimioterapia à imunoterapia (IO). Na ASCO foram apresentados os dados maduros de sobrevida global (SG).
Com um seguimento mediano de 68,4 meses, o estudo demonstrou também benefício consistente em SG: 65% dos pacientes no grupo QT + IO versus 55% no grupo tratado apenas com QT estavam vivos em 5 anos (HR 0,72; IC 95%: 0,52–0.998; p = 0,048). A análise de subgrupos indicou maior benefício para pacientes com tumores com expressão de PD-L1 ≥1%. A sobrevida câncer-específica também favoreceu o braço com imunoterapia (75% vs 65%; HR 0,65).
Entre os desfechos exploratórios, destaca-se a forte correlação entre resposta patológica completa (RPC) e sobrevida a longo prazo. O clearence de ctDNA pré-cirurgia também demonstrou potencial como marcador prognóstico independente do esquema de tratamento, embora inferior à RPC. Em termos de segurança, não foram observados novos eventos adversos relevantes, reforçando a viabilidade do esquema.
Os dados do Checkmate 816 consolidam o uso de QT + IO neoadjuvante em pacientes com CPNPC ressecável, especialmente nos subgrupos com PD-L1 positivo. A partir desse marco, emergem discussões relevantes: se RPC está associado a melhores desfechos, como podemos prever a resposta antes da cirurgia? Existe algum benefício da fase de imunoterapia adjuvante? Para quem?
O aprimoramento da seleção de pacientes e das ferramentas preditivas pode ser a chave para otimizar o uso da imunoterapia no tratamento perioperatório do CPNPC ressecável.
Ensaio randomizado sobre a relevância do horário da imunoquimioterapia para a sobrevida livre de progressão e sobrevida global em pacientes com CPNPC
Huang Z et al. Randomized trial of relevance of time-of-day of immunochemotherapy for progression-free and overall survival in patients with non-small cell lung cancer
Foi apresentado na ASCO 2025 o primeiro estudo de fase III randomizado que avaliou o impacto do horário de administração da quimioimunoterapia em pacientes com CPNPC avançado, sem mutações acionáveis. 210 pacientes chineses receberam 4 ciclos de carboplatina + quimioterapia direcionada para histologia, associados a IO (sintilimabe ou pembrolizumabe), seguidos de até 2 anos de manutenção com IO. A comparação foi feita entre administração antes das 15h (“early ToD”) ou após esse horário (“late ToD”). As características clínicas, histológicas e moleculares dos grupos estavam bem balanceadas.
Após um seguimento mediano de 23,2 meses, observou-se um benefício significativo no grupo “early ToD” em termos de sobrevida livre de progressão e global, com redução de 58% no risco de progressão (11,3 vs 5,7 meses; HR 0,42; p<0,0001) e de 55% no risco de morte (16,4 meses vs não alcançada; HR 0,45; p<0,0001). A toxicidade foi semelhante entre os grupos. O estudo também demonstrou uma associação entre um maior percentual de linfócitos CD8+ ativados e do aumento da razão entre linfócitos ativados/exaustos com a administração de IO no grupo “early ToD”, sugerindo uma possível base biológica para estes achados.
Apesar de a população ser exclusivamente chinesa e o estudo se limitar ao CPNPC, os resultados sugerem que uma intervenção simples e de baixo custo pode impactar significativamente os desfechos desses pacientes. Dados retrospectivos em outros tumores também apoiam essa hipótese, mas novos estudos incluindo populações ocidentais serão essenciais para validar e ampliar a conduta para outros cenários.
Tarlatamabe versus quimioterapia como tratamento de segunda linha para câncer de pulmão de pequenas células (CPPC): Análise primária de Fase 3 DeLLphi-304
Rudin C et al. Tarlatamab versus chemotherapy as second-line treatment for small cell lung cancer (SCLC): Primary analysis of Ph3 DeLLphi-304
O DeLLphi-304 é um estudo de fase III randomizado que avaliou a eficácia de tarlatamabe, um BiTE (bispecific T-cell engager) direcionada ao DLL3, em comparação à quimioterapia padrão (topotecano, lurbinectedina ou amrubicina) em pacientes com câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) recidivado ou refratário após tratamento com platina. Foram randomizados 509 pacientes, sendo permitida a inclusão de pacientes com metástases cerebrais.
O desfecho primário foi sobrevida global (SG). O estudo demonstrou aumento significativo de SG associado ao uso de tarlatamabe: 13,6 vs 8,3 meses (HR 0,60; p<0,001). Houve também ganho em sobrevida livre de progressão (SLP): 4,2 vs 3,2 meses (HR 0,72; p<0,001).
A taxa de resposta objetiva (TRO) foi de 35% com tarlatamabe versus 20% com quimioterapia, com duração mediana de resposta de 6,9 meses. Eventos adversos de grau ≥3 foram menos frequentes com tarlatamabe (27% vs 62%). A toxicidade típica da classe dos BiTEs foi frequente, com eventos graves em 17% dos casos de síndrome de liberação de citocinas e em 4% dos casos de neurotoxicidade.
O DeLLphi-304 representa um marco no tratamento do CPCP recidivado, estabelecendo o tarlatamabe como uma alternativa eficaz com ganho de sobrevida e menor toxicidade comparada à quimioterapia. Contudo, o manejo dos eventos adversos específicos dos BiTEs e a viabilidade de implementação em centros de menor complexidade representarão desafios práticos na adoção desse novo padrão de cuidado.
Osimertinibe ± Quimioterapia neoadjuvante vs quimioterapia isolada em CPNPC ressecável EGFR mutado: NeoADAURA
Chaft JE et al. Neoadjuvant (neoadj) osimertinib (osi) ± chemotherapy (CT) vs CT alone in resectable (R) epidermal growth factor receptor-mutated (EGFRm) NSCLC: NeoADAURA
Após o impacto do estudo ADAURA do uso de osimertinibe no cenário adjuvante, na ASCO 2025 tivemos a apresentação do NeoADAURA que buscou avaliar se iniciar o tratamento com osimertinibe antes da cirurgia traria benefícios adicionais em pacientes com CPNPC ressecável EGFR-mutado (Ex19del ou L858R). Nesse estudo de fase III, 358 pacientes nos estágios II a IIIB foram randomizados 1:1:1 em três braços: osimertinibe + quimioterapia baseada em platina (Osi + QT), osimertinibe isolado (Osi mono) e quimioterapia + placebo (PBO + QT). O desfecho primário era resposta patológica maior (RPM), definido como <10% de células tumorais viáveis após a cirurgia.
Cerca de 90% dos pacientes em todos os braços foram submetidos à cirurgia, e mais de 90% tiveram ressecção R0, tendo 91% recebido osimertinibe adjuvante posteriormente. A RPM foi significativamente superior nos grupos tratados com osimertinibe: 26% no braço Osi + QT e 25% no Osi mono, em comparação com 2% no braço controle, com odds ratio de 19,8 (p<0,0001) e 19,3 (p<0,0001), respectivamente. As taxas de resposta patológica completa (RPC) foram de 4% (Osi + QT), 9% (Osi mono) e 2% (PBO + QT). A análise interina de sobrevida livre de eventos (SLE), ainda imatura, apontou tendência favorável ao uso de osimertinibe + quimioterapia. Entre os pacientes com doença N2 basal, o downstaging linfonodal foi mais frequente nos grupos com osimertinibe (53%) do que no grupo controle (21%). Os eventos adversos de grau ≥3 ocorreram em 36% (Osi + QT), 13% (Osi mono) e 33% (PBO + QT), sem óbitos relacionados à cirurgia em 30 dias.
O NeoADAURA é positivo para seu desfecho primário, fortalecendo o papel de osimertinibe no tratamento perioperatório de pacientes CPNPC EGFRm, apontando para um novo paradigma. A combinação de osimertinibe com quimioterapia pode ser considerada no planejamento de tratamento para pacientes com CPNPC ressecável e mutação no EGFR nos estágios II–IIIB.
Avaliador científico:
Dr. Leonardo Gil Santana
Oncologista clínico pelo A.C.Camargo Cancer Center – São Paulo/SP
Oncologista clínico na Clínica Santé – Lages/SC
Título de Especialista em Oncologia Clínica pela SBOC/AMB
Membro do GBOT, IALSC e SBOC
Instagram: @drleonardosantana
Cidade de atuação: Lages/SC.