SBOC REVIEW

Hightlights Tumores Gastrointestinais Alto
Sobrevida livre de eventos (SLE) no MATTERHORN: estudo de fase 3, randomizado, de durvalumabe mais quimioterapia com 5-fluorouracil, leucovorin, oxaliplatina e docetaxel (FLOT) em câncer gástrico/junção esofagogástrica ressecável (CG/CTEG)
Event-free survival (EFS) in MATTERHORN: A randomized, phase 3 study of durvalumab plus 5-fluorouracil, leucovorin, oxaliplatin and docetaxel chemotherapy (FLOT) in resectable gastric/gastroesophageal junction cancer (GC/GEJC)
O estudo MATTERHORN foi apresentado na sessão presidencial da ASCO 2025. Trata-se de um estudo de fase 3, duplo cego e placebo controlado, que avaliou o benefício da adição de imunoterapia com durvalumabe ao tratamento perioperatório com FLOT em pacientes com adenocarcinoma gástrico ou de transição esofagogástrica ressecáveis. Foram randomizados 948 pacientes em razão 1:1 para receberem durvalumabe (D) 1500 mg ou placebo (P) a cada 4 semanas em combinação com FLOT perioperatório por 4 ciclos (2 ciclos na fase neoadjuvante e 2 ciclos na fase adjuvante), seguido de durvalumabe ou placebo a cada 4 semanas por 10 ciclos, sendo estratificados por região geográfica, status linfonodal e expressão de PDL1 (≥1 vs. <1). O desfecho primário do estudo foi a sobrevida livre de eventos, enquanto os principais desfechos secundários incluíram a sobrevida global e a taxa de resposta patológica completa. Entre os pacientes incluídos, 67,5% apresentavam adenocarcinoma gástrico, 69,5% tinham linfonodos clinicamente positivos e 90% eram PDL1 positivos.
Com seguimento mediano de 31,5 meses, o estudo foi positivo para o desfecho primário, demonstrando redução estatisticamente significativa do risco de progressão, recorrência ou morte com a adição de durvalumabe. A sobrevida livre de eventos em 2 anos no grupo do durvalumabe foi de 67,4% e de 58,5% no grupo controle (HR 0,71 IC95% 0,58-0,86; p<0.001), independente da expressão de PDL1. Apesar de um benefício numérico em sobrevida global em 2 anos no grupo tratado com durvalumabe — 75,7% versus 70,4% no grupo placebo —, a diferença observada não atingiu significância estatística nesta análise (p = 0,03; limiar para significância definido como p < 0,0001). A taxa de resposta patológica completa também foi maior com durvalumabe: 19,2% vs. 7,2% (RR 2,69 IC95% 1,86-3,90). Não foram observadas diferenças relevantes entre os grupos em relação à taxa de eventos adversos de grau 3 ou 4 (D: 71,6%; P: 71,2%), ao atraso para a realização da cirurgia (D: 10,1%; P: 10,8%) ou ao atraso no início do tratamento adjuvante (D: 2,3%; P: 4,6%).
Como conclusão, o estudo demonstrou benefício em SLE com o uso de durvalumabe no tratamento do adenocarcinoma gástrico ou da junção esofagogástrica ressecável, por meio da adição de imunoterapia ao esquema FLOT perioperatório, seguida de durvalumabe por até um ano após a cirurgia. No entanto, é importante destacar que, na doença localizada, o desfecho de maior relevância é a sobrevida global (SG). Como os dados de SG ainda são imaturos, não é possível afirmar, até o momento, se a adição de durvalumabe aumenta a chance de cura desses pacientes.
Nivolumabe adjuvante no câncer esofágico ou junção gastroesofágica ressecado após quimiorradioterapia neoadjuvante: análise final de sobrevida global do CheckMate 577
Adjuvant nivolumab in resected esophageal or gastroesophageal junction cancer following neoadjuvant chemoradiotherapy: Final analysis of overall survival (OS) from CheckMate 577
O estudo CheckMate 577 foi inicialmente apresentado na sessão presidencial da ESMO 2020, com benefício em sobrevida livre de doença (SLD) com o uso de nivolumabe adjuvante após ressecção de câncer de esôfago e junção esofagogástrica (JEG) tratados previamente com quimiorradioterapia (QRT) neoadjuvante, ao dobrar a SLD mediana, o que levou a aprovação do tratamento pelas agências reguladoras. Foi um estudo de fase 3, duplo cego e placebo-controlado, que incluiu pacientes com câncer esofágico ou JEG ressecados após tratamento com QRT neoadjuvante e que não atingiram resposta patológica completa (≥ypT1 ou ≥ypN1). 794 pacientes foram randomizados em razão 2:1 para receber nivolumabe adjuvante ou placebo por 1 ano, com desfecho primário de sobrevida livre de doença e desfecho secundário de sobrevida global. 59% dos pacientes apresentavam câncer esofágico, 71% adenocarcinoma, aproximadamente 70% dos pacientes com PDL1 negativo nas células tumorais, mas mais de 70% com PDL1 positivo em avaliação por CPS.
Após seguimento mediano de 78,3 meses, a sobrevida global mediana foi numericamente superior no grupo nivolumabe (51,7 meses) comparado ao grupo controle (35,3 meses) e, apesar de diferença absoluta de 16,4 meses, não foi demonstrada diferença com significância estatística (HR 0,85 IC95% 0,7-1,04 p=0,1064). A sobrevida global em 3 e 5 anos com nivolumabe vs. placebo foi de 57% vs 50% e 46% vs 41%, respectivamente. Em análise de subgrupo, foi observada tendência a maior benefício na população com PDL1 positivo com CPS≥1 (HR 0,79 IC 0,64-0,99) e sobrevida numericamente inferior com nivolumabe nos pacientes com CPS<1 comparado ao placebo (39l,2 meses vs. 52,8 meses). O benefício em SLD foi mantido com seguimento mais longo de 5 anos, com SLD mediana de 21,8 meses no grupo nivolumabe adjuvante vs. 10,8 meses no braço placebo com HR 0,76 (0,63-0,91). O desfecho exploratório de sobrevida livre de metástase à distância (SLMD) também favoreceu o braço de nivolumabe com SLMD mediana de 27,3 meses neste grupo, comparado a 14,6 meses no grupo controle. Não foram reportados novos eventos adversos preocupantes com o seguimento prolongado.
A análise final de sobrevida global (SG) do estudo CheckMate 577 não demonstrou benefício estatisticamente significativo na população por intenção de tratamento (intention-to-treat). No entanto, a análise de subgrupos sugere maior benefício em pacientes com expressão positiva de PD-L1, avaliada por CPS, o que é consistente com os dados observados no cenário de doença avançada. Dessa forma, essa variável pode ser considerada na seleção de pacientes para o tratamento adjuvante com nivolumabe.
Resultados do estudo de fase III de quimioterapia pré-operatória com regime mFOLFIRINOX ou PAXG para adenocarcinoma ductal pancreático estadio I-III. Estudo CASSANDRA – PACT21
Results of a randomized phase III trial of pre-operative chemotherapy with mFOLFIRINOX or PAXG regimen for stage I-III pancreatic ductal adenocarcinoma. CASSANDRA – PACT21 trial
O estudo de fase 3, CASSANDRA – PACT21, comparou os regimes de quimioterapia pré-operatória PAXG e mFOLFIRINOX em pacientes com adenocarcinoma ductal pancreático ressecável ou ressecável borderline, adotando os critérios de ressecabilidade do NCCN e Consenso Internacional. Foram randomizados 261 pacientes para receber mFOLFIRINOX ou PAXG com Cisplatina 30 mg/m², nab-paclitaxel 150 mg/m², capecitabina 1250 mg/m² 2xd D1-14 e gencitabina 800 mg/m² a cada 14 dias por 4 meses. Caso não apresentassem progressão ou toxicidade limitante, os pacientes eram randomizados para receber 2 ciclos adicionais da mesma quimioterapia seguida de cirurgia ou cirurgia seguida de 2 ciclos da mesma quimioterapia (adjuvante). Foram estratificados inicialmente por níveis séricos de CA 19-9 e submetidos a reestadiamento com tomografias a cada 8 semanas. O desfecho primário foi sobrevida livre de evento (SLE) e os desfechos secundários foram taxa de resposta, taxa de resposta de CA 19-9, taxa de ressecabilidade, resposta patológica, toxicidade, qualidade de vida e sobrevida global.
O estudo foi positivo para o desfecho primário de SLE, com SLE mediana de 16 meses para o grupo PAXG comparado a 10,2 meses o grupo mFOLFIRINOX (HR 0,64 IC95% 0,48-0,86 p=0,003). A SLE em 3 anos foi de 31% com PAXG e 13% com mFOLFIRINOX. Avaliado o desfecho por classificação cirúrgica, o tratamento com PAXG quase dobrou a SLE em 3 anos comparado ao mFOLFIRINOX, tanto no cenário ressecável (41% vs. 22%) quanto ressecável borderline (19% vs. 9%). Os dados de sobrevida global ainda eram imaturos no momento da apresentação, com sobrevida global mediana numericamente superior com PAXG de 37,3 meses vs. 26 meses no grupo controle (HR 0,70 IC 0,47-1,04 p=0,07). Os desfechos secundários de taxa de controle de doença, resposta de CA 19-9 e resposta patológica com ausência de envolvimento linfonodal foram superiores para o grupo PAXG. Quanto à segurança, neutropenia G3-4 foi mais comum com PAXG (42% vs. 29%) enquanto diarreia, elevação de transaminases e reação infusional G3-4 foram mais frequentes com mFOLFIRINOX.
Embora a quimioterapia neoadjuvante não seja o padrão para o tratamento do adenocarcinoma pancreático ressecável — que pode ser abordado com cirurgia upfront —, em casos borderline ressecáveis ou com indicação de tratamento pré-operatório, o esquema PAXG surge como uma opção terapêutica atrativa.
Avaliador científico:
Dr. Mauricio Baptista Pereira
Oncologista Clínico pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP/USP) – São Paulo/SP
Oncologista clínica no grupo Oncoclínicas e Hospital Evangélico – Vila Velha/ES
Instagram: @drmauriciobpereira
Cidade de atuação: Vila Velha/ES