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SBOC REVIEW

Impacto da vacinação contra HPV e do rastreamento na eliminação do câncer de colo do útero: uma análise comparativa de modelagem em 78 países de renda baixa e baixa-média

Resumo do artigo:

Em maio de 2018, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) fez um chamado pela eliminação do câncer de colo do útero como problema de saúde pública no mundo. O plano tem três metas meta ambiciosas para que se atinja incidência igual ou inferior a 4 casos para 100.000 mulheres-ano: vacinação contra o HPV de 90% da meninas aos 15 anos de idade; rastreamento com um teste de HPV em 70% das mulheres aos 35 e 45 anos e tratamento adequado de 90% das mulheres diagnosticadas com lesões precursoras ou câncer.
O presente estudo do Cervical Cancer Elimination Modelling Consortium (CCEMC) realizou uma modelagem de diferentes cenários de vacinação contra o HPV e de rastreamento com teste HPV para avaliar seu impacto na incidência do câncer de colo do útero em 78 países de baixa e baixa-média renda. O grupo publicou, na mesma edição, uma análise do impacto das metas propostas pela OMS na mortalidade por câncer cervical nesses países.
Três cenários foram considerados como casos-base: vacinação apenas de meninas, vacinação de meninas e um único rastreamento na vida e vacinação de meninas e dois rastreamentos ao longo da vida. Assumiu-se que as meninas seriam vacinadas aos 9 anos (com vacinação de resgate até os 14 anos), que a cobertura vacinal seria de 90% e que haveria 100% de proteção contra os HPVs 16, 18, 31, 33, 45, 52, e 58. Assumiu-se que o rastreamento seria feito com teste para HPV uma ou duas vezes na vida, aos 35 e 45 anos, e que as coberturas seriam de 45% em 2023 e de 90% a partir de 2045. Os desfechos projetados foram incidência média de câncer de colo do útero ajustada por idade ≤ 4 casos para 100.000 mulheres-ano, ≤ 10 casos para 100.000 mulheres-ano e redução na incidência ≥ 85%.
Os resultados mostraram que a vacinação apenas de meninas, em países de baixa-média renda, reduziria a incidência de 19.8 para 2.1 casos para 100.000 mulheres-ano em um século, evitando-se 61 milhões de casos nesse período. Com a adição do rastreamento duas vezes ao longo da vida, reduziria-se a incidência para 0.7 casos para 100.000 mulheres-ano, evitando-se 12.1 milhões de casos adicionais. A vacinação apenas de meninas resultaria na eliminação do câncer de colo do útero em 60% dos países quando o limite foi de ≤ 4 casos para 100.000 mulheres-ano, em 99% deles quando o limite foi de ≤ 10 casos para 100.000 mulheres-ano e em 87% deles quando se projetou uma redução na incidência ≥ 85%. A adição do rastreamento duas vezes ao longo da vida resultaria na eliminação em 100% dos países para os três limites.
O estudo conclui que a eliminação do câncer de colo do útero é possível na maioria dos países de baixa-média renda ao final do século apenas com a vacinação contra o HPV, desde que haja altas taxas de cobertura. Para que a eliminação seja possível em todos os 78 países avaliados, será necessário aumentar as taxas de cobertura vacinal e screening duas vezes na vida para 90% e garantir proteção de longo-prazo contra os HPVs 16, 18, 31, 33, 45, 52, e 58.

 

Impact of HPV vaccination and cervical screening on cervical cancer elimination: a comparative modelling analysis in 78 low-income and lower-middle-income countries. Brisson M et al. Lancet. 2020 Feb 22;395(10224):575-590.
doi: 10.1016/S0140-6736(20)30068-4.
Impacto da vacinação contra HPV e do rastreamento na eliminação do câncer de colo do útero: uma análise comparativa de modelagem em 78 países de renda baixa e baixa-média.

 

Comentário da avaliadora científica:
- O estudo nos mostra que a vacinação contra o HPV, tendo aqui sido avaliada a vacina nonavalente em meninas, é fundamental para a redução substancial na incidência do câncer de colo do útero em países de rende baixa e baixa-média e, por tanto, deve ser uma medida prioritária em saúde pública nesses países;

- O rastreamento com teste de HPV em alta cobertura acelerará o processo de eliminação do câncer de colo do útero;
- Em países com alta incidência da doença (≥ 25 casos para 100.000 mulheres/ano), a vacinação exclusiva, ainda que com a vacina nonavalente, não será suficiente para atingir as metas de eliminação proposta pela OMS, o que reforça a necessidade de se estabelecerem programas organizados de rastreamento nesses países.

 

Avaliadora científica:
Dra. Karime Kalil Machado
Médica oncologista clínica especialista em tumores femininos do Hospital Sírio-Libanês, Brasília. Candidata a MPH pela Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health.

 

Editor:
Dr. Daniel da Motta Girardi
Oncologista clínico do Hospital Sírio-Libanês Brasília e do Hospital de Base do Distrito Federal. Advanced fellow no programa de tumores geniturinários do National Cancer Institute, Bethesda, EUA.