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SBOC REVIEW

Impacto na mortalidade do alcance das metas da OMS de eliminação do câncer cervical: um modelo de análise comparativa em 78 países de baixa e média-baixa renda

Resumo do artigo:

Dado o ônus global do câncer do colo do útero, as desigualdades associadas a doença e a oportunidade de prevenção primária (vacinação contra HPV) e secundária (rastreamento) de maneira custo-efetiva, em 2018, o diretor-geral da OMS fez um apelo por ações com o objetivo de destituir a doença como um problema de saúde pública mundial. A estratégia desenvolvida pela OMS propõe 90% de cobertura vacinal em meninas (9 anos de idade), 70% de cobertura de programa de rastreamento em duas coletas ao longo da vida (com pesquisa direta do HPV, aos 35 e 45 anos) e 90% de acesso ao tratamento adequado de lesões cancerígenas e pré-cancerígenas (considerando 10% de perda de seguimento), até o ano de 2030 (90-70-90). Com esta meta, será possível reduzir em 97% a incidência desta neoplasia nos 78 países de média-baixa renda e ainda evitar 74 milhões de novos casos neste século.
Nesta publicação, Canfell e colaboradores demonstram o impacto que a estratégia tripla da OMS (90-70-90) terá na mortalidade do câncer cervical no próximo século. A metodologia de cálculo é baseada num modelo matemático e considera variáveis como estadiamento ao diagnóstico, percentagem de pacientes com acesso ao tratamento e sobrevida em 5 e 10 anos em cada país/região. Os cenários idealizados para cálculo de mortalidade foram: 1) vacinação exclusiva de meninas aos 9 anos de idade 2) cenário 1 adicionado a um exame de rastreamento ao longo da vida (por volta dos 35 anos) e 3) cenário 1 adicionado a dois exames de rastreamento ao longo da vida (por volta dos 35 e 45 anos) – recomendação da OMS. Estes cenários foram comparados ao cenário status quo quando era considerado a ausência de intervenção.
Os resultados demonstram que, em relação ao status quo, a mortalidade pela doença pode ser reduzida em 34,2% (corresponde a cerca de 300.000 mil mortes) no período entre 2020-2030 quando instituída a estratégia recomendada pela OMS (cenário 3). Esse impacto se deve especialmente ao acesso a tratamento a contento e de qualidade. No período 2020-2070, a simples vacinação de meninas aos 9 anos é capaz de reduzir 61,7% da mortalidade e poupar 4,1 milhões de mortes pela doença. Nesse período, a proposta de intervenção tripla proporcionaria redução de 92,3% da mortalidade, equivalente a 14,6 milhões de mortes evitadas. Considerando os próximos 100 anos (2020-2120), a estratégia da intervenção tripla proporcionaria redução de 98,6% da mortalidade por câncer de colo de útero, o que corresponde a 62,6 milhões de mortes evitadas. Os autores concluem que a implementação da estratégia 90-70-90 é imperativa e urgente. Essa intervenção é capaz de reduzir quase 99% da mortalidade pelo câncer do colo de útero no próximo século.

 

Mortality impact of achieving WHO cervical cancer elimination targets: a comparative modelling analysis in 78 low-income and lower-middle-income countries. Canfell K, et al. Lancet. 2020; 395(10224):591-603. 
Impacto na mortalidade do alcance das metas da OMS de eliminação do câncer cervical: um modelo de análise comparativa em 78 países de baixa e média-baixa renda.

 

Comentário da avaliadora científica:
- Em conjunto com os resultados de um segundo estudo publicado no mesmo volume da revista, a implementação da estratégia 90-70-90 impacta consideravelmente a incidência e mortalidade do câncer cervical e deve ser vista como prioritária no âmbito da saúde pública. Contudo, devemos reconhecer que esse resultado só poderá ser conseguido através de ações imediatas, integradas e multissetoriais de toda a linha de cuidado da doença.
- A vacinação 9-valente é considerada para base do cálculo do impacto de mortalidade. No cenário brasileiro, essa ainda não é uma realidade SUS, o que pode superestimar o impacto da estratégia em nosso meio. 
- A vacinação de mulheres até 25 anos ou de meninos aos 9 anos não tem impacto expressivo na incidência e mortalidade pela doença quando comparado a estratégia tríplice.
- Esses resultados podem ser impactados pela co-infecção pelo HIV e outra análise está em andamento com o objetivo de observar essa população específica. Reconhecemos que essa população merece estratégias mais intensivas de rastreamento.
- Em maio de 2020, esses dados serão levados para Assembleia Mundial de Saúde e serão considerados para o estabelecimento do plano de Eliminação do Câncer Cervical pela OMS.

 

Avaliadora científica:
Dra. Carla Rameri de Azevedo
Oncologista clínico pelo Hospital AC Camargo e atualmente atua na Oncologia D´Or – Recife. Doutora em oncologia pelo Instituto Nacional de Câncer. Membro do grupo EVA e do comitê de tumores ginecológicos da SBOC.

Editor:
Dr. Daniel da Motta Girardi
Oncologista clínico do Hospital Sírio Libanês Brasília. Advanced fellow no programa de tumores geniturinários do National Cancer Institute, Bethesda, EUA.