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SBOC REVIEW

Inflamação e declínio clínico após quimioterapia adjuvante em idosos com câncer de mama: resultados do estudo HOPE (Hurria Older Patients Prospective Study)

Resumo do artigo:

O tratamento curativo de câncer de mama é muito eficaz, contudo, uma parcela não desprezível de pacientes não recupera sua saúde por completo. Idosos com câncer de mama tratados com quimioterapia adjuvante tem chance três vezes maior de desenvolver fragilidade (uma das síndromes geriátricas relacionada à perda de autonomia, quedas e morte).

A imensa heterogeneidade da condição clínica dos idosos (fit, pré-frágil, frágil) dificulta a avaliação precisa apenas com a idade cronológica e identificar aqueles com maior risco de fragilidade previamente ao tratamento é fundamental.

A inflamação é um processo biológico ligado ao envelhecimento e marcadores inflamatórios podem estar elevados na condição de fragilidade ou pré-fragilidade. Esta elevação em idosos com câncer de mama está ligada à pior funcionalidade e fragilidade após quimioterapia adjuvante.

Este é um estudo de coorte prospectivo em idosas com câncer de mama inicial, estadio I a III e boa saúde (fit). Marcadores inflamatórios (IL-6 [interleucina 6] e PCR [proteína C reativa]) foram coletados antes e depois da quimioterapia adjuvante e procurou-se avaliar a correlação entre eles e o declínio clínico dessas pacientes ao término do tratamento. Foram selecionadas 295 mulheres com boa saúde, mediana de idade de 69 anos, 37,3% estádio I e 62,7% II e III, 22% eram triplo negativo, 31,2% HER2 positivo. O tratamento cirúrgico foi o primeiro passo em 82% dos casos (52% cirurgia conservadora).

Foi utilizado como corte o valor de 2,5 pg/mL para IL-6 e 3,5 mg/L para PCR. Não houve diferença significativa entre os valores dos biomarcadores inflamatórios e o tipo de cirurgia realizada, bem como a utilização ou não de medicações anti-inflamatórias.

Em torno de 25,8% (n=76) dos pacientes inicialmente robustos apresentaram declínio clínico ao término da quimioterapia sendo maior em estádio II e III, com maior número de comorbidades e índice de massa corpórea.

Entre esses 76 pacientes, 65,8% tinham previamente níveis elevados de IL-6, 63,2% de PCR e 46,1% de ambos. Aqueles com elevação combinada de IL-6 e PCR tiveram chance 3 vezes maior de declínio para condição de fragilidade (OR=3,52; IC 95%1,55-8,01; p=0,003).

Este resultado tem impacto clínico importante na individualização do risco de fragilidade induzida pela quimioterapia antes de seu início. Idosos com níveis elevados de IL-6 e PCR tem baixo performance físico e cognitivo e são mais vulneráveis ao declínio mesmo quando aparentam robustez.

A via de inflamação pode ser um alvo terapêutico e bloqueá-la pode promover saúde e melhorar funcionalidade. Medidas como redução de stress, melhora da qualidade do sono, atividade física reduzindo inflamação do tecido adiposo e circulação de marcadores inflamatórios são intervenções neste sentido.

Inflamação e envelhecimento são mediadores chaves no impacto da quimioterapia na indução de fragilidade e senescência celular. O acúmulo de células senescentes secreta fatores pró-inflamatórios que irão causar dano tecidual e estão associados ao aumento de fadiga e neuropatia periférica.

A fragilidade é um processo dinâmico e a perda de acompanhamento após término da quimioterapia adjuvante e a análise apenas das características iniciais, sem análise de toxicidade como eventos adversos grau 3 a 5 e hospitalizações que também impactam na fragilidade e potencial não recuperação da condição clínica prévia, são limitações do estudo, não permitindo conclusões a longo prazo sobre desfechos.

 

 

Ji J, Sun CL, Cohen HJ et al. Inflammation and Clinical Decline after Adjuvant Chemotherapy in Older Adults with Breast Cancer: Results from the Hurria Older Patients Prospective Study. Journal of Clinical Oncology. Published online September 20, 2022. doi:10.1200/JCO.22.01217.
Inflamação e declínio clínico após quimioterapia adjuvante em idosos com câncer de mama: resultados do estudo HOPE (Hurria Older Patients Prospective Study).

 

Comentário da avaliadora científica:

O câncer de mama ocorre em 18% das vezes em mulheres acima de 75 anos e, embora haja um elevado número de idosos acometidos, há um déficit importante na literatura sobre o manejo adequado dessa população.

A procura de biomarcadores prognósticos e preditivos de resposta é o futuro da oncologia na tentativa de personalizar os tratamentos selecionando aqueles que realmente irão se beneficiar.

Deve-se levar em consideração a saúde global, estadiamento da doença, preferência do paciente e vulnerabilidade. Ferramentas clínicas de avaliação geriátrica ampla, escores prognósticos e de fragilidade auxiliam na tomada de decisão e minimizam os danos durante e após a quimioterapia. A qualidade de vida é primordial e a resposta dos idosos na recuperação da saúde global após toxicidades relacionadas ao tratamento é tão inferior quanto maior sua fragilidade inicial.

Elevados níveis de IL-6 e PCR antes do tratamento estão relacionados ao triplo de chance de declínio clínico impactando de forma permanente na qualidade de vida. A busca de marcadores para melhor seleção de pacientes vulneráveis é fundamental para evitar toxicidades desproporcionais aos idoso frágeis, tampouco deixar de tratar aqueles com saúde adequada e com potencial benefício.

 

Avaliadora científica:

Dra. Andrea Shimada
Residência Médica em Oncologia Clínica pela Faculdade de Medicina do ABC
Oncologista Clínica no Hospital Sírio-Libanês - SP
Pós-graduação em Cuidados Paliativos e membro da Coordenação da Pós-graduação de Oncogeriatria do Hospital Sírio-Libanês