SBOC REVIEW

Interrupção temporária versus tratamento contínuo com inibidores de tirosina-quinase em pacientes com carcinoma de células renais do tipo células claras (STAR): estudo, aberto, de não inferioridade, randomizado, controlado e fase 2/3
Resumo do artigo:
O carcinoma de células renais (CCR) é o câncer de rim mais comum. Em estudos de fase 3 envolvendo pacientes com carcinoma de células renais metastáticos, tanto o sunitinibe quanto o pazopanibe, inibidores de tirosina-quinase (TKI) administrados por via oral, forneceram benefício em sobrevida quando comparados ao interferon alfa. Apesar de ambas as terapias apresentarem eficácias similares, os perfis de segurança e qualidade de vida favorecem o pazopanibe comparado a sunitinibe. Considerando as toxicidades já conhecidas, os benefícios em sobrevida são alcançados às custas de importantes impactos negativos na qualidade de vida. Assim, a proposta de realizar pausas temporárias no tratamento poderia reduzir os eventos adversos e melhorar a qualidade de vida.
O Estudo STAR, fase 2/3, aberto, multicêntrico, randomizado, controlado e de não-inferioridade, randomizou pacientes com carcinoma de células renais do tipo células claras localmente avançado ou metastático, em primeira linha, para estratégia convencional ou interrupção transitória dos TKIs.
Os participantes receberam sunitinibe 50 mg/dia por 4 a cada 6 semanas ou pazopanibe 800 mg/dia, por 24 semanas. Na 24a semana, os pacientes com resposta completa, parcial ou doença estável foram alocados para um dos braços do estudo (interrupção temporária do tratamento versus terapia contínua).
Os desfechos primários foram sobrevida global e anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs).
A hipótese nula (ou seja, a hipótese de inferioridade da estratégia de interrupção) seria estabelecida se a estratégia de interrupção da droga versus administração continua fosse inferior para sobrevida global com diferença maior do que 7,5% em 2 anos e maior que 10% para QALYs.
A análise foi realizada tanto na população por protocolo (PP) quanto na população por intenção de tratar (ITT) com uma margem de não-inferioridade do hazard ratio (HR) de 0,812, considerando IC 95%. Isso significa que para rejeitar a hipótese nula e concluir a não-inferioridade do braço experimental (interrupção temporária), o limite inferior do IC 95% deveria ser maior ou igual a 0,812. Na análise de qualidade de vida, a não-inferioridade entre os dois grupos era afirmada se o limite inferior, considerando IC 95%, fosse maior ou igual a -0,156.
No estudo, foram rastreados 2.197 participantes e 920 foram incluídos no estudo, sendo que 432 (47%) dos 920 participantes descontinuaram o tratamento antes de iniciar a randomização na 24a semana devido a progressão radiológica.
Na população PP, a sobrevida global mediana foi de 28 (IC 95% 24 – 32) para o grupo controle e 27 meses (23 – 31) para o grupo intervenção com HR de 0,94 (IC 95% 0,80 a 1,09). Já na população ITT, a sobrevida global mediana foi de 28 meses (IC 95% 24 a 32) para o grupo controle e 27 meses (23 – 33) para o grupo intervenção com HR de 0,97 (IC 95% 0,83 a 1,12). Assim, comparando os resultados com a margem de não-inferioridade de 0,812, a sobrevida global com interrupção temporária foi não-inferior a terapia contínua na população ITT, porém, na população PP, o mesmo não verificado, porque o limiar está incluso no IC 95%.
Quanto ao QALYs, a interrupção temporária foi não-inferior ao tratamento contínuo, tanto na análise PP (HR 0,04, IC95% -0,14 a 0,21) quanto na ITT com (HR 0,06, IC95% -0, 11 a 0,23), em ambos os casos com limite inferior do IC95% acima da margem de não-inferioridade de -0,156.
Em linhas gerais, considerando-se o resultado negativo na análise de sobrevida global por protocolo, não foi possível concluir a não-inferioridade entre os grupos. No entanto, parece não haver redução clinicamente significativa na expectativa de vida no braço intervenção versus controle. Sendo assim, a estratégia com pausas pode ser uma opção capaz de propiciar benefício em qualidade de vida para os pacientes com carcinoma de células renais durante o uso de TKI.
Brown JE, Royle KL, Gregory W, et al. Temporary treatment cessation versus continuation of first-line tyrosine kinase inhibitor in patients with advanced clear cell renal cell carcinoma (STAR): an open-label, non-inferiority, randomised, controlled, phase 2/3 trial. Lancet Oncol. 2023;24(3):213-227. doi:10.1016/S1470-2045(22)00793-8.
Interrupção temporária versus tratamento contínuo com inibidores de tirosina-quinase em pacientes com carcinoma de células renais do tipo células claras (STAR): estudo, aberto, de não inferioridade, randomizado, controlado e fase 2/3.
Comentário do avaliador científico:
Apesar dos recentes avanços no tratamento dos pacientes com CCR, os TKIs ainda são utilizados pela maioria dos pacientes devido ao menor custo e maior disponibilidade em comparação com agentes imunoterápicos.
A toxicidade associada ao uso contínuo de TKIs tem impactado negativamente a qualidade de vida dos pacientes, com consequente redução da aderência ao tratamento. O estudo de fase 3 COMPARZ comparou a eficácia e a segurança do pazopanibe versus sunitinibe como terapia de primeira linha e concluiu que ambos têm eficácias similares, mas os perfis de segurança e qualidade de vida favoreceram o uso de pazopanibe.
No presente estudo, embora a análise por protocolo não tenha demonstrado não-inferioridade para sobrevida global, os resultados demonstraram a tendência de que é improvável que pacientes com interrupções temporárias no tratamento apresentem uma redução significativa em sobrevida global. Nos pacientes em quem a qualidade de vida é prioridade, a estratégia de interrupções temporárias pode fornecer benefícios em qualidade de vida e redução de custos.
Como perspectivas, outros estudos (REFINE e PRISM) têm também avaliado estratégias de redução de dose-intensidade de tratamentos para pacientes com carcinoma de células renais.
Avaliador científico:
Dr. Fernando Santos de Azevedo
Residência Médica em Oncologia Clínica pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG)
Oncologista Clínico do Grupo Hemolabor e do Centro Avançado de Diagnóstico da Mama (CORA – HC/UFG)