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SBOC REVIEW

Intervalo entre a quimiorradioterapia neoadjuvante e a cirurgia no câncer de reto

No tratamento do câncer de reto não metastático, o intervalo de tempo ideal entre o término da neoadjuvância e a cirurgia é desconhecido. O racional de adiar a cirurgia baseia-se nos princípios da radioterapia (RT) onde dano ao DNA ocorre durante a irradiação, mas a lise celular ocorre nas próximas semanas pós RT. O estudo Lyon R90-01 já havia mostrado maiores taxas de resposta patológica em 6 vs. 2 semanas. NCCN recomenda 5-12 semanas. Entretanto, a literatura existente sobre intervalos > 6 semanas é conflitante.
O GRECCAR6* foi um estudo multicêntrico de fase III que incluiu 265 pacientes com adenocarcinoma do reto médio e baixo cT3(82%)/cT4 ou TxN+ tratados com quimiorradioterapia neoadjuvante. Esses pacientes foram aleatorizados em 2 grupos: realizar cirurgia em 7 vs. 11 semanas do término da neoadjuvância. O trabalho foi negativo para seu desfecho primário (taxa de resposta patológica completa [pCR] definida como ypT0N0): 7 semanas: 15,0% (20/133) vs. 11 semanas: 17,4% (23/132); p=0,5983. Entretanto, o grupo 11 semanas apresentou maior morbidade (44,5% vs. 32%, p=0,0404), complicações médicas (32,8% vs. 19,2%; p=0,0137) e pior qualidade cirúrgica (mesorreto completo 78,7% vs. 90%; p=0,0156). A ocorrência de metástases durante o período de espera até cirurgia não foi diferente entre os grupos (7 semanas: 2,3% vs. 11 semanas: 1,5%; p=1,00).

Lefevre e cols. JCO 2016. PMID: 27432930

Comentários: No presente estudo, prolongar para 11 semanas o período de espera para cirurgia não aumentou a taxa de pCR, contrariando estudos restrospectivos prévios. Somando-se esse achado à maior morbidade e complicações, conclui-se que esperar 11 semanas ou mais (sem uso de QT nesse período) parece não trazer benefícios adicionais ao paciente. Temos ainda outro estudo randomizado em andamento comparando 6 vs. 12 semanas (NCT01037049). Usar QT no intervalo entre neoadjuvância e cirurgia pode aumentar pCR e baseia-se em estudo fase II de 2015, mas foge do foco da presente discussão.

Allan Andresson L. Pereira, MD, PhD.
Oncologista clínico do grupo de tumores gastrointestinais do ICESP/FMUSP. Doutor em Ciências Médicas (Oncologia) pela Uinversidade de Sao Paulo e ex-residente de oncologia do Hospital Sírio-Libanês.