SBOC REVIEW
Letrozole mais taselisib versus letrozole mais placebo em mulheres pós-menopausa com câncer de mama precoce, receptor de estrogênio positivo e HER2-negativo: Estudo LORELEI
Resumo do artigo:
LORELEI é um estudo no qual 334 mulheres com doença precoce (estádios I-III) e RE+ e HER2- foram randomizadas entre 16 semanas de letrozole + taselisib (166 pacientes) ou Letrozole + placebo (168 pacientes) neoadjuvante. Taselisib é um inibidor de PI3K seletivo para a isoforma alfa, levando à inibição da via de sinalização PI3K-AKT-mTOR, que frequentemente está envolvida na resistência à terapia endócrina.
O objetivo do estudo é avaliar o potencial do taselisib no cenário neoadjuvante em termos de eficácia e segurança. Os end-points primários foram: (1) resposta objetiva à ressonância pré-operatória; (2) resposta patológica completa à cirurgia. Ambos os end-points primários foram avaliados tanto na amostra total do estudo quanto no subgrupo onde mutações somáticas no gene PIK3CA foram detectadas (152 pacientes, 73 no grupo taselisib e 79 no grupo placebo). Os resultados do estudo sugerem que o uso do taselisib melhora a resposta objetiva à ressonância na amostra geral – 39% vs 50% (OR 1.55 95% CI 1.00-2.38, p=0.049), com resultados semelhantes na população mutada (38% vs 56%). Por outro lado, nenhuma melhora foi detectável em termos de resposta patológica completa, muito provavelmente devido ao baixo número absoluto de eventos – 3 no grupo taselisib vs 1 no grupo placebo. Dados de segurança sugerem, no entanto, piora importante da tolerabilidade com uso do taselisib – com 26% no grupo taselisib vs 8% no grupo placebo. Eventos adversos de grau 3 ou mais ocorreram em 11% vs 2% levando ao abandono do tratamento, respectivamente. Os eventos adversos mais comuns no grupo taselisib foram diarreia, náusea, estomatite, fadiga, hiperglicemia e rash.
Neoadjuvant letrozole plus taselisib versus letrozole plus placebo in postmenopausal women with oestrogen receptor-positive, HER2-negative, early-stage breast cancer (LORELEI): a multicentre, randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 2 trial. Saura C, Hlauschek D, Oliveira M. Lancet Oncol. 2019 Aug 8. pii: S1470-2045(19)30334-1. doi: 10.1016/S1470-2045(19)30334-1.
Letrozole mais taselisib versus letrozole mais placebo em mulheres pós-menopausa portadoras de câncer de mama precoce, receptor de estrogênio positivo e HER2-negativo (LORELEI): um estudo neoadjuvante fase 2 multicêntrico, randomizado, duplo cego, controlado por placebo.
Comentários do editor:
O estudo LORELEI, assim como outros estudos neoadjuvantes com hormonioterapia apresentados nos últimos anos, não deve ter impacto direto sobre a prática clínica, não somente pelos seus resultados, mas também porque o uso de hormonioterapia neoadjuvante hoje está limitado, em geral, a pacientes idosas. Mesmo assim, o grande volume de material biológico coletado no estudo LORELEI poderá ser utilizado para a realização de pesquisa translacional robusta que possa esclarecer o fenômeno da resistência endócrina e levar ao desenvolvimento de biomarcadores prognósticos e/ou preditivos com potencial para aplicação clínica futura. É importante salientar, no entanto, que programas de pesquisa translacional semelhantes, tanto em doença luminal quanto HER2-positiva, não foram capazes até o momento de se converter em biomarcadores validados para uso diário.
Adicionalmente, os dados de segurança deste estudo se somam aos do SANDPIPER e SOLAR-1 ao demonstrarem que, embora mais bem tolerados que os inibidores não seletivos de PI3K, como o buparlisib, a toxicidade da classe segue bastante elevada. A combinação de toxicidade substancial com pequena melhora da eficácia nos estudos SANDPIPER e LORELEI levaram ao abandono do desenvolvimento de taselisib para o câncer de mama. Em consequência, o alpelisib é, no momento, a única droga da classe que é aprovada para uso em câncer de mama (avançado) exclusivamente em pacientes com mutação em PIK3CA.
Editor:
Dr. Noam Falbel Pondé
Membro da SBOC; Oncologista Clínico do A.C.Camargo Cancer Center; ex-fellow em pesquisa clinical no Jules Bordet Institut, Bruxelas, Belgica; aluno de Doutorado na Universidade Livre de Bruxelas.
Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.