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SBOC REVIEW

Modificação da associação entre uso frequente de aspirina e risco de câncer de ovário: uma meta-análise usando dados individuais de dois consórcios de câncer de ovário

Resumo do artigo:

O câncer de ovário é a mais letal entre as neoplasias ginecológicas. Isso se justifica devido a esta doença se apresentar com sintomas muitas vezes inespecíficos, e devido a falta de estratégias de detecção precoce da doença. A quimioprevenção com anti-inflamatórios é um assunto promissor, visto que já é sabido que processos inflamatórios provavelmente desempenham um papel fundamental na carcinogênese ovariana, com fatores de risco inflamatórios importantes como endometriose e doença inflamatória pélvica. Além disso, a presença de biomarcadores inflamatórios circulantes é comprovadamente associada com aumento da incidência de neoplasia de ovário.

Um crescente número de estudos vem mostrando o papel do uso de aspirina na redução do risco de câncer de ovário. Análises agrupadas de ensaios clínicos randomizados que avaliaram a aspirina na prevenção de doenças cardiovasculares, observaram uma diminuição do risco de neoplasia de ovário. No cenário observacional, resultados dos estudos foram mistos, mas metanálises e análises agrupadas de estudos de coorte e casos-controle demonstraram que a aspirina pode reduzir o risco de câncer de ovário em 10% a 20%, particularmente quando usado com frequência quase que diária (pelo menos 6 dias na semana).

Esse estudo representa uma meta-análise que incluiu nove estudos de coorte da Ovarian Cancer Cohort Consortium e oito estudos de caso-controle da Ovarian Cancer association consortium, sendo avaliadas um total de 8.326 pacientes. É o maior estudo realizado até então sobre o uso de aspirina com o intuito de quimioprevenção para neoplasia de ovário.

Os pesquisadores utilizaram a regressão de Cox e a regressão logística para avaliar a associação entre o uso de aspirina e o risco de câncer de ovário. Foram realizadas análises dentro de subgrupos definidos por fatores de risco individuais para neoplasia de ovário (obesidade, história familiar, nuliparidade, uso de contraceptivos orais, endometriose e laqueadura), e pela quantidade de fatores de risco associados (0, 1 e ≥ 2). O estudo evidenciou uma redução de 13% (IC 95%, 6 a 20) no risco de câncer de ovário em pacientes que fizeram uso de Aspirina por pelo menos 6 dias na semana, com 14% de redução do risco para carcinomas serosos de alto grau, o subtipo mais comum e um dos mais letais. Os resultados foram consistentes em todos os subgrupos independente dos fatores de risco, com exceção das pacientes com diagnóstico de Endometriose, que não tiveram benefício.

 

 

Hurwitz LM, Townsend MK, Jordan SJ, et al. Modification of the Association Between Frequent Aspirin Use and Ovarian Cancer Risk: A Meta-Analysis Using Individual-Level Data From Two Ovarian Cancer Consortia. JCO; Published online 22 July 2022. DOI: 10.1200/JCO.21.01900.
Modificação da associação entre uso frequente de aspirina e risco de câncer de ovário: uma meta-análise usando dados individuais de dois consórcios de câncer de ovário.

 

Comentário do avaliador científico:

Este é o maior estudo realizado até então na avaliação de quimioprevenção com Aspirina para neoplasia de ovário. O estudo tem um resultado muito interessante e estatisticamente significativo, mostrando que o uso de aspirina por pelo menos 6 dias na semana leva a uma redução do risco de desenvolvimento de câncer de ovário, e isto se confirmou quando avaliados os subgrupos com fatores de risco específicos (com exceção de pacientes com endometriose, que não tiveram esse benefício comprovado). Acredito que é um dado muito importante e relevante principalmente nos subgrupos que possuem fatores de risco não modificáveis para neoplasia de ovário (como mutações germinativas de BRCA e síndrome de Lynch, por exemplo), e esses dados devem ser utilizados para que se criem hipóteses de novos estudos abordando esta estratégia associada com outros mecanismos de prevenção neste subgrupo de pacientes.

 

Avaliador científico:

Dr. Otávio de Carvalho Modaffar Al-Alam
Residência Médica em Oncologia Clínica pela Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA) da Universidade Federal de Ciências de saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
Oncologista clínico no Hospital Moinhos de Vento e na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre