SBOC REVIEW
Mortalidade após diagnóstico de câncer de mama em homens versus mulheres
Resumo do artigo:
O câncer de mama masculino é raro (0,6 a 1% dos casos de câncer de mama), com estimativa de 2.670 casos novos nos EUA em 2019. Este estudo observacional compara a mortalidade entre homens e mulheres com câncer de mama e avalia os fatores associados à disparidade entre os dados entre ambos os sexos.
Foram levantados os casos de câncer de mama de janeiro de 2004 a dezembro de 2014 do NCBD (banco de dados Americano). Foram excluídos pacientes com segunda neoplasia, sem dados de estadiamento e com perda de seguimento, resultando em uma amostra de quase 1,9 milhões de pacientes, sendo 16.025 homens. Foram levantados dados demográficos (idade, ano, etnia, renda familiar, moradia rural ou urbana, escolaridade, local de tratamento e seguro de saúde), dados clínicos (tamanho do tumor, TNM (7a ed.), perfil de receptor hormonal, Her2, tipo histológico, invasão linfovascular, escore de recorrência por OncotypeDx e escore de Charlson/deyo de sobrevida em 10 anos em pacientes com múltiplas comorbidades) e dados de tratamento (tipo de cirurgia e se fez ou não quimioterapia, terapia endocrina e imunoterapia).
O objetivo primário do estudo foi sobrevida global. O objetivo secundário foi mortalidade em seguimento de 3 e de 5 anos. Primeiramente, foram analisados os fatores que afetaram mortalidade entre os homens e, após, feitas análises de associação desses fatores com a disparidade entre os sexos.
A mediana de idade do diagnostico nos homens foi superior à das mulheres (63,3 x 59,9 anos). Com um follow-up de 54 e 60 meses, a mortalidade foi de 24,9% vs 16% entre homens e mulheres respectivamente. A sobrevida global foi menor nos homens (86,4% vs 91,7% em 3 anos e 77,6% vs 86,4% em 5 anos). Fatores que não foram estatisticamente associados a maior mortalidade geral foram positividade para o receptor de estrogeno, HER2 e tipo histológico. Todos os outros fatores demográficos, clínicos e de tratamento tiveram associação com maior mortalidade. Mesmo após ajuste para esses fatores, o sexo masculino ainda teve maior mortalidades em todas as análises.
O sexo masculino foi um fator independente associado a maior mortalidade (15% mais que mulheres em 3 anos e 19% em 5 anos), em todos os estadios. Uma explicação levantada pelos autores é que todos os guidelines para câncer de mama foram feitos a partir de estudos com mulheres e talvez o câncer de mama no homem tenha uma biologia diferente.
Overall Mortality After Diagnosis of Breast Cancer in Men vs Women. Wang F, et al. JAMA Oncol. Published online September 19, 2019. doi:10.1001/jamaoncol.2019.2803.
Mortalidade após diagnóstico de câncer de mama em homens versus mulheres.
Comentários do editor:
Dados epidemiológicos deste trabalho são concordantes com outros na literatura sobre raridade de câncer de mama em homens e predominância de tumores com receptores hormonais. Este trabalho é importante, pois compara a diferença entre os sexos no câncer de mama com uma amostra grande, sendo o maior trabalho de câncer de mama em homens. É um estudo observacional analítico e, portanto, não pode concluir sobre causalidade. Mas análises multivariadas realizadas para ajustar possíveis diferenças, como fatores demográficos, clínicos e de tratamento, dão força ao estudo e permite que seja gerada a hipótese de que o câncer de mama no homem tem comportamento biológico diferente do da mulher, com maior mortalidade. O tamanho da amostra masculina é um ponto importante que torna o estudo mais confiável, comprovado pelo estreito IC (intervalo de confiança) dos resultados. Importante destacar ainda que não há dados no estudo de tempo de recorrência e da causa de morte, sendo incluído também mortalidade não câncer específico.
Portanto, diante de um paciente masculino com câncer de mama, devemos lembrar dessa hipótese e talvez até tratá-los como maior risco do que o mesmo estadio na mulher. Importante saber que os escores de risco molecular não se aplicam aos homens. Lembrar que o tamoxifeno é a hormonioterapia preferencial no homem, e se opção por usar inibidor de aromatase, deve-se adicionar análogos de GnRH. O FDA já aprovou iCDK4/6 para câncer de mama metastático em homens.
Editora:
Dra. Mayra Calil Jorge Frankenfeld
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo A.C.Camargo Cancer Center; Médica Oncologista do Hospital das Clínicas-UNESP e do Instituto Oncomed.
Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.