SBOC REVIEW

Nível sérico de testosterona e sobrevida global na primeira linha de tratamento com abiraterona e enzalutamida para pacientes com câncer de próstata metastático e resistente à castração
Introdução
Terapias com ação direcionada aos receptores androgênicos, Abiraterona e Enzalutamida (Abi/Ez), prolongam a sobrevida global de pacientes com câncer de próstata metastático e resistente à castração (mCPRC). Pacientes com níveis de testosterona sérica muito baixos parecem ter menos benefício com essas terapias e ter um câncer de próstata mais agressivo.
Métodos
Estudo de coorte observacional retrospectivo conduzido para avaliar se a testosterona sérica no momento do início do tratamento de primeira linha com Abi/Ez está relacionada com a sobrevida global (SG) e com o tempo para a falha de tratamento (TFT) em pacientes com mCPRC. Os modelos de Kaplan-Meier e Cox-regression foram utilizados para análises de sobrevida. O ponto de corte da testosterona foi definido utilizando Log-rank statistics (Lausen and Schumacher). O X² test e Mann-Whitney U-test foram utilizados para comparar variáveis categóricas e contínuas, respectivamente. Logistic regression foi utilizada para avaliar as características relacionadas com os níveis séricos de testosterona. Significância estatística foi estabelecida como 0.05.
Resultados
De maio/2012 a fevereiro/2017, 100 pacientes foram avaliados. O seguimento mediano foi de 27.8 meses (2.23 a 68.26). Pacientes com altos níveis de testosterona (>28.2; n = 20) alcançaram uma SG significativamente maior (mediana 66.0 vs 31.9 meses, testosterona > 28.2 HR: 0.206, 95% IC 0.074 a 0.571, p = 0.002) e maior TTF (mediana 30.6 vs 11.8 meses, testosterona > 28.2 HR: 0.408, 95% IC 0.219 a 0.762, p = 0.005) do que pacientes com baixo nível sérico de testosterona (<28.2; n = 80), independente de terem recebido tratamento com Abi (n = 69) ou Ez (n = 31).
Pacientes com altos níveis séricos de testosterona eram mais jovens (mediana 67.7 vs 73.6 anos; p = 0.026), tinham um maior índice de massa corporal (IMC) (28.5 vs 25.9, p = 0.023) e um menor valor de PSA ao início de Abi/Ez (12 vs 26, p = 0.031), do que pacientes com baixos níveis de testosterona. Idade (OR 0.93, 95% IC 0.8 a 0.9, p = 0.021), IMC (OR 1.21, 95% IC 1.1 a 1.4, p = 0.006) e PSA inicial (OR 1.2, 95% IC 1.03 a 1.4, p = 0.020) foram significativamente associados com testosterona > 28.2. Após 4 meses de tratamento com Abi/Ez, a redução do PSA em >50% em relação ao inicial foi observada mais frequentemente no grupo com altos níveis séricos de testosterona do que nos pacientes com baixos níveis (90% vs 57.5% dos pacientes, respectivamente, p = 0.007).
Conclusões
Pacientes com altos níveis de testosterona (>28.2) tiveram melhor SG e TFT quando tratados com Abi/Ez na primeira linha mCPRC do que os com baixos níveis. Testosterona pode ser considerada um marcador prognóstico e preditivo nesse cenário, e pode ser utilizada para a decisão terapêutica nessa população.
Serum testosterone level and overall survival in first-line abiraterone and enzalutamide for metastatic castration-resistant prostate cancer patients. Vilbert MTS, et al. J Clin Oncol 38: 2020 (suppl; abstr e17545). DOI: 10.1200/JCO.2020.38.15_suppl.e17545.
Nível sérico de testosterona e sobrevida global na primeira linha de tratamento com abiraterona e enzalutamida para pacientes com câncer de próstata metastático e resistente à castração.
Comentário da autora:
Vários estudos têm indicado que os pacientes com câncer de próstata resistentes à castração e níveis séricos de testosterona não tão suprimidos pela terapia de deprivação androgênica, apresentam melhores resultados com os tratamentos com Abiraterona e Enzalutamida. No presente estudo, utilizou-se o modelo estatístico Log-rank statistics (Lausen and Schumacher) para encontrar o ponto de corte ideal da testosterona pré-tratamento Abi/Ez em pacientes mCPRC. Esse ponto, de 28.2 ng/dL, foi consideravelmente maior que o de outros estudos publicados.
Chama atenção especial os pacientes com altos níveis de testosterona (>28.2) pré-início de Abi/Ez que alcançaram uma sobrevida global mediana maior que o dobro daqueles com baixos níveis de testosterona (<28.2) (mediana 66.0 meses versus 31.9 meses, respectivamente). O mesmo foi verdadeiro para o tempo livre de falha ao tratamento. Altos níveis de testosterona foram associados com pacientes mais jovens, maior índice de massa corporal e menores valores de PSA ao início de Abi/Ez.
O estudo apresenta evidência de que os pacientes com altos níveis de testosterona parecem ter melhores resultados de sobrevida quando tratados com Abiraterona e Enzalutamida. Sugere-se que a testosterona talvez possa ser considerada um marcador prognóstico e preditivo nesse cenário, e auxiliar na decisão terapêutica para os pacientes com câncer de próstata metastático e resistente à castração. O estudo apresenta limitações por ser uma coorte retrospectiva e com um pequeno número de pacientes.
Autora:
Dra. Maysa T. Silveira Vilbert, MD.
Clinical and Research Fellow em tumores cutâneos e melanoma no Princess Margaret Hospital, University of Toronto. Ex-residente de Oncologia Clínica do A.C. Camargo Cancer Center. Life Member of the Association of IUCC Fellows – Union for International Cancer Control.