SBOC REVIEW
Nivolumabe em pacientes com câncer gástrico ou junção esofagogástrica avançados
O tratamento de primeira linha do câncer gástrico avançado baseia-se principalmente na combinação de fluoropirimidinas e platinas, enquanto em segunda linha há dados que suportam o uso de taxanos, irinotecano e ramucirumabe. No entanto, após falha terapêutica às duas primeiras linhas de tratamento, não há dados que orientem qual a melhor conduta. Estudos de fases I e II mostraram atividade dos inibidores de PD-1, nivolumabe e pembrolizumabe, em câncer gástrico avançado, o que justifica uma maior investigação dessa terapêutica.
Yoon-Koo Kang e cols. publicaram recentemente os dados de um estudo de fase III que avaliou a segurança e o impacto do nivolumabe na sobrevida global (SG) de pacientes asiáticos com diagnóstico de câncer gástrico ou de junção esofagogástrica (JEG) avançados, que progrediram a duas ou mais linhas de tratamento. Ao todo, 493 pacientes não selecionados quanto à expressão do PDL-1 foram randomizados (2:1) para receber 3 mg/kg de nivolumabe a cada duas semanas ou placebo. Foi observada uma maior SG mediana nos pacientes que receberam o anti-PD1 (5,26 meses versus 4,14 meses; hazard ratio [HR] de 0,63, intervalo de confiança [IC] de 95%, 4,6-6,37; p < 0,0001), bem como maior taxa de SG em um ano (26,2% versus 10,9%) e maior taxa de resposta (TR) objetiva (11,2% versus 0%). Análise post-hoc mostrou que o benefício no grupo que recebeu nivolumabe ocorreu independente da expressão de PD-L1. Eventos adversos graus 3-4 foram reportados em 34 pacientes (10%) do grupo do nivolumabe e em sete pacientes (4%) do grupo placebo.
Kang YK, Boku N, Satoh T, Ryu MH, Chao Y, Kato K, et al. Nivolumab in patients with advanced gastric or gastro-oesophageal junction cancer refractory to, or intolerant of, at least two previous chemotherapy regimens (ONO-4538-12, ATTRACTION-2): a randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 3 trial. Lancet. 2017 Oct 5. pii: S0140-6736(17)31827-5.
Comentários: o nivolumabe mostrou um ganho modesto tanto em SG quanto em TR nos pacientes com câncer gástrico ou JEG avançados e politratados, com perfil de toxicidade manejável. Esses dados, além de oferecerem opção terapêutica para terceira linha, suportam a condução de estudos avaliando essa medicação em linha de tratamento mais precoce.
Dra. Juliana Florinda M. Rêgo, MD, Ph.D.
Oncologista clínica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Liga Norte-Riograndense Contra o Câncer; doutora em Oncologia Clínica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)