Instalar App SBOC


  • Toque em
  • Selecione Instalar aplicativo ou Adicionar a lista de início

SBOC REVIEW

Nova associação de imunoterapia e antiangiogênico comprova benefício no câncer renal avançado (estudo RENOTORCH)

Resumo:

Na última década, o panorama de opções terapêuticas para a primeira linha no carcinoma de células renais avançado mudou dramaticamente. O uso de inibidores de checkpoints imunes (em imunoterapia dupla ou em combinação com antiangiogênico) melhorou significativamente o desfecho em tal cenário. Nesse contexto, o estudo RENOTORCH avaliou a eficácia de toripalimabe (agente anti-PD-1) mais axitinibe comparado ao uso isolado de sunitinibe.

Os critérios de inclusão foram: idade entre 18 e 80 anos, diagnóstico de carcinoma de células renais (CCR) de células claras irressecável ou metastático sem tratamento sistêmico anterior (exceto citocinas) para a doença metastática, pelo menos uma lesão mensurável conforme critérios RECIST versão 1.1, risco intermediário ou alto e pontuação de desempenho ECOG de 0 ou 1. Os critérios de exclusão ao estudo foram pacientes com quadro de metástases ativas no sistema nervoso central, diagnóstico de doença autoimune ativa, histórico de tratamento sistêmico com glicocorticoides ou imunossupressores nos 14 dias anteriores à primeira dose do estudo e pacientes hipertensos cujo controle pressórico era inadequado.

Trata-se de uma pesquisa de fase III, randomizada e multicêntrica, realizada em 47 locais na China. Seu objetivo era investigar a eficácia e segurança da combinação de toripalimabe mais axitinibe em comparação com sunitinibe como tratamento de primeira linha para pacientes com carcinoma de células renais (CCR) avançado, especificamente aqueles classificados como risco intermediário ou alto, dado pelo Consórcio Internacional de Banco de Dados de Carcinoma de Células Renais Metastático (IMDC).

Os pacientes elegíveis foram randomizados em uma proporção de 1:1 para receber toripalimabe (240 mg intravenoso a cada 3 semanas) mais axitinibe (5 mg oral duas vezes ao dia) ou sunitinibe (50 mg oral uma vez ao dia, em ciclos de 4/6 ou 2/3 semanas). A randomização levou em conta o risco, se intermediário ou alto. O tratamento continuou até a progressão da doença, desenvolvimento de efeitos adversos inaceitáveis, ou decisão do médico ou paciente de interrompê-lo.

Toripalimabe poderia ser administrado por até 2 anos, enquanto axitinibe e sunitinibe não tinham limite de tempo.

No estudo, 421 pacientes foram aleatoriamente designados para receber toripalimabe mais axitinibe (n=210) ou apenas sunitinibe (n=211). Com um acompanhamento mediano de 14,6 meses, a combinação reduziu em 35% o risco de progressão da doença ou morte em comparação com o sunitinibe (HR 0,65; IC 95%, 0,49-0,86; p=0,0028). A mediana da Sobrevida Livre de Progressão (PFS) foi de 18,0 meses para o grupo toripalimabe-axitinibe, enquanto foi de 9,8 meses para o grupo sunitinibe. A taxa de resposta objetiva (ORR) foi consideravelmente maior no grupo toripalimabe-axitinibe (56,7% versus 30,8%; p<0,0001). Também houve uma tendência de melhora na sobrevida global (OS) com toripalimabe e axitinibe (HR 0,61; IC 95%, 0,40-0,92).

Eventos adversos de grau ≥3 foram relatados em 61,5% dos pacientes no grupo toripalimabe-axitinibe e 58,6% no grupo sunitinibe. O estudo teve como objetivo primário a sobrevida livre de progressão de doença. Objetivos secundários incluíram taxa de resposta objetiva, sobrevida global, duração da resposta ao tratamento, taxa de controle da doença, taxa de sobrevida global e segurança do tratamento. Esses resultados destacam a eficácia potencial da combinação de toripalimabe e axitinibe como tratamento para câncer renal avançado, com um perfil de toxicidade semelhante aos resultados de outros estudos com combinações com imunoterápico e agente antiangiogênico.

 

Comentário do avaliador científico:

Apesar dos resultados positivos, o estudo RENOTORCH tem limitações. O acompanhamento de 14,6 meses pode não capturar completamente os efeitos de longo prazo da terapia. Estudos com acompanhamento mais longo podem fornecer visão abrangente da sobrevida global e das respostas.

A população limitada à China pode limitar a generalização para outras populações étnicas e geográficas e, deste modo, há a necessidade de ensaios futuros que deverão incluir amostras mais diversas para validar os achados. O custo e acesso aos medicamentos são considerações importantes a serem observadas, pois limitam o uso em boa parte da população que se beneficiaria da associação de drogas mencionadas, sendo sempre necessário avaliar o custo-efetividade para garantir acessibilidade a longo prazo.

Apesar disso, o estudo RENOTORCH evidencia que toripalimabe com axitinibe é opção promissora para câncer renal avançado. Em última análise, RENOTORCH é avanço no tratamento e base para investigações futuras.

 

Citação: Yan X, Ye M, Zou Q, et al. Toripalimab plus axitinib versus sunitinib as first-line treatment of advanced renal cell carcinoma: RENOTORCH, a randomized, open-label, phase III study. Ann Oncol. Published online October 21, 2023. doi:10.1016/j.annonc.2023.09.3108

 

Avaliador científico:

Nayarah Potyara Santos Castro Xavier

Graduação em Medicina, Residência em Clínica Médica e Oncologia Clínica pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), Paliativista pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Responsável Técnica do setor de quimioterapia do Hospital do Bem – Unidade de Oncologia do Sertão.