SBOC REVIEW
Olanzapina em baixa dose é eficaz na profilaxia de êmese de alto risco
Resumo do Artigo:
Náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia constituem um evento adverso desagradável e sua incidência pode atingir mais de 90% dos pacientes caso não seja empregada uma terapia antiemética eficaz. A diretrizes recomendam uso de terapia tripla com antagonista NK1, antagonista 5-HT3 e dexametasona nos esquemas de alto risco de êmese. A Olanzapina é um antipsicótico que tem ação antagonista em vários receptores, incluindo os de dopamina, serotonina e histamina e, por este motivo, está envolvida na prevenção de náuseas e vômitos. Quando combinada à terapia tripla na dose de 10 mg ao dia, mostra-se altamente efetiva, porém a ocorrência de sonolência diurna como evento adverso principal impede o seu uso generalizado na prática clínica.
Este estudo de fase 3 randomizado, controlado, aberto, de centro único realizado na Índia, teve como objetivo demonstrar a não inferioridade da Olanzapina em baixa dose comparada à dose padrão na prevenção de náuseas e vômitos em pacientes com tumores sólidos submetidos a esquemas de quimioterapia com alto risco de êmese.
Os pacientes deveriam ter entre 13-75 anos, virgens de tratamento quimioterápico, com proposta de utilização de Doxorrubicina 60 mg/m² combinada a Ciclofosfamida 600 mg/m² ou Cisplatina 70 mg/m² ou superior, por ciclo, com ou sem outros agentes quimioterápicos, além de ECOG 0-2. Os pacientes de ambos os grupos recebiam antagonista 5-HT3 (Palonosetrona 0,25 mg IV no D1; Granisetrona 1 mg IV ou 2 mg VO no D1 ou Ondansetrona 8 mg IV no D1 seguido de 8 mg VO no mesmo dia e por dois dias adicionais), Dexametasona (8 mg IV no D1 apenas) e antagonista NK1 (Fosaprepitanto 150 mg IV no D1 ou Aprepitanto 125 mg VO no D1 e 80 mg no D2 e D3). Além disso, recebiam também Olanzapina 2,5 mg/dia (baixa dose) ou 10 mg/dia (dose padrão) nos dias 1 a 4, à noite.
Os desfechos foram mensurados em controle completo (ausência de vômito, não utilização de medicação de resgate e náusea leve ou ausente); controle total (ausência de vômito, não utilização de medicação de resgate e ausência de náusea); resposta completa (ausência de vômito e não utilização de medicação de resgate) e sonolência diurna. Todos os sintomas foram categorizados em escala de 4 pontos e avaliados na fase aguda (0-24h), tardia (25-120h) e fase global (0-120h). O desfecho primário do estudo foi a proporção de pacientes com controle completo na fase global.
Foram randomizados 267 pacientes, sendo 132 pacientes para o grupo de baixa dose de Olanzapina e 135 para o grupo da dose padrão. A maioria (94%) era do sexo feminino e 91% tinham câncer de mama e foram submetidos ao esquema de Doxorrubicina e Ciclofosfamida. Cinquenta e nove de 132 pacientes (45%) do grupo de baixa dose atingiram controle completo na fase global versus 59 de 135 (44%) no grupo da dose padrão, com uma diferença de proporção de -1,0%, o que excluiu a margem de não inferioridade que era de 10%, tendo, portanto, atingido o desfecho primário. Além disso, não houve diferença significativa entre os grupos quanto à resposta completa e ao controle total das náuseas e vômitos nas fases aguda, tardia ou global. Menos pacientes no grupo da baixa dose apresentaram sonolência diurna, tanto na fase global quanto no D1.
Estes resultados confirmaram o controle equivalente de náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia entre os dois grupos de tratamento, com menos sonolência diurna no grupo que recebeu 2,5 mg de Olanzapina comparado à dose padrão.
Comentário do Avaliador Científico:
Estudos prévios com Olanzapina na dose padrão de 10 mg ou dose inferior de 5 mg, juntamente com a terapia tripla, demonstraram uma boa eficácia na prevenção de náuseas e vômitos, porém às custas de sonolência diurna. Neste estudo, o uso de Olanzapina em dose baixa obteve uma eficácia similar em todas as fases de observação até 120 horas após o início da quimioterapia. Isto é de extrema importância pois sugere que o efeito da dose baixa não diminui em comparação com a dose padrão após o primeiro dia.
Apesar de ter sido um estudo de centro único e com a maioria dos pacientes do sexo feminino, a população foi homogênea, o que demonstra um poder adequado para tirar conclusões definitivas. Outro fator relevante foi o uso de dose única de Dexametasona 8 mg, reduzindo os eventos adversos do uso da corticoterapia neste cenário.
Por ter se mostrado uma dose eficaz e com menos sonolência diurna, o uso de Olazanpina 2,5 mg pode ser considerado um novo padrão para a profilaxia de náuseas e vômitos em esquemas de alto risco, associado à terapia tripla.
Citação: Bajpai J, Kapu V, Rath S, et al. Low-dose versus standard-dose olanzapine with triple antiemetic therapy for prevention of highly emetogenic chemotherapy-induced nausea and vomiting in patients with solid tumours: a single-centre, open-label, non-inferiority, randomised, controlled, phase 3 trial. The Lancet Oncology. Published Online January 12, 2024. doi.org/10.1016/ S1470-2045(23)00628-9
Avaliador Científico:
Ana Cecília Vasconcelos
Oncologista Clínica pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira – IMIP/PE
Oncologista Clínica no IMIP/PE, Hospital Barão de Lucena (SES-PE) e Oncologia D’Or Regional PE
Mestrado em Cuidados Paliativos pelo IMIP/PE