Instalar App SBOC


  • Toque em
  • Selecione Instalar aplicativo ou Adicionar a lista de início

SBOC REVIEW

Olaparibe com ou sem Ceribanibe versus quimioterapia à base de platina em câncer de ovário sensível à platina (NRG-GY004): um estudo randomizado, aberto, fase III

Resumo do artigo:

O câncer de ovário possui altas taxas de resposta ao tratamento inicial, porém a maioria das pacientes apresentam recorrência da doença. Considera-se doença sensível à platina quando recorrência ocorrer após 6 meses da exposição inicial à platina. O tratamento padrão atual é doublet de platina associado ou não a bevacizumabe.

Estudos mostram que inibidores de PARP (iPARP) e antiangiogênicos podem ter ação sinérgica em tumores platino-sensíveis, potencialmente devido ao downregulation dos genes associados à recombinação homóloga. Estudo pré-clínico com cediranibe, um inibidor de tirosina quinase com atividade antiangiogênica, associado à olaparibe, sugeriu que a atividade do cediranibe pode levar a um aumento da deficiência de recombinação homóloga, resultando em aumento da sensibilidade à inibição de PARP.

Estudo de fase II comparando a monoterapia com olaparibe com a combinação olaparibe/cediranibe em câncer de ovário recidivado sensível à platina demonstrou superioridade da combinação, com um aumento significativo da sobrevida livre de progressão (SLP).

Este é um estudo fase III, randomizado, onde 565 pacientes com tumor seroso ou endometrioide de alto grau de ovário, peritôneo ou tubas de falópio, sensíveis à platina foram randomizadas 1:1:1 para: doublet de platina a escolha do investigador, olaparibe 300 mg, duas vezes ao dia ou olaparibe 200 mg duas vezes ao dia associado a cediranibe 30 mg uma vez ao dia, até progressão de doença, toxicidade limitante ou desejo da paciente em descontinuar o estudo. Pacientes que receberam iPARP ou terapia antiangiogênica previamente foram excluídos.

A combinação de olaparibe/cidiranibe não aumentou a SLP comparado com quimioterapia a base de platina com HR 0,856 (IC 95%, 0,66 – 1,10; p=0,077). A SLP mediana foi de 10,4 meses para olaparibe/cediranibe e 10,3 meses para quimioterapia. Dados de sobrevida global (SG) ainda são imaturos, e, até o momento, não houve diferença em SG mediana entre os braços, estimada em 31,3 meses para quimioterapia, 30,5 meses para olaparibe/cediranibe e 29,2 meses para olaparibe. As taxas de resposta objetiva (TRO) foram de 71,3% para quimioterapia, 69,4% para olaparibe/cediranibe e 52,4% para olaparibe. Não houve diferença estatisticamente significativa entre as TRO de olaparibe/cediranibe e quimioterapia, porém a taxa de resposta de olaparibe isolado foi estatisticamente menor que quimioterapia.

Uma análise de subgrupo pré-especificada foi realizada na população com mutação germinativa de BRCA 1 e 2. A SLP mediana foi de 10,5 meses com quimioterapia, 18,0 meses com olaparibe/cediranibe e 12,7 meses com olaparibe nesta população. A TRO foi de 70,6% com quimioterapia, 88,9% com olaparibe/cediranibe e 90,0% com olaparibe.

Os eventos adversos mais comuns com a combinação foram diarreia (82,6%), fadiga (80,9%), náuseas (73,8%) e hipertensão (69,9%). Sem diferença estatística entre os braços em relação à qualidade de vida.

A combinação de olaparibe/cediranibe não alcançou seu objetivo primário de aumentar a SLP comparado com quimioterapia à base de platina, mas demonstrou atividade clínica em termos de SLP e TRO. Na análise de subgrupo com pacientes com mutação germinativa em BRCA, foi observado atividade clínica significativa tanto para olaparibe/cediranibe e para olaparibe isolado.

 

 

Liu JF, Brady MF, Matulonis UA et al. Olaparib With or Without Cediranib Versus Platinum-Based Chemotherapy in Recurrent Platinum-Sensitive Ovarian Cancer (NRG-GY004): A Randomized, Open-Label, Phase III Trial. J Clin Oncol. 2022 Mar 15:JCO2102011. Published online at ascopubs.org/journal/jco on March 15, 2022. doi: 10.1200/JCO.21.02011.
Olaparibe com ou sem Ceribanibe versus quimioterapia à base de platina em câncer de ovário sensível à platina (NRG-GY004): um estudo randomizado, aberto, fase III.

 

Comentário da avaliadora científica:

Este é o primeiro estudo de fase III comparando um regime de terapia completamente oral sem platina com a quimioterapia padrão de tratamento à base de platina em câncer de ovário sensível à platina.

Embora a combinação de cediranibe e olaparibe não tenha melhorado a sobrevida livre de progressão em comparação com a quimioterapia, os achados deste estudo sugerem que alternativas não baseadas em platina têm potencial neste cenário. Observa-se atividade e benefício clínico importantes especialmente em subgrupos com biomarcadores, como pacientes com mutações em BRCA, o que suporta uma exploração mais direta desta questão nesta população de pacientes. A atividade observada abre as portas para uma investigação mais aprofundada de abordagens não quimioterápicas que podem poupar os pacientes de lesões cumulativas de órgãos-alvo associadas à quimioterapia.

Como perspectiva, outros estudos de olaparibe/cediranibe em câncer de ovário estão em andamento, incluindo NRG-GY005 que compara olaparibe/cediranibe com quimioterapia não platina em câncer de ovário resistente à platina e ICON9 que examina olaparibe/cediranibe como terapia de manutenção após quimioterapia à base de platina.

 

Avaliadora científica:

Dra. Aline Cristini Vieira
Residência em Oncologia Clínica pelo Hospital Sírio-Libanês - SP
Oncologista Clínica do Grupo Oncoclínicas Curitiba – PR