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SBOC REVIEW

Omissão da radioterapia após cirurgia conservadora da mama no câncer de mama luminal A

Resumo do artigo:

Nas pacientes com câncer de mama em estágio inicial, a radioterapia adjuvante é comumente indicada após a cirurgia conservadora da mama com o objetivo de reduzir o risco de recorrência local. No entanto, para muitas pacientes a radioterapia pode ser pouco conveniente, além de estar associada tanto a eventos adversos agudos, como fadiga, irritação cutânea e edema, quanto a eventos adversos tardios, como endurecimento e retração da mama, e que podem afetar a cosmese e a qualidade de vida. Diante desse contexto e da menor incidência de recorrência local no câncer de mama ao longo dos últimos anos, atribuída ao avanço das técnicas na cirurgia conservadora e à eficácia do tratamento sistêmico adjuvante, surge a pergunta: a radioterapia adjuvante pode ser omitida em pacientes com câncer de mama de risco muito baixo?

O LUMINA trial, publicado no NEJM em agosto de 2023, é um estudo prospectivo, de braço único e multicêntrico desenhado para responder essa questão. O estudo avaliou pacientes com câncer de mama em estágio inicial e que haviam sido submetidas a cirurgia conservadora da mama e terapia endócrina adjuvante. As características clínico-patológicas e imunoistoquímicas utilizadas para definir os critérios de baixo risco de recorrência foram: idade maior ou igual a 55 anos, carcinoma invasivo (ductal, tubular ou mucinoso), T1N0 (tumor menor que 2 cm e linfonodo negativo), grau 1 ou 2, e subtipo intrínseco luminal A (definido por RE > 1%, RP > 20%, HER-2 negativo e Ki67 menor ou igual a 13,25%). As pacientes que preenchiam esses critérios de elegibilidade eram incluídas e não receberam radioterapia adjuvante.

O desfecho primário foi recorrência local, definida como recorrência invasiva ou in situ na mama ipsilateral. Os desfechos secundários foram câncer de mama contralateral, qualquer recorrência (recorrência na mama ipsilateral, nos linfonodos regionais ou em sítios distantes), sobrevida livre de progressão e sobrevida global. O limite superior pré-planejado de incidência cumulativa em 5 anos seria aceitável se fosse menor do que 5%.

Foram incluídas 500 pacientes. Após 5 anos de seguimento, a recorrência local foi relatada em 2,3% das pacientes (IC 90%: 1,3-3,8), resultado que atingiu o limite pré-estabelecido. Câncer de mama contralateral ocorreu em 1,9% das pacientes (IC 90%: 1,1-3,2) e recorrência de qualquer tipo foi observada em 2,7% (IC 90%: 1,6-4,1). Sobrevida livre de progressão em 5 anos foi de 89,9% (IC 90%: 87,5-92,2) e sobrevida global em 5 anos foi de 97,2% (IC 90%: 95,9-98,4).

Como conclusão, esse estudo demonstrou que entre as pacientes com câncer de mama com 55 anos ou mais, tumor T1N0, grau 1 ou 2, subtipo luminal A e que foram tratadas com cirurgia conservadora da mama e terapia endócrina isolada, a incidência de recorrência local em 5 anos foi muito baixa com a omissão da radioterapia.

 

Comentário do avaliador científico:

O LUMINA trial avaliou fatores clínico-patológicos em combinação com biomarcadores moleculares para identificar um grupo de pacientes de baixo risco de recorrência em que a radioterapia adjuvante poderia ser omitida do tratamento. Os resultados demonstraram que entre as pacientes submetidas a cirurgia conservadora e com pelo menos 55 anos, tumor T1N0, grau 1 ou 2 e subtipo intrínseco luminal A (pouco proliferativo e associado a melhor prognóstico), a recorrência foi muito baixa.

Importante observar que pacientes com câncer de mama lobular, tumor multifocal, grau 3, extenso componente intraductal ou invasão linfovascular foram excluídos, uma vez que tais fatores estão associados a maior recorrência local.

Dessa forma, o estudo sugere que para esse grupo específico de pacientes submetidas a cirurgia conservadora e com critérios de risco mínimo de recorrência local, a radioterapia adjuvante pode ser omitida, evitando assim os seus eventos adversos a curto e longo prazo e proporcionando melhor qualidade de vida para as pacientes. Os dados são interessantes, no entanto um acompanhamento mais prolongado de 10 anos associado aos resultados de outros estudos semelhantes em andamento são necessários para melhor avaliar o impacto da omissão da radioterapia nas taxas de recorrência, câncer contralateral e sobrevida. Vale a pena ressaltar que a discussão multidisciplinar, entre oncologistas, radioterapeutas e mastologistas, é sempre fundamental para direcionar a melhor estratégia terapêutica para cada paciente.

 

Citação: N Engl J Med 2023;389:612-9. DOI: 10.1056/NEJMoa2302344

 

Avaliador científico:

Dra Daniella Audi Blotta

Oncologista clínica da Beneficência Portuguesa de São Paulo

Título de especialista em oncologia clínica pela SBOC e AMB