SBOC REVIEW
Os resultados após 4 anos de rastreamento no câncer de próstata com exame PSA e Ressonância Magnética
Resumo do artigo:
O grande obstáculo ao modelo atual de rastreamento do câncer de próstata tem sido a alta taxa de intervenções quando o antígeno específico prostático (PSA) é utilizado como marcador de risco. A introdução da ressonância magnética (RM) reduz esse índice quando utilizada a biópsia guiada na lesão alvo. Porém, até 28% dos pacientes com RM negativa são diagnosticados com câncer clinicamente significante, definido como ISUP 2 ou maior. GÖTEBORG-2 é um estudo de rastreamento para avaliar os resultados dos pacientes submetidos à biópsia guiada de lesão alvo. O principal objetivo do estudo é a avaliação da redução do risco de detecção do câncer de próstata insignificante (classificado como ISUP grau 1) e, ao mesmo tempo, detecção do grau clinicamente significante em um estágio curável.
O ponto de corte do PSA foi 3 ng/mL. Homens com nível de PSA menor que 3 ng/mL eram convidados a retornar para um novo rastreamento no ano 2, 4 ou 8. Homens com nível de PSA ≥3 ng/mL foram divididos entre dois grupos: (1) grupo da biópsia sistemática (avaliação com RM seguido da biópsia independente do resultado radiológico) e (2) grupo da lesão alvo, em que a biópsia foi realizada se lesão suspeita identificada na RM (exceto se níveis de PSA maior ou, igual a 10 ng/mL associado com densidade de PSA maior ou igual a 0,1 ng/mL – nesses fazia-se biópsia sistemática).
A atual análise incluiu mais de 13 mil homens, entre 50 e 60 anos, que viviam em Gothenburg, Suécia. A percentagem de pacientes com nível de PSA maior ou igual a 3 ng/mL no primeiro rastreamento foi de 6,8% no grupo lesão alvo-RM e 6,9% no grupo sistemático. Desses, 2,8% do grupo lesão alvo e todos do sistemático foram submetidos à biópsia. Nas triagens subsequentes, 4,4% no grupo lesão alvo e 17,3% no grupo sistemático tiveram a biópsia indicada ao menos uma vez. A aderência à realização da biópsia foi de 94,6% no grupo da lesão alvo e 84,2% no grupo sistemático. Após um seguimento de 3,9 anos, o câncer foi detectado em 2,8% dos homens no grupo da biópsia de lesão alvo e 4,5% no grupo da biópsia sistemática. Houve uma redução no risco de detecção do câncer clinicamente insignificante (ISUP grau 1) de 57% no grupo da biópsia de lesão alvo comparado com o grupo da biópsia sistemática (HR 0,32). O risco do diagnóstico do câncer de próstata avançado foi relativamente baixo. A maioria dos cânceres avançados ou de alto risco foi detectada na primeira triagem ou, em homens com nível de PSA inferior a 3 ng/mL na triagem anterior.
No grupo de biópsia sistemática cada rodada de rastreamento resultou em muitos novos casos de diagnósticos de câncer clinicamente insignificante. Os graus considerados clinicamente significantes obtiveram prevalências similares entre os grupos durante todas as fases de rastreamento. A vantagem da biópsia sistemática foi a reclassificação gradual patológica, observada em 23,8% dos casos de ISUP 1 no grupo da biópsia lesão alvo. Os pontos fortes deste estudo incluem o desenho prospectivo, randomizado, seguimento acurado. As limitações incluem a faixa etária homogênea, centro único, baixa representatividade de homens pretos, hispânicos e asiáticos. Neste estudo, a omissão da biópsia de próstata em homens com resultados negativos na RM, e, portanto, um potencial atraso no diagnóstico de câncer de próstata, está associado a uma redução substancial na detecção do câncer de próstata insignificante e muito baixo risco de detectar um câncer incurável nas triagens subsequentes.
Comentário do avaliador científico:
O marcador PSA é um pilar consolidado na patologia do câncer de próstata, enquanto no rastreamento apresenta uma especificidade com capacidade de gerar excessos em condutas e diagnósticos insignificantes. Associar métodos mais avançados e selecionar melhor o perfil de pacientes é um objetivo constantemente em discussão. Inúmeros estudos sobre o tema têm sido publicados, mas não há um consenso.
De um lado temos o incremento da RM nesse fluxograma, de outro há evidencias relatadas da associação diretamente proporcional entre o nível de PSA e o risco de doença com maiores graus patológicos, mesmo na ausência de alterações na RM, apontando a presença de um subgrupo com comportamento mais agressivo e o método radiológico ainda pouco sensível.
GÖTEBORG-2 é um estudo prospectivo, randomizado, com seguimento rigoroso, o qual, além de evidenciar redução na taxa de diagnósticos de câncer clinicamente insignificantes, resulta em maior aderência no grupo que foi submetido à biópsia dirigida para lesão alvo. Ao mesmo tempo, se baseia em uma população bastante homogênea, subgrupos não representados, além do acesso a exames radiológicos em nível global ser desigual. Os dados geram informações relevantes, mas devem ser ponderados na prática clínica.
Citação:
Hugosson J, Arnsrud Godtman R, Wallstrom J, et al. Results after Four Years of Screening for Prostate Cancer with PSA and MRI. N Engl J Med. Published online September 24, 2024. DOI: 10.1056/NEJMoa2406050
Avaliador científico:
Dr. Rodrigo dos Santos
Oncologista na UNIMED Chapecó e Xanxerê/SC
Oncologista Clínico pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) – Santo André/SP
Instagram: @oncologiarodrigo
Cidade de atuação: Chapecó/SC