SBOC REVIEW
Padrões do uso de quimioterapia adjuvante e associação com a sobrevida em adultos com 80 anos de idade ou mais com adenocarcinoma pancreático
Resumo do artigo:
O adenocarcinoma pancreático é a terceira causa de mortalidade relacionado ao câncer nos Estados Unidos, país onde há um aumento gradativo da população idosa, e estima-se que em 2040 a população com 65 anos ou mais corresponda a 20% do total. A conduta cirúrgica é o único método passível de cura no câncer de pâncreas.
Vários estudos clínicos evidenciaram o benefício da quimioterapia adjuvante para pancreatoduodenectomia, entretanto a representação de pacientes com 80 anos ou mais não está bem descrita.
O estudo retrospectivo, observacional, a partir da National Cancer Database, obteve os dados de 2600 pacientes ≥ 80 anos com diagnóstico de adenocarcinoma ductal de pâncreas, submetidos a pancreatoduodenectomia, entre o período de 2004 e 2016.
Foi realizada a avaliação comparativa dessa faixa etária que recebeu quimioterapia adjuvante com quem não recebeu o tratamento pós-cirúrgico, sendo desfecho primário a análise de sobrevida global, definida como o intervalo de 90 dias após a cirurgia até a morte ou a última data de seguimento acessada.
Dos 1217 pacientes que receberam quimioterapia, 43,7% iniciaram após os 90 dias. A mediana de sobrevida global nos pacientes que receberam tratamento adjuvante foi de 17,2 meses versus 12,7 meses nos pacientes do grupo sem quimioterapia. A taxa de sobrevida global em 5 anos também foi maior no grupo dos pacientes que receberam o tratamento adjuvante (15,2% vs 10,9%), ambos com p < 0,001.
Critérios de pior prognóstico são diretamente relacionados com o aumento do estadiamento patológico, o aumento no número de dias de internações pós-operatório e o tratamento em instituição não acadêmica.
Achados semelhantes foram vistos nas análises de subgrupos (gênero, idade, dias de internações pós-operatória); o recebimento de quimioterapia adjuvante foi associado a uma redução do risco de morte e um ganho na sobrevida global. Resultados similares foram obtidos em subgrupos - margem negativa, linfonodos negativos, margem positiva, linfonodos positivos.
Este é o primeiro estudo a analisar o uso de tratamento adjuvante na população de faixa etária ≥80 anos e mostra que a idade isolada não deve ser um impeditivo na oferta do tratamento. Entretanto, devido a sua natureza retrospectiva, mostra fragilidades na ausência de informações relacionadas aos protocolos, quantidade de ciclos e nos dados de toxicidade. Outras questões que necessitam de resposta.
Winta T. Mehtsun, MD, MPH; Nadine J. McCleary, MD, MPH; Ugwuji N. Maduekwe, MD; et al. Patterns of adjuvant chemotherapy use and association with survival in adults 80 years and older with pancreatic adenocarcinoma. Published online December 2, 2021. doi:10.1001/jamaoncol.2021.5407.
Padrões do uso de quimioterapia adjuvante e associação com a sobrevida em adultos com 80 anos de idade ou mais com adenocarcinoma pancreático.
Comentário do avaliador científico:
Com o aumento de exposição a quimioterapia no cenário adjuvante em pacientes acima de 80 anos vários questionamentos surgem, afinal estamos diante de potenciais fragilidades. Os achados descritos vão ao encontro ao raciocínio mais conservador, visto que temos aumento de sobrevida em toda coorte, mesmo em estadiamentos menores, maiores comorbidades e internação prolongada, apesar de serem lançados como fatores de pior prognóstico.
Esta análise observacional afirma a necessidade de avaliarmos o paciente em suas múltiplas variáveis. Considerar a faixa etária como um impeditivo isolado de receber o tratamento sistêmico adjuvante pode levar a potencial perda de sobrevida global. Apesar das dificuldades relacionados ao desenho retrospectivo, ausência de dados mais específicos para melhor compreensão do período no qual o paciente recebeu o tratamento adjuvante, isso não impossibilita os questionamentos sobre a proposta e fortalece a necessidade de mais estudos com essa faixa etária, identificando os beneficiários da quimioterapia adjuvante.
Avaliador científico:
Dr. Rodrigo Santos
Oncologista clínico pela Faculdade de Medicina do ABC
Centro de Estudos e Pesquisa em Hematologia e Oncologia – CEPHO
Oncologista clínico na Clínica Supera Oncologia e no Hospital Regional do Oeste – Chapecó/SC