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SBOC REVIEW

Panorama do câncer ginecológico no Brasil

Resumo do artigo:

De acordo com a última publicação de dados de incidência do Instituto Nacional do Câncer (INCA), os tumores de colo do útero, ovário e corpo uterino foram o terceiro, sétimo e oitavo cânceres mais comuns no Brasil, com 16.590, 6.650 e 6.540 novos casos, respectivamente, esperados em 2020. De acordo com o conhecimento dos autores, esta é a primeira publicação de dados epidemiológicos de cânceres de vulva e vagina no Brasil.

Foram analisados dados de 382.932 mulheres com tumores ginecológicos diagnosticados entre 2000 e 2017 no Brasil. Foram analisadas incidência, morbidade e mortalidade, obtidas a partir de bancos de dados públicos governamentais, de pacientes com diagnóstico de um dos cinco tumores ginecológicos mais comuns - colo do útero, corpo do útero, ovário, vulva e vagina. Entre 2000 e 2015, as taxas de incidência de câncer de colo do útero, ovário e vagina diminuíram, enquanto as taxas de incidência para câncer do corpo do útero e vulva permaneceram relativamente estáveis.

A maioria das pacientes apresentava doença localmente avançada ou avançada no momento do diagnóstico: 60,1% das pacientes com câncer cervical, 31,2% das pacientes com câncer do corpo do útero, 67,2% das pacientes com câncer de ovário, 45,2% das pacientes com câncer de vulva e 67,0% das pacientes com câncer de vagina.

O tempo desde o diagnóstico até o primeiro tratamento foi ≥ 60 dias em 58% das pacientes com câncer cervical, 58,5% daquelas com câncer do corpo do útero, 27% dos casos de câncer de ovário, 55,3% das pacientes com câncer de vulva e 52,7% das pacientes com câncer de vagina. Com exceção de câncer de colo e corpo do útero e vulva, que apresentaram ligeira redução, as taxas de mortalidade permaneceram estáveis entre 2000 e 2017.

O artigo destaca as diferenças regionais em um país de dimensões continentais como o Brasil, com heterogeidades importantes no que se refere ao índice de desenvolvimento e renda e reflete no acesso à prevenção e tratamento do câncer.

 

Panorama of Gynecological Cancer in Brazil. Eduardo Paulino et al. JCO Global Oncology no. 6 (2020) 1617-1630. Published online October 27, 2020. – DOI: 10.1200/GO.20.00099.https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/GO.20.00099.
Panorama do câncer ginecológico no Brasil.

 

Comentário da avaliadora científica:

É escassa a literatura sobre a epidemiologia do câncer ginecológico no Brasil e , para preencher essa lacuna, artigo publicado no JCO Global Oncology descreve a incidência, morbidade e mortalidade de mulheres no Brasil diagnosticadas com tumores ginecológicos entre os anos de 2000 e 2017 no país.

De acordo com os dados apresentados, no consolidado nacional e em comparação com dados internacionais, as pacientes brasileiras têm diagnóstico de doença mais avançada e enfrentam maior atraso entre o diagnóstico e o primeiro tratamento. Apesar dos avanços no rastreamento e no tratamento, a mortalidade por tumores ginecológicos não diminuiu de forma satisfatória no país.

Assim como no Brasil, pouco se sabe sobre a epidemiologia do câncer ginecológico em outros países de baixa e média renda, locais onde as pacientes podem enfrentar muitos obstáculos para receber cuidados preventivos e tratamento para muitos tipos de câncer. Os dados deste estudo podem espelhar a situação de outros países e contribuir para informar o futuro manejo clínico e decisões políticas locais.

 

Avaliadora científica
Dra. Angélica Nogueira Rodrigues
Post Doc em Oncologia MGH/Harvard University
Professora e pesquisadora UFMG
Presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos
Chair Ginecologia Oncológica LACOG
Diretora SBOC