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SBOC REVIEW

Papel do CT-DNA como ferramenta prognóstica e seu impacto na sobrevida global em CPCNP metastático

Resumo do artigo:

O sequenciamento genômico tumoral tem possibilitado estratégias de tratamento e avaliação prognóstica cada vez mais personalizados na Oncologia.

Esse artigo publicado recentemente na Nature Medicine avaliou prospectivamente uma coorte internacional composta por 1.227 pacientes portadores de câncer de pulmão não pequenas células metastático sem mutações drivers acerca do uso do DNA tumoral circulante (ctDNA) como um biomarcador genômico e o seu uso como preditor de prognóstico e sobrevida global nessa população.

Todos os pacientes estudados foram submetidos a avaliações do ctDNA plasmático através da plataforma Resolution Bioscience ctDx Lung e classificados quanto à presença ou não da detecção dos mesmos e suas alterações. Foi observado que pacientes com mais alterações no ctDNA apresentaram menor sobrevida (HR de 2,05; IC 95% de 1,74–2,42; P <  0,001), inclusive naqueles com variações de significado incerto (VUS).

Foi visto também que a presença de alterações conhecidas (ex: TP53, EGFR e KRAS) e TMB alto (≥10 mutações) no material circulante estão associadas a um pior prognóstico quanto comparado à presença das mesmas alterações na amostra tecidual. Nesse estudo, 25% dos pacientes apresentavam alterações divergentes entre ctDNA e tecido tumoral, o que pode determinar mudanças importantes no planejamento terapêutico com prolongamento de sobrevida, uma vez que pode identificar drivers heterogêneos não evidenciados no sequenciamento da amostra tecidual. Essa divergência genômica pode estar relacionada à carga e heterogeneidade tumorais, assim como mecanismos de resistência.

Foi observado também que 23% dos pacientes que foram submetidos à tratamento oncológico guiado pelo ctDNA apresentaram maior sobrevida do que aqueles que foram tratados de forma não direcionada (HR 0,63; IC 95% 0,52-0,76; pM 0,001).

Além disso, o estudo sugere que a presença de ctDNA detectável em pacientes com doença extrapulmonar, idade avançada e uso prévio de imunoterapia ou terapia direcionada também estão associados a um pior prognóstico.

 

 

Jee J, et alOverall survival with circulating tumor DNA-guided therapy in advanced non-small-cell lung cancer. Nat Med. 2022 Nov;28(11):2353-2363. doi: 10.1038/s41591-022-02047-z. Epub 2022 Nov 10. PMID: 36357680.
Papel do CT-DNA como ferramenta prognóstica e seu impacto na sobrevida global em CPCNP metastático.

 

Comentário da avaliadora científica:

A avaliação do ctDNA como marcador prognóstico durante o tratamento oncológico pode oferecer informações valiosas para a prática clínica. Trata-se de uma potencial ferramenta para detecção de recidiva precoce, norteando estratégias de intervenção terapêutica precoce direcionadas, assim como descalonamento terapêutico seguro e estratégias de observação e seguimento clínico naqueles pacientes com risco de recidiva muito baixos.

Embora sejam necessários maiores esclarecimentos acerca do melhor momento, perfil de paciente ideal e determinação de valores de referência quantitativos para melhor interpretação de resultados, é inegável que o uso do ctDNA pode auxiliar sobremaneira a identificação de pacientes que apresentam alto risco para progressão de doença, especialmente naqueles casos cujos parâmetros tradicionais de avaliação como respostas clínica e radiológica podem estar equivocadas. Além da melhor estratificação de risco e resposta ao tratamento, a avaliação do ctDNA pode auxiliar na caracterização de mecanismos de resistência terapêutica e seleção clonal ao demonstrar alterações não detectadas anteriormente através do material tecidual.

Apesar das limitações (a exemplo da heterogeneidade tumoral, especialmente em câncer de pulmão), o uso do ctDNA como método de avaliação genômica tem demonstrado bons resultados no direcionamento de decisões terapêuticas, embora o seu impacto como ferramenta de avaliação de sobrevida global ainda necessite de maturidade de dados.

Assim, os resultados desse estudo devem ser avaliados com cautela. É importante levar em consideração o impacto econômico e a custo-efetividade do método, uma vez que ele ainda é indisponível ou pouco acessível na maioria dos serviços. Apesar do alto custo, o uso racional do método na prática clínica pode resultar em uma maior efetividade advinda do ganho terapêutico com a adequada seleção dos pacientes para terapias direcionadas.

 

Avaliadora científica:

Dra. Aline Barros
Residência Médica em Oncologia Clínica pela Santa Casa da Bahia
Oncologista Clínica – Hospital São Rafael / Rede D’or São Luiz – Salvador – BA
Pesquisadora do Instituto D’or de Pesquisa e Ensino